domingo, maio 27, 2007

Paciência

Ontem trabalhei onze horas seguidas, apareceu-me o período, e apesar da barriga a doer, lá fui levando o dia cantando e rindo. Quando me deitei, tarde e a más horas, tive que recorrer ao analgésico para conseguir descansar um pouco, hoje acordei com a mais ou menos habitual dor de cabeça do "day after", e a pensar que tenho mesmo que ir ligar o aspirador, porque ao menos isso tenho que fazer pela minha casa, mas estou com tanta vontadinha, que em vez disso estou aqui, agarrada ao teclado.

E hoje ao acordar, entrou-me pelos ouvidos esta canção, na voz da Mafalda Veiga e do João Pedro Pais:

Paciência

"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não... a vida não pára)"
Composição: Lenine e Dudu Falcão

E eu pensei: apropriado.

Agora é que tem mesmo que ser. Vou aspirar.

sábado, maio 26, 2007

Inevitabilidade

Não é caso de grande espanto, mas é sem dúvida um acontecimento importante.

Que eu até tenho alguma sorte nisto, primeiro porque o meu cabelo é castanho claro, no pino do Verão até aparecem umas madeixas loiras aqui e ali. E depois, acho que por predisposição genética, que lá em casa toda a família demorou a tornar-se grisalha.

Mas ontem, vi-o pela primeira vez. Ali está ele: inexorável. Com todo o ar de quem veio para ficar. De quem já sabe muito, até mais do que eu. O meu primeiro cabelo branco.

quarta-feira, maio 23, 2007

"Service"

Estes carros novos de agora são mesmo uma maravilha. O meu carro tão amado, o qual nunca deveria ter decidido comprar, porque já o comprei no limite das minhas posses e a pensar que isto nos anos seguintes iria melhorar, e como só tem vindo a piorar, que cada vez ganho menos dinheiro e tenho mais despesas, e o raio do veículo consome que se farta e ainda me faltam 19 prestações (arghhh!!!), dizia eu, o meu carro adorado é tão esperto, mas tão esperto, que descobri recentemente, pede-me para ir à revisão!

Coisa mai linda. É tão perfeitinho. Desde há uns dias para cá, quando ligo a ignição, as letras do conta quilómetros desaparecem e fica uma mensagem a catrapiscar, dizendo: "service". Isto a mim enternece-me, que querem?

Agora, o próximo passo de gigante na evolução da tecnologia automóvel é uma pessoa poder mandar uma mensagem lá para dentro do bicho, qualquer coisa do tipo: "Não tenho um tostão. Para te mandar para o "service" ainda tens que esperar pelo subsídio de férias".

sábado, maio 19, 2007

Candida Albicans, Update

Ou seja, a todos e a todas a quem este problema não diz nada, ainda bem para vocês, podem passar ao blog seguinte e voltar noutro dia qualquer. Para as restantes, e os restantes, que também os há, aqui fica uma actualização do que tem sido a minha relação com esta doença nos últimos tempos.

A minha Candida está, desde Março, controlada. Passei um fase muito má em Janeiro, quando celebrei o 1.º aniversário da dita. Nessa altura voltei à Maternidade Alfredo da Costa, e a seguir fui ao meu médico, que me pôs a anti-depressivos, tal era o estado miserável em que eu me encontrava. Tenho vindo a reduzir, e vou largá-los definitivamente no mês que vem.

Depois de despistar todas as possibilidades e mais alguma de eu ter algum outro problema de saúde que provocasse esta situação (tiróide ou outro distúrbio hormonal, infecção por bactéria, alergia), estou hoje em dia a encarar este problema como uma doença crónica que eu contraí. Daí não dizer que estou curada, porque não estou, mas apenas que consegui arranjar maneira de manter isto controlado. Um controlo muito instável, aliás. Basta comer alguma coisa mais calórica, ingerir menos líquidos, trabalhar mais intensamente, enervar-me, chego ao fim do dia e já estou com mais corrimento, sinal de que a bicha aproveitou logo uma qualquer fraqueza minha para se soltar das rédeas em que está presa.

Actualmente o que me preocupa é a dependência dos medicamentos para andar bem. Tenho a sentença lida para tomar Fluconazol uma vez por semana, num período que será de seis meses a um ano. Pode-me dar cabo do fígado? Pois pode. Fui fazer análises recentemente, estou à espera do resultado, para ir monitorizando a minha reacção a uma toma tão regular deste fármaco, e espero que o fígado se vá aguentando. De resto, tenho muitas dúvidas quanto à eficácia disto. Umas vezes acho que me faz bem, outras vezes tenho a impressão que até fico com mais corrimento dois ou três dias depois de o ter tomado, mas também não tenho uma certeza a cem por cento, e por via das dúvidas, vou tomando. Volto à Maternidade em Agosto, logo se verá.

Estou bastante satisfeita com a homeopatia, a minha conta bancária é que fica gravemente doente de cada vez que vou a uma nova consulta. Senti grandes melhoras com o tratamento que o homeopata me prescreveu, e o único problema é que umas semanas depois de o terminar... tive uma recaída. Já vou na segunda dose de um tratamento, que se baseia em dois princípios: fortalecer o meu sistema imunitário e controlar a acidez dos medicamentos que ingiro. Recordo que a Candida não sobrevive em meio alcalino. Logo, se a acidez dos alimentos for reduzida, a bicha fica sem ter do que comer. Isto para mim continua a fazer sentido, independentemente do que o senhor me veja no olho ou não. Ele na altura receitou-me uns óvulos que eu comprei mas não coloquei (ainda), porque não quis continuar a castigar a minha flora vaginal com substâncias, que eu às tantas já não tinha noção do que é que ajudava ou desajudava. De resto, o tratamento que faço é este: Prelief; Stauvita; Sanukehl Cand D6; Caprinol.

Mantenho as idas ao Alergologista. A vacina que comecei em Novembro do ano passado, ainda não chegou à dose mais concentrada, que supostamente começará a ser eficaz. Vou lá de quinze em quinze dias levar uma picadela, de cada uma das vezes a dose vai sendo maior, e no que a isto diz respeito, continuo a pagar para ver.

Bebo dois litros de água por dia. Quando me desleixo, ressinto-me. Não posso abusar dos doces, chocolate então, o melhor é nem o cheirar. Como uma laranja quando o rei faz anos, o leite está praticamente erradicado, é ainda mais raro do que as laranjas, sempre que bebo leite é tiro e queda o acentuar do corrimento. Passei de três cafés para um café diário. Cuecas de algodão, arejar, lavagem íntima sempre com água fria.

O Geliofil, que foi aqui aconselhado por um médico generoso a quem uma vez mais agradeço a simpatia e a atenção, tornou-se num companheiro regular. No final de cada período menstrual, três dias de Geliofil. Só tenho a dizer maravilhas. Disso e do Alkagin. Uso a loção de higiene íntima e o gel de aplicação vulvar. Já vi que a fase mais complicada é sempre a partir dos vinte dias de ciclo, e até aparecer a menstruação. Nessa altura a secura acentua-se, e a aplicação do Alkagin em gel é óptimo, sobretudo antes de deitar.

E agora poderão perguntar-me, mas assim com isso tudo, como é que sabes o que verdadeiramente te está a fazer bem? A resposta é: não sei. Nem sei se é apenas uma coisa, ou precisamente estas coisas todas em conjunto que me têm ajudado a manter algum equilíbrio. O que eu sei é que voltei a uma vida sexual regular, e isso parecendo que não, contribui e muito para a minha sanidade mental. Uma das coisas que me empurrou para a depressão foi precisamente essa incapacidade para o sexo, que era física mas também de uma total ausência de líbido. Isso fazia-me sentir um lixo enquanto mulher, e estive muito perto de me afastar do meu companheiro por causa disto. Felizmente os tempos actuais são bem melhores, que se vier por aí mais uma fase má, pelo menos já há memória de uma fase boa pelo meio.

Nunca esperei, quando falei disto pela primeira vez em Setembro do ano passado, que estivesse ainda hoje a ver aumentar a caixa de comentários deste post. Já vai em mais de 200, e há até quem me sugira a criação de um Fórum sobre este assunto. São muitas as mulheres e homens que se aproximaram de mim por conta desta doença, que comentaram, enviaram e-mails, procuraram, de alguma forma, conversar comigo sobre este assunto. Fico a imaginar quantos têm passado por aqui com o mesmo problema e que não chegaram a dizer nada.

Quanto aos que se chegam à frente, tenho procurado estar disponível para todos, embora sublinhe que estou longe de ser uma especialista na matéria. Agora, estou absolutamente convencida que este não é um problema de minorias. É uma doença grave, que provoca danos físicos e psicológicos profundos, e está em crescimento. O médico que achar que isto é coisa simples de resolver, até pode ser um bom médico, mas não tem condições de ajudar quem esteja com uma infecção recorrente de Candida Albicans.

E no entanto, a única maneira possível de lidar com esta doença é, precisamente, indo ao médico. Se não gostarem, se acharem que são mal acompanhadas, troquem. Vão a outro, e a outro, e a outro, até encontrarem aquele que vos dê a atenção merecida, e nessa altura, agarrem-se a ele com unhas e dentes, se for preciso. Ginecologista, alergologista, dermatologista, endocrinologista, homeopata, psicólogo, psiquiatra, o que for. O único caminho que eu posso sugerir é este: conhecer a fundo o próprio corpo, perceber que problemas de saúde poderão existir em concomitância com a Candida, porque se for um problema hormonal o tratamento é um, se for uma questão alérgica será com certeza outro, e por aí fora. Depois, por tentativa e erro, encontrar os medicamentos, ou produtos, que em cada caso possam ajudar a encontrar o tal equilíbrio. Identificar os hábitos, alimentares ou outros, que contribuem para melhorar a qualidade de vida, e seguir por esse caminho. Não vale a pena pensar em termos de cura. Isto é uma doença crónica, o melhor que se pode alcançar é o seu controle.

E o mais importante de tudo (que serve também para me lembrar a mim, no caso de um dia destes resvalar outra vez para o abismo): Não deixem de gostar de si próprias por causa disto. Perder a auto-estima é uma derrota que não podemos conceder a este fungo, que é desprezível ao ponto de se alimentar com a nossa infelicidade.

(Pode parecer outra vez um grande testamento em torno do mesmo assunto, mas as dezenas de pessoas que aqui vêm parar todos os dias, motivadas pela angústia que este problema produz, merecem-me todo o respeito e solidariedade. A única coisa que posso fazer por elas é dar o meu testemunho, por isso aqui está ele, uma vez mais.)

sábado, maio 12, 2007

Memorial do Convento


Aqui esta grande doente de Saramago foi ver "Memorial do Convento", que está em cena no Palácio Nacional de Mafra até 30 de Junho.

Para já, acho que qualquer companhia de teatro que pônha pés ao caminho para adaptar ao Teatro um romance do Saramago, agarram-se a uma empreitada gigantesca, porque nunca é com duas ou três penadas que se adaptam textos com aquela profundidade. Do meu ponto de vista, merecem louvor desde logo, pela coragem.

Fui ver em tempos, ao Teatro da Trindade, a adaptação do "Ensaio sobre a Cegueira", e fiquei pasmada com a criatividade cénica que foi criada para aquele espectáculo, assim como com a capacidade que tiveram na altura de resumir o texto todo, mas mesmo todo.

Neste "Memorial do Convento", exalto sobretudo o trabalho dos actores. Especialmente do Flávio Tomé, que compõe um Padre Bartolomeu de Gusmão de tal forma marcante, que acho que vai passar a ficar a imagem do seu personagem na minha cabeça de todas as vezes que voltar àquele texto. É o maior elogio que lhe posso fazer. A evolução do personagem ao longo da peça é excelente. O espectáculo no seu todo, é muitíssimo bom.

De resto, tudo assenta no texto, que é aquela obra de genialidade do princípio ao fim. E quando as palavras dos actores citavam o livro, fazia-se um eco qualquer dentro de mim, que não sei porquê, as palavras que percorrem aquele romance, os acontecimentos reais e irreais que por lá são relatados, tudo aquilo me comove de uma maneira que vai muito além de qualquer fruição literária.

As primeiras lágrimas caíram-me quando se ouviu em "off" a mãe de Blimunda. A partir daí foi uma choradeira constante, quando veio o sermão do Padre Bartolomeu, já à beira da loucura, questionando-se se são os homens que estão em Deus, ou se é Deus que está nos homens, e que seja como for, estar Deus nos homens depende sempre da vontade destes últimos, e que nesse caso, o homem é mais que Deus, porque não há Deus sem a vontade dos homens. E no final, quando a Blimunda vai entre os espectadores a perguntar se alguém viu o Baltasar, que há nove anos que o procura, porque por mais vezes que leia a história, que a oiça contar, de todas as vezes é como se fosse a primeira, nunca deixa de me doer o que o destino tem guardado para Baltasar e Blimunda.

"Sabes tu o que é ser homem e mulher? Ninguém sabe."

"É a vontade dos homens que segura as estrelas. É a vontade dos homens que Deus respira"

Hoje vai-me custar a adormecer...

quarta-feira, maio 09, 2007

Paradoxo

Ninguém é dono de ninguém.

Cada um de nós é livre para decidir,
a quem deseja pertencer.

domingo, maio 06, 2007

Uma imperial e uma bifana, ó fáxavor!

Hoje tive um Domingo diferente. Ando metida numa associação de trabalhadores, aqui do meu estaminé profissional, e como a coisa anda a ser criada de raiz, vamos fazendo de tudo um pouco para angariar receitas. E se nos tempos da Escola Secundária, a malta pedia à mãe para fazer bolos, que depois levávamos para o bar da Escola, a ver se ganhávamos dinheiro para a viagem de finalistas, hoje em dia, pede-se uma roulote à Sagres e vamos vender imperiais e bifanas.

Foi muito bom. Para mim, que sou a senhora doutora, dá-me muito gozo juntar-me a outros colegas, especialmente àqueles que ficam sem saber muito bem como hão-de lidar comigo nestas circunstâncias. Houve um colega em particular, que me tratou por "dona Blimunda" até ao momento em que levou com um saco de amendoins na cabeça!

Tomei hoje consciência de como o meu ambiente de trabalho é, actualmente, demasiado artificial. Muita mulher junta, muito salto em bico, muita permanente e diferentes tons de loiro-farmácia. Formalismos, narizes empinados, cinismos, hipocrisias, mas tudo bem maquilhado, com os melhores tons de base e batons de boa qualidade. No fundo, é outro teatro, este em que trabalho diariamente. Saber nadar nestas águas e manter a cabeça à superfície também exige perícia e não é para todos, atenção.

Mas pelo menos por hoje, soube mesmo bem o tempero daquelas bifanas, sem quaisquer pretensões a fazerem-se passar por "Bifinhos de Porco Recheados com Míscaros e Mostarda Antiga". Acompanhadas pela boa disposição de quem está a correr por gosto. Ah! E por umas imperiais muito bem tiradinhas, que fiquei hoje grande profissional da coisa!...