domingo, abril 25, 2010

Todo o mundo é composto de mudança

Eram unha com carne. No caminho para a escola, sentadas lado a lado nas aulas durante anos, no recreio, nas horas livres, as melhores amigas desde sempre.

Depois, é claro, veio a vida. A adulta, bem entendido, que antes dessa também de vida se tratava. E daí, talvez não fosse.

Será que se pode chamar vida àquele planar inconsciente pelos dias, pelas estações do ano, em que quase nada era exigido, todos nos protegiam dos males do mundo e por isso o pior que nos podia acontecer era sermos enfarinhadas pelo Carnaval. Será que se pode chamar vida a uma existência em que tudo o que interessava era que ao fim-de-semana havia desenhos animados e tortas com creme (e nunca mais, nenhuma terá o sabor que aquelas tinham), e o bife com batatas fritas já vinha cortado e sabia ao amor com que nos era posto no prato. Vida seria, mas numa estranha forma, porque a simplicidade do mundo era o desconhecimento do mundo, e por isso é que, necessariamente, quando se alcança uma coisa perde-se a outra, afinal não é preciso ler a bíblia para ficar a conhecer a história de Adão e Eva, olhe-se para uma criança e lá estará.

Onde isto nos levou, onde nos levará. Falava-se de duas amigas de infância, as melhores do mundo, que à medida que o foram descobrindo, se foram afastando. Esta é afinal a mais banal de todas as histórias, repetidamente acontecida na vida de qualquer um de nós.

Reencontraram-se estas amigas algures no tempo, e no olhar de ambas uma alegria genuína pelo reencontro, mas também uma certa amargura por tudo o que já não existe. Veio à memória o tempo em que tudo era simples, porque quase nada se sabia, apenas as letras das canções das doce, cantadas nos intervalos para toda a escola ouvir. As duas amigas inseparáveis permanecem nesse tempo, nessa vida, não nesta.

Nesta vida, a adulta por assim dizer, resta apenas a conversa de circunstância. Pergunta uma, no que é que trabalhas, e a outra responde, não trabalho, tenho filhos. E pergunta a outra por sua vez, já tens filhos, e a resposta é que não, tenho um trabalho. Nesta vida de gente crescida, estas duas mulheres já não têm nada em comum.

Mas não façamos da vida adulta a grande culpada de todos os males. Existe, ainda assim, a vontade. O livre-arbítrio. Foram este e a falta daquela os verdadeiros responsáveis pelo fim da amizade que, a dado momento, se deixou de cultivar. Não se colhe aquilo que não se semeia.

Quando nos pomos a pensar nisso, vivem-se muitas vidas pela vida fora. E encontram-se muitas pessoas diferentes, por vezes várias dentro da mesma pessoa. Começando em cada um de nós, todo o mundo é composto de mudança.

domingo, abril 18, 2010

A verdadeira revolução tecnológica

... E ao mesmo tempo um importante passo nos caminhos da igualdade: uma engenhoca de fazer ecografias pélvicas que não obrigue as mulheres não grávidas a irem para lá a torcer as pernas e com a bexiga prestes a rebentar.

A sério. Com tanta tecnologia a germinar por aí e ainda ninguém foi capaz de se concentrar neste problema? Hein?...

Havia outra maneira de contornar a questão, era os exames realizarem-se realmente nas horas para que estão marcados, mas isso julgo que já é esperar demasiado do mundo em que vivemos. Venha de lá a tecnologia super avançada que não obrigue a gente a ir para lá aflitinhas.

E a ter que ir a correr para a casa de banho dois minutos antes de finalmente nos chamarem.

E a ter que voltar a emborcar água como se não houvesse amanhã para nova espera interminável que por pouco não resultava num remake do cenário anterior...

A vontade das mulheres em não terem que passar esta provação é tal que chega a gerar mitos urbanos: uma colega contou-me que ouviu falar de uma pessoa que conhece uma médica numa clínica que consegue fazer ecografias a mulheres não grávidas, sem que elas precisem de encher a bexiga.

Pois, pois. Por onde andará essa messias dos exames ginecológicos?...

domingo, abril 04, 2010

Superstar

Sempre que chega a Páscoa lembro-me desta obra de génio. Qual Dan Brown qual carapuça, quem atentar nas letras deste musical encontra muitas das questões em aberto, para quem não se contenta com a versão que a Igreja quer (em muitos momentos da História à força) que seja a única em que acreditemos.

"Everything's Alright" é mais um exemplo. Um Jesus apaixonado e sem ilusões. Um Judas comunista. E uma mulher a fazer o que as mulheres sempre fizeram pelo tempo fora: tentar que o mundo permaneça em equilíbrio. Para que tudo fique bem, quando enfim, na realidade, não está nem vai estar. Porque a vontade das mulheres também não chega.

Try not to get worried. E Boa Páscoa.