terça-feira, fevereiro 22, 2011

Mr. Darcy



Nota: O acesso a esta cena deixou de se poder incorporar, para ver no youtube, vão por aqui: http://www.youtube.com/watch?v=_vhtqVQIBZA

Estou apaixonada por Mr. Darcy. Desde sempre, aliás, já nasci apaixonada por ele. Por este conceito de homem seguro de si próprio até aos limites da arrogância, mas capaz da maior das sensibilidades, ainda que quase sempre dissimulada. Há muitos exemplos de Mr. Darcy por este mundo fora, mas este aqui de cima é para mim o melhor de todos. Melhor ainda que este Mr. Darcy:


Ou este outro Mr. Darcy:



Passo a explicar porque é que me parece que aquele Mr. Darcy do filme "Orgulho e Preconceito", representado por Matthew Macfadyen, é o melhor de todos, e porque é que acho esta cena em particular um verdadeiro espectáculo de representação.

Primeiro que tudo, a voz. Com uma voz daquelas, o tipo podia segredar-me ao ouvido "o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos", ou até uma letra de uma qualquer canção dos GNR, que eu ia para a cama com ele na mesma. É mesmo assim, não há nada mais a dizer.

Mas de regresso a esta cena em particular, independentemente dos atributos físicos (a voz e... e... bem, tudo o resto) o tipo tem aqui um trabalho de actor muito, muito bom. Ok, ela por acaso também não vai mal, mas o ressentimento e outros sentimentos muito negativos levam-me a colocar isso de lado. Ignoremos pois a cabra que teve a oportunidade de uma vida de representar uma cena destas e voltemos ao que interessa. Reparai como ele (Mr. Darcy, o personagem) começa o discurso que tinha previamente decorado ("Miss Elisabeth..."), seguro de que ia despejar tudo de seguida e que iria manter o seu ar altivo de quem comanda tudo. E depois cai o boneco ao segundo 00:43 quando finalmente se confessa: "I love you...". Reparem como de seguida, o "most ardently" é trespassado de emoção, completamente diferente do discurso inicial. E depois, entre o minuto 3:40 e 3:57, quase sem palavras, vejam: tristeza, desilusão; amor; desejo; e finalmente, de novo o orgulho e a altivez. Espectacular. Lindo. Homens, aprendam: é disto que se fazem os sonhos!.. (suspiro).

Pesquisando um pouco mais sobre o amor da minha vida, constato que este Mr. Darcy, pasmem-se as almas, é casado. E fico a perguntar-me: haverá ainda neste mundo algum Mr. Darcy que não o seja?... ;-)

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Meio comida por lobos da alsácia

Estamos em 2052. Tenho 80 anos de idade. Nunca casei, nunca tive filhos. Os pais desapareceram há muito, a irmã já falecida também. Restam dois sobrinhos, com um deles não falo há cerca de 50 anos, outra perdi-lhe o rasto, falámos pela última vez no Natal, ao telefone, está tudo bem, está, e contigo, também, cá vamos. Estou sozinha. E então? Não estamos todos?

A vista já me cansa muito, não consigo estar muito tempo ao computador, onde há muitos anos atrás comunicava para o mundo inteiro que me quisesse ouvir, e que eu ouvia sempre que queria escutar. Estou sempre a enganar-me a digitar as letras e isso irrita-me, eu que dantes conseguia que os dedos corressem velozes e certeiros pelo teclado, à mesma velocidade do pensamento. A internet é demasiado rápida e já me cansa tanta informação.

Mas continuo amiga das tecnologias. Conforme fui envelhecendo tratei de pôr as facturas todas a descontar directamente na conta bancária. A pensão vai para lá todos os meses, também. A casa ficou paga no ano em que comemorei 74 anos de idade, grande conquista, nesse ano fiz uma viagem à Escócia. Sozinha.

Agora já não viajo. Estou em casa. Resisti até ao limite à ida para aquele sítio a que chamam de "lar", um dia destes irei, tenho dito sempre, mas nunca fui. Não conheço os meus vizinhos. Eles também não me conhecem a mim.

Daqui a uns anos, daqui a uns dias, horas, minutos, algo irá acontecer-me e serei mais uma versão patética dos piores receios da Bridget Jones, que temia ser encontrada morta no chão do apartamento, meio comida por lobos da alsácia. Presunçosa rapariga! Até na morte se achava uma grande coisa, porque haveriam de ser lobos da alsácia, e não vulgares cães de rua?

A mim, quando me acontecer isso, nem cães para me virem comer. Não tenho bichos. Melhor assim. A mim, quando me acontecer, continuarei a pagar as minhas dívidas a tempo e horas, muito tempo poderá passar até que alguém, se é que alguém, dê pela minha falta. Até que finalmente alguém diga, olha, está morta, e então sim, passar realmente e estar. Porque até que alguém o diga não é claro que verdadeiramente o esteja.

Estarei morta? Se calhar já estou morta. E então? Não estaremos todos?