segunda-feira, dezembro 31, 2007

2008

Eis os votos que me vieram à cabeça, enquanto pensava em mim e naqueles que amo:

Saúde acima de tudo, e não, não é um lugar comum. Aprendi nos últimos dois anos a valorizá-la mais depois de a ver a fugir-me, e a fugir de quem me está mais próximo.

Força, coragem, determinação, inspiração, para que os novos caminhos a trilhar permitam que nos transformemos naquilo que seremos, continuando porém a sermos iguais a nós próprios.

Alegrias, sucessos, risos, que a cada esforço honesto para ser mais e para mais ser, corresponda a legítima compensação.

Faço votos de sorrisos cúmplices. De beijos na boca cheios de vontade. De gargalhadas à volta de assuntos sem sentido nenhum. Do prazer de conversar sobre as coisas importantes.

Peço pelas amizades sinceras, ou seja, aquelas que não são incondicionais. Pelos laços mais profundos que juntam as pessoas que se amam, sejam pais, mães, irmãos, amantes, primos afastados ou apenas almas que se (re)conhecem como seus pares.

Que em 2008 não nos faltem os afectos. E a disposição para encher o peito de ar fresco todas as manhãs.

Ou talvez se dê o caso desta malta aqui em baixo conseguir dizer isto tudo e muito mais com menos palavreado e aquele arrebatamento que faz com que a vida valha a pena:






Um 2008 com amor. E sem lugares-comuns.

domingo, dezembro 30, 2007

Tertúlia de Mentirosos #2

"O demónio sofredor

Uma história sem origem conhecida, mas que se encontra um pouco por toda a parte, diz que um demónio encontrou outro demónio a rebolar-se pelo chão, gritando e chorando, como tomado por uma dor incomparável.

- De que sofres? - perguntou o primeiro demónio.

Entre dois soluços, o outro respondeu:

- Tenho em mim um anjo. E ele atormenta-me."
in Tertúlia de Mentirosos
de Jean-Claude Carrière
Editorial Teorema

sábado, dezembro 22, 2007

O Pai Natal e o Menino Jesus

"O Pai Natal também te traz prendas no Natal?", perguntou ele em tempos. E uma pessoa fica assim sem saber o que fazer. Por um lado, há que ser sincera com as crianças e ajudá-las a desenvolverem um espírito crítico, que lhes vai fazer uma falta desgraçada pela vida fora. Por outro, também há aquele sentimento piedoso que diz, não destruas já o mito do Pai Natal ao menino, que ainda só tem sete anos, senão ainda passas tu a ser a personificação da bruxa má da Branca de Neve, e destróis um mito para criar outro. Desenrasquei a coisa dizendo, não que o Pai Natal não existe, mas apenas que nunca o tinha visto. E que na verdade, a mim quem me dava prendas no Natal era a minha mãe, o meu pai, a minha irmã, e por aí a fora, se há Pai Natal não sei que nunca o vi. Digamos que assumi a minha postura agnóstica, não em relação a Deus, mas em relação ao Pai Natal. O garoto lá decidiu não prolongar a conversa, para meu grande alívio, antes que aquilo ainda me deixasse bem enterrada.

Hoje virou-se para o presépio. Ah e tal, o presépio é onde nasceu o Jesus, não é? Bom, respondo eu como quem pisa vidros descalça, o presépio mostra como era o lugar onde nasceu Jesus, e mostra também quem lá estava (grande auto-domínio, frase inteira sem nenhum "dizem que" ou "decidiram que era assim" pelo meio). O burro, responde ele muito depressa, e a vaca, e digo eu, sim, o Jesus nasceu num estábulo, por isso é que lá estavam esses animais todos. Silêncio. A seguir voltou à carga: e o pai dele era o José. Antes que me conseguisse conter dei comigo a responder, eu estou firmemente convencida disso. A minha resposta foi entendida como uma confirmação pura e simples, e mais uma vez ficámos assim.

Mas aquela necessidade de esclarecer a paternidade do menino Jesus, tenho esperança que já sejam sinais de alguma consciência crítica!...

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Canção de Natal (e ai de quem disser o contrário)

"Dá um mergulho no mar
Dá um mergulho sem olhar p'ra trás
Dá um salto no ar
Só para veres do que és capaz

Arrisca mais uma vez
Nem que seja só por arriscar
Nunca se tem muito a perder
Dá um mergulho no mar

Há tantas coisas por fazer
E tantas por inventar
Dá um mergulho no mar

E tu vais ver
Tu vais jogar
Tu vais perder
Tu vais tentar
Mais uma vez
E tu vais ver
E tu vais rir
Tu vais ganhar

Tens pouco tempo para ser só teu
Não esperes nem deixes passar
Essa vontade que quer
Dar um mergulho no mar

Arrisca mais uma vez
Nem que seja só por arriscar
Nunca se tem muito a perder
Dá um mergulho no mar

Há tantas coisas por fazer
E tantas por inventar
Dá um mergulho no mar

E tu vais ver
Tu vais jogar
Tu vais perder
Tu vais tentar
Mais uma vez
Tu vais jogar
E tu vais ver
E tu vais gostar
Tu vais chorar
E tu vais rir
Dá um mergulho no mar

Há-de chegar o dia
Em que vais querer parar
Até chegar esse dia
Quero-te ver a saltar

E tu vais ver
Tu vais jogar
Tu vais perder
Tu vais tentar
Mais uma vez
Tu vais jogar
E tu vais ver
E tu vais gostar
Tu vais chorar
E tu vais rir
Dá um mergulho no mar"
Xutos e Pontapés

É a nossa canção para esta época, meu querido. Feliz Natal.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Teoria da relatividade

Passeavam ao meio da tarde, de braço dado, os passos e os espíritos alinhados, aproveitando a última meia-hora de sol daquele dia. À sua frente o esqueleto de um projecto que não vingou, rodeado de um estaleiro que, ao que tudo indica, se instalou para destruir e não para construir. E dizia ele, mais vale deitarem abaixo de uma vez, a Expo já foi há quase dez anos, se não vingou, que venha algo novo.

Realmente, dizia ela olhando para o alto da torre, que coisa estranha é pensar que já passaram quase dez anos sobre a Expo! E pensava ainda, que coisa estranha é, por vezes, pensar em tudo o que passa e se passa ao longo de dez anos nas nossas vidas.

A par destas conjecturas, pressentiu mais do que viu uns olhos postos nela, e foi então que reconheceu alguém bem seu conhecido, passando de bicicleta.

Sorriu perante a ironia dos factos e dos pensamentos. Não era na torre que estava a mais visível marca da passagem do tempo. A grande marca estava afinal no passeio a pé, no braço dado, e no outro braço que saudou sem mágoas o homem da bicicleta, deixando-o levar consigo o tempo que já passou.

sábado, dezembro 08, 2007

Tertúlia de Mentirosos

"A mulher à beira do rio

(...)

Dois jovens monges zen fizeram juntos o juramento de nunca tocar numa mulher. Tratava-se de uma decisão ardente e total a que durante muito tempo ambos se mostraram fiéis.

Um dia, quando viajavam, preparavam-se para atravessar o leito de um rio em cheia quando viram aparecer uma jovem mulher de rara beleza que lhes pediu ajuda para transpor as águas impetuosas. Tinha grande necessidade de atravessar aquele rio, explicou, para ir socorrer o seu pai doente. Sozinha e frágil, não podia arriscar.

O primeiro monge, sem sequer escutar as palavras da mulher, avançou para o rio e atravessou-o. O segundo monge tomou a mulher nos braços e, mais lentamente, mais dificilmente, com a ajuda de uma corda, levou-a para a outra margem.

A jovem agradeceu e afastou-se rapidamente. Os dois monges retomaram o seu caminho. Durante mais de uma hora mantiveram-se em silêncio. A certa altura o primeiro monge, que já não podia continuar calado, irrompeu em cólera, em censuras e disse ao seu companheiro:

- Como pudeste quebrar o teu juramento? A tua jura sagrada? O juramento que pronunciámos juntos? Não sentes vergonha? Como pudeste tomar aquela mulher nos teus braços?

- Olha - diz o outro -, (...) ainda a trazes tu?"

in Tertúlia de Mentirosos
de Jean-Claude Carrière
Editorial Teorema

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Convenhamos

O anúncio até está engraçado, e eu percebo a ideia e tal.
Mas convenhamos. Imaginar que uma mulher se aproxima de uma máquina de café, tem um homem à frente dela, ele vira-se e é o George Clooney. E ela continua apenas interessada em tirar um cafezinho.

Vamos pensar nisto só por um bocadinho.

Realmente. Estes publicitários por vezes ultrapassam os limites do razoável.

terça-feira, dezembro 04, 2007

São quatro

Mas apenas a três deles já lhes consegui aprender a personalidade. O outro continua fugidio, mais solitário, nem sei ainda se é gato ou gata.


Nenhum deles parece gato de rua, de tão meigos que são. Há um então que é uma graça, porque ainda tem reminiscências de gatinho. Corre atrás de qualquer coisa que mexa, é um destemido, vem para o colo de modo próprio, e já esteve à beira de me entrar em casa.

A outra é a fêmea do grupo, e fazendo jus a isso, quem sabe se também com autoridades de mãe, lidera. Faladora, faz questão de chamar sempre que passo por ela, outra característica tipicamente feminina, que aos outros ainda não lhes conheço um miau.

E depois há o tímido. O que quer e não quer. O que me vira as costas quando o chamo, e faz de conta que não ouve. O que abala a fugir quando vê a mão erguer-se, quase a tocar-lhe a cabeça, para fazer festas. Que se senta a um metro de onde eu me sento mas não arreda pé, a fingir para ele próprio que não quer saber de mim para nada. Que dá imediatamente um passo para trás quando vê os companheiros a chegarem-se à frente e fica só a olhar, tal e qual como tantos de nós fazemos pela vida fora.

É a ele que eu vejo com mais frequência, porque ultimamente passa muito tempo próximo da minha janela. Quando o chamo começa a rebolar no chão de felicidade, vai se aproximando sempre a rebolar, deita-se no parapeito da janela com as patas para o ar, mas sempre a uma distância tal que não me permite chegar-lhe. Ele próprio estica as patas até ao limite e ficamos ali os dois, suspensos neste toque que não chega a ser, eu porque não consigo lá chegar mesmo querendo, ele porque não consegue ainda querer o suficiente.

No outro dia conseguimos, os dois. Ao fim de um tempo infinito à janela, ao frio (será por isso esta dorzita de garganta? Mas que se lixe, para os gatos nunca me faltou paciência), lá o consegui atrair a mim à conta de brincadeira, numa altura em que os companheiros andavam por outras paragens. Aceitou as festas até ao ponto de lhas fazer na barriga, o local mais sensível para os bichanos, e que eles não consentem a qualquer um. Totalmente rendido, colocou uma pata no meu braço, como quem quer retribuir os afagos, e olhou-me de uma forma tão intensa que senti sinceramente o meu carinho a ser correspondido. Foram apenas alguns segundos de silêncio e magia. Mas encheram-me o coração de coisas positivas.

A seguir lembrou-se que era tímido, deu um salto e foi-se embora, porque afinal, o senhor gato precisa de continuar a ser fiel a si próprio e à sua reputação!...

quinta-feira, novembro 29, 2007

Como é que se iPod evitar isto?

Haverá alguma razão plausível para uns tipos da Citibank me mandarem 62, repito, 62 e-mails todos seguidos a dizer "Este Natal temos um iPod para si"?

Eliminei-os a todos sem sequer querer saber o que fiz eu para merecer 62 ofertas de um iPod este Natal. Mais concretamente, concluí que não os iPod aturar...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Pois a mim agrada-me

Este Scolari que me consegue sempre inspirar admiração.

Este Scolari na sua forma genuína de ser, que já atingiu aquele patamar em que não tem que fazer de conta que algo o chateia, quando o chateia.

Este Scolari que ferve em pouca água, mas que tem tomates para se chegar à frente e admitir os próprios erros.

Este Scolari que estabelece objectivos gerais e os atinge, e depois não está para aturar comentários corrosivos disfarçados de jornalismos responsáveis.

Este Scolari que é frontal, autêntico, competente, falível, sofredor, empenhado.

Acho que ele é mesmo muito bom. Talvez por isso ande aí tanto fazedor de opinião pública a desejar de o ver pelas costas. É esta nossa desgraçada mediocridade, que sempre prefere um fracasso do qual todos nos possamos queixar, a um sucesso que tenha o sabor agridoce do trabalho árduo.

Não me espantarei se o homem um dia destes ficar tão farto de (n)os aturar, que pense seriamente em abandonar algo mais do que apenas a sala de imprensa. Será uma pena. Mas ao menos nessa altura, haverá muitas horas de emissão nas televisões para os comentadores comentarem até rebentarem.

sábado, novembro 17, 2007

sexta-feira, novembro 16, 2007

Sobre a inveja

(Abençoadas as amigas, que nos dão inspiração para escrever quando ela teima em não aparecer.)

Sobre a inveja. Também eu já tenho reflectido um bocado sobre esta questão, e acho que este é, possivelmente, o sentimento mais negativo que existe. Muito pior que o ódio, pior até que o rancor (se bem que também este é muito corrosivo, porque nos deixa amarrados a más lembranças e não nos deixa seguir em frente). Estes sentimentos, pelo menos, têm alguma motivação na sua base.

Para mim não é bem inveja essa coisa de olhar para o lado e ver outra pessoa ter, ou conquistar algo que também desejamos para nós próprios. Porque esse olhar em si mesmo não deseja mal à pessoa que o conseguiu, simplesmente nos confronta com as nossas próprias realidades, e pode até servir-nos de bom exemplo, gerando novos desafios que nos levem a firmar objectivos, ou em última análise, a compreender as nossas limitações.

A inveja, não. Ao contrário do que possa parecer, a inveja não tem nenhum objecto ou objectivo, e por isso mesmo é que não passa de uma coisa oca, repleta apenas de más vibrações e eternas frustações. Desengane-se quem pense que o invejoso alguma vez fica contente quando alcança aquilo que inveja. Isso nunca acontece. Ele apenas quer acreditar que isso será suficiente para apaziguar a sua oca existência. Na verdade, o que o invejoso gostava, era de ter tudo o que os outros têm, que os outros perdessem aquilo que têm e isso lhes causasse sofrimento, e que ele pudesse estar a assistir a tudo. E ainda assim, ainda assim, continuaria a invejar o facto de não ter a vida dessas pessoas, sofrimento incluído, de não ser outra pessoa qualquer, que não ele próprio.

Em boa verdade, a inveja não está relacionada com o ter, mas sim com o ser, e mesmo que o pretenso objecto da inveja seja alcançado, o espírito permanece na obscuridade, porque aquilo que o invejoso consegue nunca lhe permite preencher esse imenso buraco-negro que é o seu não-ser.

Como é que isto se combate? Acho que mantendo a maior distância possível dessas pessoas. E quando não se consegue, com a indiferença. Ripostar apenas no caso de nos tentarem fazer mal. Porque de resto, e na maior parte dos casos, são as maiores vítimas delas próprias, que deve ser muito triste olhar para o espelho e ver apenas o reflexo dos outros, sem ser capaz de olhar de frente para si mesmo, e enfrentar aquilo (aquele) que é.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Post revisitado

Mais ou menos dois meses depois da criação deste blog publiquei isto, e hoje apeteceu-me trazê-lo de novo à ribalta. Na altura não tinha a média diária de visitantes que tenho hoje, e mesmo que venham os dedos em riste do costume chamar-me de cabra presunçosa, acho mesmo que o texto merece ser lido por mais gente. Aqui está ele:

Emancipação

Quando casou ia virgem.
Hoje em dia mantém apenas uma união sem factos, e um dia-a-dia feito a pensar nos outros. Vive num lugar que entende a infelicidade e a abnegação como coisa natural e própria da condição feminina. Aos olhos dos que a rodeiam tem um bom marido. Tem trabalhado toda a vida pela família e vem sempre dormir a casa.

Não interessa que regresse sempre bêbado. Não interessa que não a acompanhe em nada. Que a envergonhe. Não interessa. E a bem da verdade, também já nada disso lhe interessa, essa ferida há muito tempo que secou. Muito gostava ela de o ver pelas costas. Mas ele ali está, estendido no sofá da sala da casa que o pai e a mãe lhe deram. Na casa que é dela, mas que ele não deixa, se calhar porque não tem para onde ir.

As filhas estão criadas, bem casadas, deseja-lhes melhor sorte que a sua. Em momentos de desespero chegou a dizer que, no dia em que visse as duas fora de casa, sairia ela de seguida. Mas a casa é dela. A mãe ainda lá mora. E ela ainda não teve coragem de bater com a porta.

Está apaixonada. Um amor duplamente pecaminoso, que os compadres são o mesmo que família. Com mais de quarenta anos de idade, descobriu-se em prazeres que o marido nunca lhe soube proporcionar, na pressa de alcançar o seu próprio. Descobriu o afecto. O encanto. O cuidado. Este homem está disposto a tudo por ela, tudo. Excepto esperar para sempre.

A vida não pára. Não decidir é uma decisão também, e não há decisões sem consequências. Ela sabe. Sabe que se sair por aquela porta terá todo o seu mundo a apontar-lhe o dedo, começando pela mãe, com quem provavelmente não trocará mais nenhuma palavra até ao fim da vida. E também sabe que se ficar onde está, um dia destes não há ninguém à sua espera do lado de fora.

O cão veio cheirá-la, estranhando vê-la imóvel por tanto tempo. Levantou-se, são horas de fazer o jantar. Ouviu o vento lá fora a soprar.

Com a força do vento, o portão da rua não parava de bater.

terça-feira, novembro 06, 2007

"Seriously"


Nestes últimos tempos de grandes mudanças (nem todas boas, porém todas determinantes), tenho encontrado algum escape mental na FoxLive todas as noites, com a "Anatomia de Grey". Fui ganhando gosto pela série, e sobretudo pelas personagens, cada uma delas muito interessante, e na sua maioria muitíssimo bem interpretadas.
Acho que apenas uma coisa não faz falta nenhuma à série. A própria Meredith Grey. A sério. Do meu ponto de vista, aquela é a personagem mais apagada de todas, e a própria actriz que lhe dá vida, fica muito aquém das interpretações brilhantes de outros colegas, ditos, secundários.
Nem sei se alguma vez me prendi a uma série de televisão em que a coisa que eu menos apreciasse fosse a protagonista. Mas por mim, acho que a série ganhava bastante se passasse a chamar-se "Anatomia sem Grey". A sério.

Para ti

"O fim de tudo é o recomeço,
e olha eu bem que mereço
tratar bem do melhor em mim..."
Sérgio Godinho

quinta-feira, novembro 01, 2007

Pão por Deus?!...

Hoje bateram-me à porta duas jovens criaturas a pedirem o pão por Deus. Que é um conceito do mais hipócrita que pode haver, primeiro, porque ninguém está realmente à espera de receber pão, e depois, porque como em tudo na vida, quando se pede por Deus pede-se na verdade por nós próprios, e mais valia que assim fosse dito alto e bom som, "pão por mim", ou melhor ainda, "qualquer coisa doce para eu me refastelar a comer, neste dia em que não tenho mais nadinha que fazer".

Mal por mal, acho mais honesto o "doçuras ou travessuras" importado dos Americanos, se bem que, também neste caso, existe alguma perfídia, que isto de se ter que pagar para não nos chatearem soa-me vagamente a chantagem, mas devo ser eu que não estou imbuída do espírito da coisa.

Adiante. O certo é que hoje em dia este hábito é cada vez mais raro, e qual não é o meu espanto perante o toque da campainha e um apelo ao pão por Deus. Mais bizarro, que fossem dois rapazes com os seus treze, catorze anos, com alguma profusão de acne juvenil, vestidos de preto e com umas correntezitas ao pescoço (Punk? Dread? Gótico? Metal? You name it...), e com o triste saquinho de plástico pela mão e a bela frase, "pão por Deus".

Pareceu-me um quadro bastante surrealista, aquele. Quando este tipo de coisas me acontece, chego mesmo a ficar na dúvida se realmente aconteceram, ou se foram mero produto da minha imaginação. Só tenho a certeza que aconteceram mesmo porque eu não tenho uma imaginação assim tão fértil para imaginar adolescentes que mais valia andarem a já a tentar engatar umas garotas, munidos de saco de plástico a andarem de porta em porta reclamando "pão por Deus".

A minha religião nem deveria permitir embarcar neste tipo de coisas. Mas simplesmente não me apeteceu ser má para eles, fiquei com medo de os traumatizar, e resolvi cooperar. Só que não se safaram nada bem comigo, coitados. A única coisa levemente semelhante com um doce que consegui encontrar (sim, ainda há caixotes por abrir) foram uns pacotes de bolachas integrais que vêm em bolsitas individuais e até estavam um bocado esmigalhadas, deve ter sido na mudança. Duas ou três, que aquilo são pretensamente bolachas digestivas e boas para a dieta.

Mas tinham pepitas de chocolate, atenção. E agora podem dizer, ah e tal, grande dieta, bolachas com pepitas de chocolate, que é isso. E eu respondo, que é isso digo eu, que aquilo não eram criancinhas de "pão por Deus" que se apresentassem à porta de uma pessoa. Surrealismo com surrealismo se paga.

quinta-feira, outubro 25, 2007

E agora, um pouco de Astrologia

Não sei dizer porquê, mas o que é facto é que certas coisas têm tendência a suceder-me sempre nas mesmas alturas do ano.

Março costuma ser um mês de grande importância, sobretudo no que respeita aos afectos.

Julho e Agosto são meses que muitas vezes receio, porque sempre acontecem coisas marcantes, podem ser boas ou más, e não raras vezes sucedem coisas más.

Depois há os números. O meu querido número 17 não costuma falhar nem um bocadinho, e os dias 17 têm sempre qualquer coisa digna de nota, a maior parte das vezes coisas boas, algumas vezes também, dias 17 completamente para esquecer, mas sempre, sempre, fortes e marcantes.

Diz também a numerologia que o meu número é o quatro. Nascida que sou em ano bissexto, consigo dizer claramente, desde aí os meus 16 anos, as coisas determinantes para a minha vida que sempre sucedem em ano bissexto. Que a minha vida dá sempre um salto importante de oito em oito anos, também é certinho. E então perguntava-me eu por estes dias, que muitas coisas importantes andavam a começar já em 2007, desta vez finalmente assistia a um desvio da norma.

Mas afinal não falha. É certo que a casa nova chegou antes do ano bissexto, e isso é sem dúvida importante. Mas a nomeação que eu esperava há anos, a que representa o passo mais importante da minha carreira profissional até esta data, saiu finalmente, e terá efeitos a partir de 01 de Janeiro de 2008.

A notícia chegou hoje. O ano bissexto de 2008 tem desde já esta marca: vai ser o ano em que passo a Chefe de Divisão.

É a roda dentada do destino a cumprir o seu papel, e eu tenho agora que me preparar para cumprir o meu. Vai ser difícil. Mas eu desejo muito, e consigo, e acredito sinceramente que mereço esta oportunidade.

Sem deslumbramentos, porque sei bem das dificuldades que aí vêm, nesta altura só peço que eu tenha força suficiente, e os astros continuem a conspirar a meu favor. Porque aqui para nós, também já não era sem tempo!...

segunda-feira, outubro 22, 2007

Eu tenho um homem das obras

... Mas estou disposta a partilhá-lo. Naquele que é o primeiro acto de descarada publicidade deste tasco, quero aqui deixar as melhores referências possíveis ao Manuel Reis, que é o homem das obras que qualquer um de nós pede ao santo dos homens das obras.


Se está na área da Grande Lisboa e precisa de alguém que pinte, estuque, remodele (muito ou só um bocadinho), que seja profissional de carpintaria e de electricidade, que faça tectos falsos ou verdadeiros, que arranje torneiras, que substitua lâmpadas fundidas, que coloque candeeiros e protecções nas banheiras da casa de banho, e que ainda por cima seja de confiança, a melhor solução é:


Manuel Reis - 96 382 16 23


A sério. Este homem faz sempre falta em qualquer casa. Não gosta de pimenta na comida. Mas enfim, ninguém é perfeito. A solução aí é não lhe darem de comer, pronto. Mas tirando isso, a sério, se for preciso arranjar alguma coisa aí em casa, olhem que este tipo é bem capaz de resolver.


Não digam que não avisei.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Ou então esta, que também é muito apropriada

"I'm broke but I'm happy
I'm poor but I'm kind
I'm short but I'm healthy, yeah
I'm high but I'm grounded
I'm sane but I'm overwhelmed
I'm lost but I'm hopeful baby

What it all comes down to
Is that everything's gonna be fine fine fine
I've got one hand in my pocket
And the other one is giving a high five

I feel drunk but I'm sober
I'm young and I'm underpaid
I'm tired but I'm working, yeah
I care but I'm restless
I'm here but I'm really gone
I'm wrong and I'm sorry baby

What it all comes down to
Is that everything's gonna be quite alright
I've got one hand in my pocket
And the other one is flicking a cigarette

And what it all comes down to
Is that I haven't got it all figured out just yet
I've got one hand in my pocket
And the other one is giving the peace sign

I'm free but I'm focused
I'm green but I'm wise
I'm hard but I'm friendly baby
I'm sad but I'm laughing
I'm brave but I'm chickenshit
I'm sick but I'm pretty baby

And what it all boils down to
Is that no one's really got it figured out just yet
I've got one hand in my pocket
And the other one is playing the piano

And what it all comes down to my friends
Is that everything's just fine fine fine
I've got one hand in my pocket
And the other one is hailing a taxi cab"

ALANIS MORISSETTE
Hand In My Pocket

Espero em breve poder explicar porque me deu hoje para pensar tanto outra vez na roda dentada do destino. Entretanto, alguém que toque a gaita de beiços ó fáxavor!

Tocando em frente

Mais outra canção que faz pensar outra vez na roda dentada do destino. Para mim, e para uma série de gente à minha volta que está a lutar para chegar ao final desta semana da melhor maneira possível. Para a R., a I. e o E., para a X. e para o Q., já que não se arranja nada melhor, fica isto para ajudar no que puder:

"Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz..."

Almir Sater e Renato Teixeira

quarta-feira, outubro 17, 2007

De maneiras que é isto

- Na Terça-Feira da semana passada fiz a mudança. Voltei à minha casa antiga para a deixar minimamente limpa, agarrei numa sacola com meia dúzia de coisas e fui dormir a casa dele. No dia seguinte, fui trabalhar.

- Na Quinta, Sexta e Sábado, limpei a cozinha. Ou parte dela, porque no Sábado apelei para a ajuda de mais um par de mãos. Constatei nessa altura que há partes de uma casa que só se podem limpar se a casa for desmontada, o que pode depois trazer outro tipo de chatices. Começaram as pinturas e os arranjos, a minha casa ficou feita num estaleiro.

- No Domingo limpei roupeiros e comecei a arrumar caixas. As pinturas continuaram.

- Na Segunda-Feira voltei ao trabalho. Ao fim do dia, chegar a casa, mais pinturas, mais limpezas, mais arrumações, até cair para o lado de cansaço. Terça-Feira, mais do mesmo, com a particularidade de ficar a saber que a nova fechadura da minha antiga casa me vai custar noventa e oito e qualquer coisa que eu já nem ouvi bem. Euros, evidentemente.

- Hoje. Duas horas e meia à espera dos senhores da EDP que vinham trocar o contador, mas que não vieram. Em contrapartida (?), veio o período menstrual, que no meio desta loucura toda, passava bem sem ele. O trabalho a acumular-se, porque as ausências têm sido mais que muitas. Reuniões na hora de almoço.

E ainda tanta, tanta coisa começada em casa e tão pouca acabada. As pinturas, quase todas feitas a partir das seis e meia da tarde, prolongam-se até altas horas da noite. E antes de Sexta-Feira não acabam, de certeza. Hoje vou outra vez acampar para outro lado. Acho que está a fazer-me falta uma pausa para descansar e tentar descontrair um bocado.

É que, mesmo sabendo que esta fase é inevitável, custa muito chegar a casa e ver aquele caos generalizado de roupa suja pelo chão, móveis cheios de pó, pincéis e chaves de fendas e tudo a exigir mais tempo do que aquele que é possível disponibilizar.

De maneiras que é isto. Ando estafada. Mas sei que vai passar. E verdade seja dita, quando alguma coisa consegue ficar limpa e minimamente organizada, fica muito bonito!...

segunda-feira, outubro 08, 2007

:-)

Quando me mudei para a minha primeira casa, vim encontrar, a morar no quarto andar do mesmo prédio, uma rapariga minha conhecida, jornaista fundadora de um certo jornal local.

E hoje fiquei a saber que no prédio para onde me estou a mudar, mora no quarto andar um certo amigo jornalista, que por sinal começou a sua carreira profissional nesse mesmo jornal local!...

Estou que não me aguento. Não só por isto, mas porque esta mudança está a corresponder em praticamente tudo àquilo que idealizei, vou para o lugar que escolhi, a casa está em óptimas condições, vou ter um conforto muito maior, fico com um encargo ligeiramente mais pequeno do que aquele que tenho actualmente, e basicamente, estou muito feliz.

Amanhã é o dia de levantar a tenda aqui deste lado. :-)

domingo, outubro 07, 2007

Consideração metafísica inspirada pela mudança de casa #5

Estou por estes dias com a alegria e o entusiasmo próprios do concretizar de um projecto há muito desejado. Ainda assim, há uma voz irracional dentro de mim que persiste em perguntar-me que maluqueira é esta de estar a entregar a minha casa a um completo desconhecido, e a ir morar para outra casa que pertence por sua vez a outro completo desconhecido.

Se bem conheço esta parte de mim, vão passar-se meses até que a mudança seja aceite e incorporada como algo que faz sentido.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Consideração metafísica inspirada pela mudança de casa #1

A necessidade de empacotar tudo e mais alguma coisa revela-se incompatível com a necessidade de ferramentas úteis para as operações de bricolage relativas à mudança, especialmente no que toca a chaves de fendas, chaves philips, alicates e assim. Donde se conclui que facas de cozinha, tesouras e quebra-nozes, convém deixar por empacotar até ao fim. E os vizinhos nem sempre estão em casa quando precisamos deles.

quarta-feira, outubro 03, 2007

A puta da fechadura

Que não tem outro nome. Decidiu h0je que estava na altura de encravar valentemente, e deixar-me fechada do lado de fora.

Hoje, que faz precisamente quinze dias que assinei a escritura de venda da casa, ou seja, já não me pertence, e já só lá estou a morar graças à simpatia do comprador. Hoje, a precisamente seis dias de me mudar para a minha nova casa. Hoje, tive que chamar o belo do especialista em fechaduras encravadas para poder entrar em casa.

E então como é que o senhor resolveu a coisa? Puxou de uma lima e deu umas afiadelas à chave. A seguir, deitou um spray para dentro da fechadura. Fsss, fssss, fez ele. Fssss. Meteu a chave na fechadura, claque, claque, abriu a porta. Cento e trinta e um euros e dezasseis cêntimos, ora toma.

Conclusão: a fechadura está nas ruas da amargura, o melhor é colocar outra. Mas isso já não vai ser para mim, porque quando chegar à outra casa também devo ter umas despesas à minha espera, santa paciência. Entretanto, já não fecho mais a porta à chave, só no trinco.

Portanto, malta xovem que ande por aí a perguntar-se sobre o que há-de fazer das suas vidas profissionais, oiçam o que vos digo. Serralharia. Esqueçam as licenciaturas, que aquilo só serve é para matar a cabeça, as propinas são um balúrdio, e no fim acabam a engrossar as estatísticas do desemprego. Aprendam mas é os segredos das limas, dos sprays nas fechaduras, e vão ver o que é ganhar dinheirinho. Fsss, fssss, claque claque. Vinte e seis contos de réis. Ah, pois é.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Quero


E não é luxo, não senhor. Ter um GPS era coisa que melhorava muito a minha qualidade de vida. Eu deixo de reconhecer a rua onde estou se atravessar para o outro lado. A sério. Eu preciso mesmo duma coisa destas. 300 € nem é assim tanto, pelo benefício que isto me dava. Ah e tal, vamos daqui para ali e não há nervos. Maravilhoso. Grande invenção. Já disse que quero? Pronto, então vá. Alguém que se chegue à frente.

sexta-feira, setembro 28, 2007

"O País está doido"

http://www.youtube.com/watch?v=3SFwLNA8Ceo

Sim senhor. Faço daqui a minha humilde vénia ao Dr. Pedro Santana Lopes, por quem não tenho especial simpatia, mas que dá aqui um exemplo muito forte sobre o que é um homem com eles no sítio. E que faz mesmo muita falta ao País mais atitudes destas, a ver se duma vez por todas, alguma noção do ridículo começa a existir.

(Que eu gosto do José Mourinho mas há realmente limites para tudo).

Crónica de uma semana difícil

Segunda-Feira
Foi preciso andar na rua a trabalho, a resolver as coisas que estavam a correr mal. Correram várias coisas mal.
Foi preciso ir às compras e acartar compras e arrumar as compras.

Terça-Feira
Foi preciso ir de manhã a Lisboa para consulta de oftalmologia com a mãe. Uma hora na 2.ª Circular para lá chegar. Uma hora e meia de espera até à consulta. 10 minutos de consulta.
Foi preciso atravessar a 2.ª Circular à noite, para chegar à Amadora. Mais uma hora de caminho, por conta do concerto dos Police.

Quarta-Feira
Foi preciso ir num instante ao cabeleireiro, ao fim do dia. Estavam lá três mulheres à minha frente, duas delas para pintar o cabelo. Entrei no cabeleireiro às 17h30, saí de lá às 19h45. Apanhei obras no asfalto no caminho de casa.

Quinta-Feira
Foi preciso levar a mãe e a irmã de manhã cedo à consulta de Ginecologia, após a cirurgia.
Foi preciso ir à entrevista de emprego. Aquela entrevista que me encheu a cabeça e as entranhas ao longo da semana toda, porque pode muito bem ser a oportunidade que eu espero há muito.

A mãe teve alta. A entrevista correu bem. E já só é preciso chegar ao fim do dia de hoje para que a semana acabe...

terça-feira, setembro 25, 2007

Olha o meu carro!...

Foi o que exclamei, com grande alegria, quando o antigamente meu Renault Clio apareceu a circular à minha frente em plena auto-estrada.

Vendi o carro há quatro anos atrás, e foi a primeira vez que me aconteceu isto de ver a minha ex-propriedade por aí a passear.

Que importância é que isto tem? Nenhuma. Mas ainda assim foi giro e estranho ao mesmo tempo. Ultrapassou-me e tudo. Levava um homem com um bigode lá dentro. Espectáculo.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Porque é que eu gosto do José Mourinho















Porque ele diz o que lhe apetece, faz o que bem entende, e mesmo assim safa-se à grande. E isso para mim quer dizer que ele lá deve ser bom naquilo que faz, senão não estavam para lhe aturar tantas merdas.

Porque já o tenho ouvido dizer grandes barbaridades com o mesmo ar com que diria que lhe apetece um galão e uma torrada, coisa que me dá uma imensa vontade de rir e me põe sempre bem disposta.

Porque ele é inspiração para uma das imitações mais perfeitas que alguma vez ouvi em rádio, que me faz rir à gargalhada sempre que a oiço, e o próprio José Mourinho teve poder de encaixe para se rir dele próprio.

Porque acho aquele género frio-arrogante-carrancudo terrivelmente atraente. Apesar dos muitos amargos de vida que este fugir do pé para a chinela já me tem dado. Suspiro.

Porque o gajo é giro como o raio. Veste-se bem, é elegante, tem uma voz bonita, e até aquela pronúncia inglesa que não se parece com nada, lhe assenta às mil maravilhas, tal e qual como o seu "technical overcoat".

Será que ele não precisa de uma assistente, nem nada? Trabalhava para ele de bom grado. E ainda era capaz de lhe dar umas borlas!... (lá me está o pé a fugir para a chinela, xiça!...)

terça-feira, setembro 18, 2007

Barulho e mau cheiro

Sem surpresas, esta rentrée trouxe um ritmo de trabalho tão frenético quanto todos os anos anteriores, por esta mesma altura. Quer dizer, a mim parece-me que este ano é o mais frenético de todos, mas estou convencida que isso é mesmo só porque os outros anos já passaram, e este agora é que me está a obrigar a amargá-las.

Mas o que me vem incomodando mais nos últimos dias nem é tanto o ritmo. É o barulho. São os telefones a tocar todos ao mesmo tempo, as pessoas que não param de entrar e sair e que vêm sempre aos magotes, e depois como está muita gente toda junta a falar, as pessoas vão falando cada vez mais alto para se fazerem ouvir, às tantas está tudo aos gritos (inclusive eu), e ninguém percebe bem porquê.

E depois há o outro problema desta rentrée. Será que é deste tempo de calor húmido, ou serei eu que com a idade estou a ficar mais sensível? É que a mim anda-me a cheira tudo mal. As casas de banho cheiram-me todas mal, entro nos cafés ou em qualquer espaço fechado e os ambientes estão carregados de um mau cheiro que nem se consegue definir bem, se são as pessoas, ou a comida, ou tudo junto, sei lá. Só sei que ando cá com uma sensibilidade olfactiva que não me anda a facilitar nada a vida. Não suporto certas pessoas a falarem muito perto de mim, então se há coisa que eu não suporte é mau hálito... E nas filas para o multibanco? Ui! É cá uma profusão de "aromas"!...

Estou hipersensível dos ouvidos e do nariz. Enfim, podia dar-me para pior. Mas então, como termino eu o dia de hoje? Numa reunião de condomínio do prédio que já vendi, realizada em vésperas de eu ir fazer a escritura de venda. E do que é que se falou durante a reunião? De barulho e de mau cheiro, basicamente.

E a discussão às tantas tornou-se um bocado barulhenta, de facto. Pode inclusivamente dizer-se que... chegou a cheirar mal. De moldes que está tudo dentro da normalidade, creio eu...

terça-feira, setembro 11, 2007

O "Pequeno T2" dá-me nos nervos cá duma maneira...

...E dá-me nos nervos em que medida, peguntarão. Ora eu, que estou mortinha por responder, mesmo que ninguém pergunte nada, esclareço: é que aquela letra evocativa de um "jovem penteadinho e livre de vícios cheio de projectos de vida" soa-me mais a "pateta feliz a 100% com o pouco que a vida lhe der, desde que não tenha que se esforçar muito".

E a coisa até que começa bem, o pior é depois. Senão vejamos:

"Eu sonhei que o mundo estava a acabar,
E isso fez-me pensar em tudo o que me resta fazer.
Lamentei tudo o que não fiz.
Vou fintar qualquer obstáculo para concretizar os meus sonhos."

Eh pá, até aqui sim senhor. Se bem que esta visão do final da vida e o desgosto do que está por fazer, esteja mais para uma crise de meia-idade do que propriamente para um jovem na casa dos vintes, em que tudo o que lhe resta fazer ainda pode muito bem vir a acontecer. Mas isso, as crises existenciais não têm idade para aparecer, e portanto o que conta é essa vontade firme, grande, de fintar os obstáculos e concretizar os sonhos. Muito bem! Assim é que é! Com uma vontade destas, só pode ter um grande futuro pela frente! E o que vai ser, jovem, por onde vais começar nessa empreitada gloriosa de tomar a tua vida nas próprias mãos? O que é? O que é?!...
"Apenas tenho que virar
A minha vida de pernas para o ar,
E procurar uma casa para eu morar

Um pequeno T2,
Onde podemos viver os dois.
Com vista para o mar e o jardim.
Um carro com tecto de abrir."

Ah... Mas então... Era só isso?... Deixa cá ver. Vais fintar qualquer obstáculo para concretizar os teus sonhos, e o que tu queres é um... um pequeno T2? Pequeno? Mas pequeno, em que sentido? Pequeno, assim, tipo, como é que eu hei-de dizer isto... pequenino? A sério? Ok, se queres com vista para o mar e com jardim, não podes estar à espera de milagres, mas ainda assim... Um carro com tecto de abrir? É quanto basta? Não estaremos com as expectativas um bocadito, ah... hum... pequeninas?...

"Tenho que virar
A minha vida de pernas para o ar,
E procurar uma casa para eu morar."

Pronto, sim senhor, no fundo eu até te entendo. Sem casa e sem carro, fica difícil arranjar um local apropriado para ter sexo. Não há condições. Pronto jovem, olha, vai em frente, vira lá a vida de pernas para o ar, e compra a casita, enfim, sempre vale mais isso do que andares por aí metido na droga.

"Só me falta arranjar um emprego
Para poder estar contigo, só contigo!
Vou tentar encontrar."

Espera lá, que eu agora é que estou mesmo baralhada. Não devo ter percebido bem, só pode ser. Dizias tu que só te falta arranjar o quê? te falta? Arranjar um emprego? Portanto, só te falta arranjar essa questãozita de pormenor, que por acaso é a fonte de financiamento para os teus sonhos: o belo do pequeno T2 e o carro com tecto de abrir. Então quer-se dizer, o menino ainda não tem trabalho? Está giro, e tal. Mas também tem razão, quem está disposto a saltar qualquer obstáculo, e a virar a vida de pernas para o ar à procura da casinha, como é que depois tem cabeça para mais, não é?...

Portantos, a ver se eu percebi bem (que eu hoje estou muito lenta): ah e tal, quero uma casa e um carro, nada de muito exagerado que eu sou meiguinho a pedir, a casa até pode ser pequenina desde que fique junto ao mar e tenha muito verde à volta, o carro tem que ter tecto de abrir. Para poder estar contigo, que eu sou muito romântico. Pronto, já defini estes objectivos fundamentais para o meu projecto de vida. Agora, vamos às questões, vá lá, secundárias: O que é que falta? Eh pá, acho que já só me falta uma coisa, tipo, como é que se chama aquilo... Exacto! Um emprego! Só me falta arranjar um emprego, que é aquela coisa das nove às cinco que a malta faz aos dias de semana e que dá um dinheirito ao fim do mês para pagar o pequeno T2! Então, o que é que eu, rapaz firme e determinado vou fazer? Vou tentar encontrar. Vou tentar, que eu também não estou assim para me maçar muito com pormenores. Se encontrar, encontro, se não encontrar, paciência. Vou tentar. Porque isso foi o que eu determinei, vou fintar qualquer obstáculo, portanto, vou tentar encontrar. Um emprego. Porque o resto está tudo, agora só falta mesmo isto.

"Tenho que virar
A minha vida de pernas para o ar,
E procurar uma casa para eu morar."

A sério, quanto mais penso nisto mais esmagada fico com o peso destas palavras. Dilthey? Nietzsche? Sartre? Heidegger? Meus amigos, esqueçam-nos a todos, pertencem ao passado! Ricardo Azevedo. É este o nome de vulto do Existencialismo no Século XXI!!...

segunda-feira, setembro 10, 2007

Cinzas

Às vezes, sonho contigo.

Porém, vivo melhor sem ti.
Estar próxima de ti tornou-me sempre em alguém pior do que sou.
E tu, nunca quiseste ser diferente daquilo que serias, comigo longe.
Vives melhor sem mim.

Estive demasiado tempo mergulhada no teu abismo.
Subi a pulso, caí e tornei a cair, cheguei ao cume.
Lambi as feridas, sacudi o pó, segui em frente.
Não volto para trás.

E no entanto, adivinho-te os passos.
Não sei como sei, mas sei, minutos antes de dobrar a esquina,
que vou cruzar-me contigo nesse dia.

Falamos de banalidades.
Já não vale a pena dizer as coisas que não se disseram quando deveriam ter sido ditas.
Ou então nada mais se diz porque tudo foi dito, e repetido vezes a mais.

Olhamo-nos nos olhos, temos essa coragem.
Nesses momentos, há algo em mim que te reconhece.
Continuas a ser o maior mistério da minha vida.

És como a marca de nascença que trago no braço esquerdo.
Raramente me lembro que a tenho.
Mas ela faz parte de mim.

Deu-me hoje para escrever esta banalidade.
Às vezes, sonho contigo.

sábado, setembro 08, 2007

Na volta do correio

A máquina de lavar roupa já começou a trabalhar hoje, e nem sabe o que a espera amanhã.

Finalmente, chegou uma factura do Gás para pagar (não sei porquê, passaram-se meses sem que aparecesse uma).

De ontem para hoje, os pais da Madalena passaram de bestiais a bestas, e o Papa parece que já não quer nada com eles.

Estou pobre e miserável até ao dia 19 deste mês, nesse dia faço a escritura de venda da minha casa, a seguir a isso fico podre de rica, e logo a seguir começa a desaparecer dinheiro que me vai deixar pobre e miserável outra vez, e num estado muito mais permanente, mas ao menos vou ter uma casa nova.

Preciso de ir às compras. Não tenho ovos, nem fruta, nem uma série de outras coisas que eu ainda não dei conta, mas que de certeza me vão fazer uma falta desgraçada.

Assinalei esta tarde, com um Magnum Essence, o fim de uma série de dias repletos dos mais variados disparates de ordem alimentar, merecendo particular destaque a ingestão diária de batatas fritas (a regra manda que, no máximo, só coma disso numa refeição por semana). O jantar hoje é pescada cozida. Sem ovo nem legumes, dadas as carências mencionadas acima.

Afinal, a Madre Teresa de Calcutá também tinha dúvidas sobre Deus. E isso faz com que eu passe a estar interessada na Madre Teresa de Calcutá. A ver se o raio do livro chega cá rapidamente.

Vai-me saber maravilhosamente o meu colchão, que o sítio era muito jeitoso, e tal, mas o colchão não valia a ponta de um caracol. E no entanto, será algo estranho não acordar amanhã às sete e meia, ao som de um invariável "pai, tenho fome!".

Morreu o Luciano Pavaroti.

Não chegaram as cartas que eu queria que chegassem, e sem elas não me sinto verdadeiramente na rentrée.

Segunda-Feira tenho que ir trabalhar. Amanhã tenho que limpar a casa.

Não acertei no Euromilhões.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Corta-mato

Em vésperas de ir de férias, tenho adiado a visita à senhora das depilações, que é para quando for embora, ir nas melhores condições possíveis.

Agora... dado o tempo prolongado que o pelo tem tido disponível para crescer à vontade, não sei se a senhora amanhã se desenrasca com as bandas de cera fria, ou se não terá que recorrer ao corta-relva...

sexta-feira, agosto 17, 2007

O dilema da maternidade

Ser mulher e não querer ser mãe é uma coisa que na maior parte das vezes causa grande desconfiança a toda a gente. Não é suposto, as pessoas começam a olhar de lado e perdem-se logo uns tantos pontos no ranking da valorização social. Uma mulher sem apelo pela maternidade é mais anti-natural do que um preto de cabeleira loira, ou um branco de carapinha. Mas existe, cada vez acho mais que não são assim tão poucas, e eu sou realmente uma delas.

Levei a minha vida toda a assistir ao comportamento habitual das mulheres, ou mesmo raparigas, à volta dos bébés. Muitos "hiis", e "oh, tão querido", e "que fofo", e toda a gente a querer pegar na criatura, fazer festinhas, dar beijinhos. Não é que eu às vezes não gostasse de comungar desse mundo de encantamento a que tantas mulheres se entregam perante um bebé de colo, até porque a sensação de exclusão é inevitável. Mas a verdade é que não me identifico minimamente com essas reacções. Não acho piada nenhuma a bébés. São totalmente dependes para tudo, desde o comer ao lavar, ao xixi e ao cócó, não falam, não interagem praticamente, e eu não lhes encontro ponto absolutamente nenhum de interesse. Pronto, já deve estar muita gente a ler isto e a olhar de lado. É o costume, mas é assim que eu me sinto e quanto a isso não há nada a fazer.

Ser mãe é uma possibilidade que, quando eu me ponho a pensar nisto mais a sério, me deixa aterrorizada. Não estou a exagerar. Fisicamente, acho que é um processo do mais violento que pode haver. E não falo só do parto, falo de todos os meses de gravidez que poderão implicar (cumulativamente ou não), dores no peito, prisão de ventre, ou em alternativa diarreia, náuseas, vómitos, dores nos rins, inchaço das mãos, dos pés, manchas na pele, aumento de peso, e isto se à partida não houver problemas de saúde associados, tais como a diabetes ou a hipertensão arterial. Depois, a perspectiva existencialista da coisa. Surge uma outra pessoa na nossa vida à qual ficaremos vinculados para sempre. Para o resto da vida. Nunca mais acaba, nem se pode interromper, nem devolver, nem nada. É para o resto da vida. Tipo, não sei se já disse, para o reeeeeessto da vidaaaaaaaaa!...

Ah e tal, mas ser mãe é maravilhoso. E ser pai também. Toda a gente me diz isso e eu acredito, sinceramente. Há-de ser com certeza um sentimento do mais avassalador que pode existir, nem pode ser doutra maneira. Pois se eu convivo com o filho do meu companheiro e já sinto por ele uma ternura tão grande, o que seria então com o tal ser que sairia de dentro de mim? E senão fosse esse sentimento, como é que alguém aguentava a violência de assegurar o bem-estar de um ser humano nos seus primeiros meses de existência? Eu respeito o mais possível este sentimento tão incondicional, e esta generosidade de gerar e criar uma outra pessoa para o mundo, mas... Será que eu quero isto para a minha vida?

Tenho muitas amigas com filhos, aliás, acho que hoje em dia não tenho nenhuma que não os tenha já. E oiço falar muito sobre aquilo que eu muitas vezes chamo, ironicamente, de "delícias da maternidade". Das birras e dos gritos, do acordar de madrugada para dar comida, adormecer, mudar fralda, mudar a roupa da cama porque houve xixi, limpar vomitado, ir para o hospital porque está doente, etc., etc., etc., mas já se sabe, ter filhos é maravilhoso. E eles compensam isso tudo. Ainda assim, as minhas amigas que têm filhos lá se vão queixando que não dormem, não têm tempo para mais nada, que não conseguem ir ao cinema ou sair para jantar (mas em contrapartida passaram a ter que arranjar tempo para andarem numa correria doida e levarem os filhos à natação e ao ballet e ao taekwondo e à música e à ginásticae ao inglês), vivem angustiadas com as doenças e os almoços e os jantares, e as horas dos banhos, e se eles saem agasalhados ou com roupa demais, e muitas vezes ficam tão cansadas que já nem têm cabeça para se preocuparem com mais nada nas suas vidas. Eu respeito em absoluto se este dia-a-dia as completa e a presença dos filhos as compensa de todas as dificuldades, mas eu pergunto-me, será que isto me completaria e compensaria a mim? Tenho a certeza que não. Se eu nunca for mãe, ficam a faltar-me vivências muito especiais e únicas, sem dúvida. Mas quando olho para isto tudo em perspectiva há sempre uma voz cá dentro a dizer que eu não quero este dia-a-dia para a minha vida. E aposto, aposto, que há muitas mulheres que tiveram filhos porque sim, e que vivem a carregar as frustrações da vida que gostariam de ter e não tiveram, mas que continuam a dizer, com toda a sinceridade, que ser mãe é maravilhoso. Mas se calhar muitas delas vão ficar a dever muito a elas próprias. Não sei, fico muitas vezes com esta impressão.

Há quarenta anos atrás as mulheres tiveram que batalhar muito para ganharem o seu lugar no mundo do trabalho. Porque não queriam estar reduzidas à casa, ao marido e aos filhos, queriam mais. Vejo hoje em dia que o fenómeno está invertido. Olho à minha volta e o que não faltam são mulheres que vêm trabalhar todos os dias simplesmente porque tem de ser, porque o salário do marido não chega para o orçamento familiar. Mas o que elas queriam mesmo era a casa, o marido e os filhos, e isso lhes bastaria. Esta é a parte que mais me custa a entender. Respeito, claro, que cada um realiza-se na vida conforme queira e o leque de opções é muito vasto, mas entender, não entendo.

(Ia no outro dia no comboio e uma senhora a meu lado falava em tom aprovador duma jovem mãe que teve o primeiro filho e gozou do tempo máximo de licença de maternidade que lhe foi permitido, a saber, três anos. Então, programou a chegada do segundo filho para o final dessa primeira licença, e prepara-se para se mandar para mais três anos de licença. Com um bocado de sorte, com o marido a ficar cada vez melhor na empresa, a dita senhora já nem pensa verdadeiramente em voltar a trabalhar. E eu, que até ia meio a dormir no comboio, com a perspectiva de ficar seis anos seguidos só dedicada aos filhos e à casa, bateu-me uma espertina que já não me deu descanso até ao fim da viagem! :-) )

Do meu ponto de vista estas mulheres, enquanto indivíduos, constroem-se muito pouco. E quando um dia destes as circunstâncias mudarem, os filhos forem à sua vida, ou o marido deixar de garantir o rendimento da família, ou pura e simplesmente a relação terminar... Bom, nessa altura o que restará, se não cultivarem um pouco a própria individualidade?

Eu gosto muito do meu trabalho. E tenho ambições de carreira. Adoro estudar. Se a vida me corresse bem nos próximos tempos, no espaço de três anos ia fazer o mestrado. E assumo que é neste tipo de projectos que me sinto plenamente realizada. É pensar nestas coisas que me enche o coração de energia, não é pensar que posso vir a ter um bébé para criar. É claro que um filho não representa necessariamente o fim de uma carreira profissional, ou de outros projectos que a pessoa tenha. Mas implica o tal compromisso para a vida, que necessariamente traz alterações profundas e reduz muito a liberdade individual. E contrariamente à ideia (ainda) vigente, de que o grande objectivo da nossa vida é crescermos e multiplicarmo-nos, acho que a minha própria existência, mesmo sem filhos, faz todo o sentido só por si. Não acho nada que seja egoísmo, é uma preservação do valor que todos nós temos, enquanto indivíduos.

Onde está, então, o dilema? Está no raio do prazo de validade. Passei os vinte e os trinta com esta ideia de que para já não, e um dia mais tarde logo se vê, pode ser que a vontade surja sabe-se lá de onde. É que eu tenho plena consciência de que, se a tal mulher que abdica dela própria pelos filhos virá de certeza a pagar a factura de não se ter a si msma, eu poderei vir a pagar a factura do arrependimento, quando o meu corpo me fechar a porta a essa possibilidade. Os 35 já vão a caminho de 36, e sei muito bem que não existem decisões inconsequentes...

É claro que, se quiser, arranjo já aqui dezenas de factores circunstanciais, relacionados com a minha actual e anteriores relações, que declaram a maternidade como algo que ainda nunca fez sentido algum colocar em agenda. Por diferentes ordens de razões, não é este o momento apropriado, tal como não foi o momento apropriado aos 30, ou aos 25, ou aos 20. Mas como diz o outro, não é esta a questão essencial. A questão essencial é mesmo a da vontade. E o dilema, que por vezes se traduz numa certa dúvida sobre a melhor decisão a tomar, está mais relacionado com o prazo de validade do que propriamente com a vontade. É uma espécie de síndrome do "compre já antes que esgote". É por estas e por outras que os saldos são tão perigosos, por exemplo, a gente vê montes de boas oportunidades ali à mão de semear, compra, e só depois é que se pergunta para que raio precisa daquilo. Não que eu compare o meu prazo de validade com uma época de saldos. Não, que horror, era lá capaz de uma coisa dessas. Bom. Pensando bem... Olha, já comparei. Adiante.

O dilema da maternidade, pelo menos o meu, é isto. É o prazo de validade a chegar ao fim. Já no que toca à vontade, despida como está desde sempre de lacinhos cor-de-rosa e cheirinho a pó de talco, o que se há-de fazer? A vontade continua a dizer-me que não foi para isso que eu nasci...

segunda-feira, agosto 13, 2007

Blimunda Simpson presents!


Isto sim, é o sonho de qualquer mulher (e de qualquer homem também) - #2

A Bimby. Ou como eu já a chamo carinhosamente, a Bimba. Faz comida sozinha! FAZ COMIDA SOZINHA! É a loucura. É a felicidade extrema. Por mim, qualquer utensílio que me ajude a passar o menor tempo possível naquela tarefa extenuante e suja, e que deixa tudo sujo, que se chama... hum... argh!..., cozinhar, é um autêntico maná vindo dos céus.

900 €, segundo dizem. Vou juntar à lista. Deixa cá ver: Driron, 1.880 €, e fico com uma máquina para secar e passar a ferro. Bimby, 900 €, e arranjo uma coisa para cozinhar. E ainda falta outra: Rainbow, uma máquina de limpeza também maravilhosa, por uns modestos 2.500 €. Ora isto tudo junto, deixa cá ver: 5.280 €.

Coisa pouca, portanto. E como é que eu arranjo dinheiro para isto tudo? Uma boa possiblidade é fazer como a Carrie Bradshaw fez uma vez no "Sexo e a Cidade". Vou abrir uma lista de casamento comigo própria. Só que em vez de abrir a lista na sapataria, ponho nos sites dos electrodomésticos a preços obscenos. A mim parece-me bem...

terça-feira, agosto 07, 2007

Que dia é hoje?

Mora no rés-do-chão de um prédio com todo o ar de que vai cair um dia destes. No andar de cima já não mora ninguém há muitos anos. A porta da entrada tem um postigo daqueles antigos, com umas barras de ferro, e todos os dias ela se deixa ficar ali horas e horas, a olhar a rua. Quem lhe passa à porta só consegue ver as mãos dela de velha muito velha, agarradas com firmeza às barras de ferro. Lá mais para dentro não se consegue ver nada, nem sequer 0 rosto, é só escuridão, como se nada mais houvesse para além daquelas mãos, nem mesmo uma casa, um corpo, alguém.

Porém não passa despercebida. Tem este hábito, incomodativo e demente, de se meter com todas as pessoas que passam na rua. A todos pergunta o mesmo, que dia é hoje? Que dia é hoje? É Segunda, é Domingo, é Quarta, vai assim tentanto manter presentes as contas dos dias, porque tirando os nomes que eles têm, ela já não lhes encontra nada que os distinga. Se calhar repete a pergunta porque, de cada vez que alguém lhe dá a resposta, já não a consegue manter na memória. Ou então, porque chamar assim pelas pessoas foi a maneira que encontrou de se manter ligada ao mundo deste lado, do lado de cá da porta que a encerra na escuridão, e que a cada momento a pode engolir para sempre, assim lhe faltem as forças para se agarrar às grades do postigo.

No outro dia, surpreendentemente, foi a uma janela onde batia o sol, e quem passava pôde enfim ver-lhe o rosto. Chamou, e chamou, e chamou, mas as pessoas já sabem que ela é maluca, e além disso sabem muitíssimo bem que dia da semana é e que exigências ele irá trazer, para estarem ali a perder tempo com ela. Quando finalmente alguém se aproximou, foi motivo de grande alegria e de muitas palavras de ternura, porque serão tão más todas as outras que chamei e não vieram. Que por favor lhe dissesse que saco era aquele encostado à sua parede, cheio de papéis que ela não entendia. Que vive sozinha no mundo, sem marido, e sem filho, e com isto chora. E enfim a derradeira pergunta, que dia é hoje. E ali ficou, suspensa nas respostas dadas, se calhar à espera de quem iria passar a seguir para recomeçar a chamar, enquanto o benemérito foi à sua vida de dias de semana agendados ao pormenor.

É esta a existência daquela mulher nos últimos anos da sua vida, agarrada ao postigo como se estivesse presa do lado de dentro, ou como se quisesse fazer dele tábua de salvação. Entre uma coisa e outra, venha o Diabo e escolha. E já agora quando vier, que lhe responda com simpatia à pergunta, que dia é hoje. De certeza absoluta que quando o vir, é o que ela terá para lhe perguntar.

sexta-feira, agosto 03, 2007

O cheiro

De há uns dias para cá, dá-se o caso de me cheirar a gasolina dentro do carro quando ligo o ar condicionado. Coisa estranha, dizem-me os mais e os menos entendidos, porque é suposto uma coisa não ter nada a ver com a outra. Eu por mim tudo bem, o ideal era que não cheirasse. E cheira sobretudo quando ando devagar ou estou parada, se andar a mais de 60, está-se bem.

Já foi ao mecânico, mecânico mudou filtro não-sei-do-quê, melhorou, mas continua a cheirar a gasolina. E o pior é que aquilo incomoda, faz dores de cabeça e fico um bocado maldisposta.

Agora pergunto eu: isto poderá ser do quê?

- Pode ser o ar condicionado a precisar de alguma reparação mais profunda.

- Pode ser alguma fuga de gasolina, que mesmo sendo mínima, provoque aquele cheiro.

- E também pode ser, e isto é que eu acho realmente, que a mim já me cheira a gasolina, e ao carro, já lhe cheira que vou ter mais uns dinheiros em breve, com a venda da casa. E já quer que eu gaste por conta.

Está-me a cheirar. Ai está, está...

quarta-feira, julho 25, 2007

Quando uma transacção imobiliária se transforma numa novela mexicana

Consegui finalmente formalizar a compra da minha próxima casa. E digo finalmente porque ao longo destas semanas tenho vivido uma série de episódios bastante insólitos, que me têm feito andar numa espécie de montanha-russa de emoções, passando da euforia à extrema desilusão, conforme passo desde já a explicar:


Andei durante as minhas férias a ver casas e estando eu quase a decidir-me por um T2 muito jeitoso com um preço agradável, eis senão quando sou contactada por outro mediador muito prestativo, que me tinha mostrado uma outra casa, um T3, que eu já tinha posto de lado, por ser demasiado caro para mim, embora até estivesse realmente num preço bastante interessante. E diz-me este outro mediador, mas olhe que esse T3 que eu lhe mostrei, que até já está num preço bastante interessante, o proprietário está disposto a vendê-lo por um preço imbatível. Foi nessa altura que eu fiquei com os pirulitos todos a chocalhar, e lá fui eu ver outra vez a casa, mais a minha querida irmã, minha melhor amiga, e eterna companheira de momentos decisivos.

Ao fim de um dia cheguei à conclusão que aquele preço imbatível era de facto imbatível, e que aquela opção era muito melhor, sobretudo porque a casa me agradava mais. E aceitei. Feliz e contente, assinei um documento de reserva, passei um cheque sem cobertura e comecei a fazer planos.


Ao fim de dois dias, quando era suposto o proprietário já ter assinado o tal documento de reserva, telefona-me o mediador da casa, está boazinha e tal, sabe, o proprietário fez melhor as contas e está um bocado aflito, chegou à conclusão que o preço imbatível afinal não lhe dá muito jeito, e propõe em vez desse, um preço vá lá, razoavelzinho. A senhora aceita? Não, não aceito, era o que mais faltava, então mas que raio de negociação é esta? Para isso fico com a outra casa, que tem um preço agradável, o que me convém muito mais do que uma casa por um preço, vá lá, razoavelzinho. Que sim senhor, que não me preocupasse mais, que ele iria tratar do assunto.


E a partir daqui voltaram as minhas noites sem dormir. Incrédula, ainda pensei que o proprietário da casa era tontinho da cabeça, a propor preços malucos e a fazer as contas depois. Mas é claro que não foi nada isso que se passou. Depois de eu andar à espera de uma confirmação (ou sim ou sopas) ao longo de uma semana, fui chamada à Agência, já para falar com o gerente. Que se vira para mim e me diz, então a senhora fez aqui uma proposta de compra deste imóvel por um preço imbatível... E digo eu, desculpe, mas essa proposta não tem nada de minha, a não ser o facto de a ter aceite. A proposta foi-me apresentada pelo mediador que aqui trabalha, e supostamente foi apresentada pelo proprietário. Supostamente. Pois. Que o mais certo é ter sido apresentada pelo próprio mediador, à espera sabe-se lá de que milagre. E então o sr. gerente lá tentou outra vez convencer-me a comprar a casa por um preço, vá lá, razoavelzinho, e eu lá voltei a dizer-lhe que não. Dispus-me quando muito a pagar o mesmo que pagaria pela outra, ou seja, um preço agradável.


Mas depois de me vir de lá embora comecei a ficar com o estômago às voltas. Literalmente, que comer nestes últimos dias tem sido um enorme sacrifício, de tal maneira eu me senti mal com esta situação. É horrível a gente sentir-se enganada pelos outros. Como é que se mantém a boa-fé e ao mesmo tempo nos prevenimos da má-fé dos outros? Não se consegue, não é? Bem me parecia. Adiante. Ao fim de umas horas a partir pedra com o meu companheiro comecei a pensar, então estes gajos estão aqui a ter este comportamento absolutamente indecente, e eu ainda estou disposta a negociar com eles? Para quê? Cheguei à conclusão que a casa começava a ter um preço absolutamente inconcebível e resolvi desfazer o negócio. Com a minha casa para ser escriturada dentro de poucas semanas, fui começando a ver casas para alugar, enquanto enxugava as lágrimas que teimavam em querer aparecer, as parvas.

Então chega-se ao outro dia e volto à Agência, quero o meu cheque de volta, por mim isto acaba já hoje, acabou-se. E diz-me o gerente, se a senhora quiser, o negócio está de pé, por um preço imbatível. O mediador com quem falou já não trabalha connosco, por causa deste e doutros problemas semelhantes. Falámos com o proprietário, que também não está nada contente com isto, e na verdade eu não me disponho a ficar com duas pessoas insatisfeitas a dizerem mal da minha empresa. De moldes que proponho a realização do negócio, pelo tal preço imbatível, sendo que a Agência não irá cobrar qualquer valor de comissão desta transacção. Prefiro isso a prejudicar a imagem aqui da minha chafarica.


Aceitei o preço imbatível nas condições apresentadas. Por sorte o proprietário, também já pelos cabelos com isto tudo, resolveu pôr o próprio número de telefone na janela da casa, e eu telefonei-lhe. Conversámos os dois e desta vez aquilo que nos estão a dizer confirma-se tudo. Portantos, acho que desta vez a coisa vai encarrilhar. Que até ao contrato promessa de compra e venda nunca se sabe. Lá vou eu rezar outra vez ao santo protector...

E foram assim passados os meus últimos dias. E foi assim que eu acho que comprei, hei-de comprar, se tudo correr bem e não falhar mais nada, uma casa.

Isto sim, é o sonho de qualquer mulher (e de qualquer homem também)


Seca a roupa, passa a ferro, e ainda consegue ser bonito. É caro como o raio: 1880 €. Mas por mim, vale a pena o investimento. Não sei quando vai ser, mas um dia vou ser dona duma coisa destas. De certezinha absoluta.


Olha aqui tão lindo, de portinha aberta:


quarta-feira, julho 18, 2007

Sobre a roda dentada do destino


A ver se me consigo explicar. A minha imagem do destino é mais ou menos a do mecanismo de um relógio. O destino é a roda dentada maior. As nossas vidas são as rodas dentadas mais pequeninas, o que quer dizer que qualquer um de nós dá não sei quantas voltas a mais sobre si próprio, ao mesmo tempo que a roda dentada do destino dá umas voltas muito maiores, e necessariamente mais lentas.

Imagino ainda que apenas um número muito reduzido de dentes na grande roda dentada do destino tenham a capacidade de produzir acontecimento importantes. Então, isso leva a que nós, pequenas rodas dentadas, levemos a vida por vezes muito cansaditas de andar às voltas, a cumprir com as nossas obrigações mas sempre a fazer projectos, que as rodas dentadas mais pequenas têm sempre muitos sonhos por concretizar, e até há quem diga que são as vontades das pequenas rodas dentadas que dão energia ao relógio para trabalhar. Donde se pode concluir que a grande roda dentada do destino só anda por conta das pequenas rodas dentadas, que a fazem girar. Mas adiante.
Dizia eu que assim sendo, "longa se torna a espera" pelos momentos em que o tal dentinho da roda dentada grande toca a nossa minúscula, porém significante, vida. Mas de muito em muito tempo, lá surge o dia, os dias, em que esse tal dente encaixa na nossa pequena roda dentada. Nessa altura, muito provavelmente, quem estiver com atenção consegue ouvir distintamente o mecanismo a funcionar.
Para o melhor e para o pior, a roda toca-nos e determina novas realidades. E a pequena roda dentada faz o que está na sua génese: continua a girar, a projectar, a realizar. Mas as voltas, parecendo as mesmas, serão outras, porque é esse o efeito que a grande roda do destino sempre consegue exercer. Nunca nada fica como antes.

sexta-feira, julho 13, 2007

Mudar de casa

Quando há sete anos atrás comprei esta casa que agora vendi, foi tudo muito diferente. Estava a sair de casa dos meus pais, a casa que então encontrasse era o meu primeiro espaço próprio, para eu (me) construir de raiz. Na altura foi relativamente fácil, encontrei a casa que quis, pedi o empréstimo ao banco, e depois pronto.

Desta vez é tudo muito diferente, e hoje confesso que estou particularmente vulnerável. Estive dois anos à espera de vender esta casa, a fazer planos sobre o lugar para onde iria viver a seguir. Sendo que o lugar para onde se vai viver é um lugar onde nós estamos todos os dias, uma casa não é apenas uma casa, é uma coisa que ao longo do tempo se incorpora em nós, ganha o nosso cheiro, reflecte os nossos hábitos, é ao mesmo tempo palco dos nossos melhores e piores momentos, é refúgio, local onde acontecem as nossas maiores intimidades, onde só entra quem a gente quer, onde está grande parte daquilo que somos.

Já dei comigo a olhar à minha volta, aqui no meu T1 que eu quero muito ver pelas costas, e a sentir alguma nostalgia a escorrer pelas paredes abaixo, uma sensação de perca que se instala ao fim do dia, quando o sol começa a desaparecer na cozinha, uma impressão parva de invasão de privacidade quando o comprador me telefona a dizer que já deu esta morada em alguns lugares, que se faz favor o avise no caso de chegar correio para ele.

E agora, para onde é que eu vou? Todas as hipóteses são boas e más, nenhuma é o ideial alimentado ao longo destes dois anos, e por outro lado, todas representam oportunidades de negócio tão boas, mas tão boas, que é difícil discernir qual é a melhor oferta de todas. Os vendedores de casas são muito faladores. E têm sempre qualquer coisa na manga, à espera do momento certo para nos manipularem. São simpáticos e assertivos até ao limite da exaustão. E não têm muitos compradores, então mergulham de cabeça em cima dos poucos que existem. Mergulham de cabeça em cima de mim, portanto.

Com os bancos posso eu bem, fazem-se as contas e pronto, também aí já vi que quem precisa está sempre lixado, mesmo... É como ter um cobertor demasiado curto, é só uma questão de perceber o que é que preferimos ter destapado, se a cabeça ou os pés.

E então especialmente hoje, quando já quase tinha tomado uma decisão, eis que surge uma nova proposta para baralhar e tornar a dar. Fazendo da minha futura casa uma oportunidade de negócio, uma oportunidade de negócio para eu depois transformar num lar. Como é que eu sei, de entre tantas e tão boas oportunidades de negócio, qual a melhor opção para que daqui a uns tempos eu me sinta, novamente, na minha casa? E de preferência, sem que as paredes assistam logo de início a lágrimas de arrependimento?...

PS: Eu sei que isto são dilemas dos bons, quem sou eu para me estar aqui a queixar. Mas a verdade é que esta semana tenho dormido muito mal à conta desta questão. E se por um lado, estar de férias tem sido óptimo para tratar de tudo com tempo, há se calhar demasiado tempo livre entre mãos para matutar nisto. E isso também tem o seu lado negro, sem dúvida...

quinta-feira, julho 12, 2007

Situação: capaz de lhes ir às trombas

Ando eu práqui a ver euros e mais euros à minha frente, e há uns euros que não há meio de ver: o reembolso do IRS. Malta que entregou depois de mim, já recebeu, muitos ainda em Junho. E eu, que entreguei aquilo logo no início do prazo, quando vou consultar a minha "situação", dou sempre de caras com isto:

Situação REEMB: EMISSÃO ATÉ 31 DE AGOSTO
Filhos da mãe. Aqui há uns tempos atrás mandei-lhes um mail a perguntar quando é que começavam a pagar. Nunca tive resposta, claro. Mas este ano, com este atraso todo, que aliás nunca me tinha acontecido, fico a perguntar-me: tu queres ver, que lá nas catacumbas empoeiradas do Ministério das Finanças (sim, porque eu imagino sempre que aquilo há-de ser num buraco qualquer, onde eles vivem a contar o dinheirinho que nos levam todos os meses, e a verem-no a acumular até forrar as paredes e o tecto, e devem ser tão sumíticos que nem devem estar dispostos a pagar a alguém para lá ir fazer limpeza, e depois devem ficar a chorar agarrados às notas antes de começarem a largá-las para nos fazerem os reembolsos), dizia eu, tu queres ver, que algures num desses buracos, um reles funcionário recebeu o meu mail de alguém nitidamente à rasca para receber o raio do dinheiro, e pensou: "Ai está com pressa, a menina? Pois este ano hás-de ser das últimas a receber, que é para aprenderes a não vires entupir-me a caixa de e-mail com perguntas parvas".
Não sei, não sei, mas a mim parece-me uma boa teoria da conspiração. Ressabiados do caraças, é o que eles são todos. Só vêem dinheiro à frente, até metem nojo, palavra de honra. 31 de Agosto. Pffff!...

segunda-feira, julho 09, 2007

Decisões, decisões

T2 ou T3? Rés-do-chão ou primeiro andar? Se quero mais um quarto não tenho onde estender roupa, se não tiver hall de entrada tenho que me desfazer de alguma mobília... Mais recente e virada para a estrada, ou mais antiga e com uma palmeira à frente da janela (se bem que também virada para uma estrada)? Toda viradinha para o jardim é que era, mas não há...

Compro no limite do plafond estabelecido, ou fico-me pela que me deixa mais à-vontade financeiramente? Com parqueamento ou sem parqueamento, com arrecadação ou sem ela?

Decido já ou espero para ver aquela que os donos só vêm de férias no fim do mês?...

Quem diria que as minhas férias iam servir para limpar a que já está vendida, e para procurar a que vou ter que limpar a seguir!...

quarta-feira, julho 04, 2007

Blimunda doméstica vs Blimunda patroa

450, contei-os eu, de diferentes tamanhos, qualidades e feitios. Raios partam a mulher com a mania que é intelectual, para que quererá ela tanto livro, sempre gostava eu de saber.

Soubesse ela a trabalheira doida que aquilo dá, tirá-los a todos das prateleiras, limpá-las e voltar a pô-los todos outra vez no mesmo sítio, por ordem alfabética de autores!!!

E ainda por cima a trabalhar de borla.

segunda-feira, julho 02, 2007

Férias

Para dormir até tarde.

Limpar a casa como deve ser.

Dar-me ao luxo de não ter pressa.

Afastar-me do emprego por uns tempos, coisa importante para a sanidade mental.

Férias para repor energias. Bem bom.

quinta-feira, junho 28, 2007

Diga-se de passagem

Que no sobe-e-desce escada e percorre-corredor dentro do hospital, para visitar a mãe, tenho dado de caras com um médico, que sim senhor.

Não me importava nada de saber qual é a especialidade dele.

E a julgar pela troca de olhares, fiquei com ideia que ele também não se importava nada.

quarta-feira, junho 27, 2007

Ó sr. santo protector do tempo de espera até ao contrato de promessa compra e venda

O comprador partiu o perónio? Partiu o perónio? Eu sei que as coisas a mim não me acontecem nunca de maneira fácil, e tudo corre naquela base da corrida de obstáculos, mas levar esta metáfora tão a sério ao ponto do desgraçado do comprador partir uma perna, é mais que a conta.

Coitado do homem, foi internado, foi operado e tudo. Isto faz-me lembrar o Hugo, do Lost, que ganhou aquele dinheiro todo mas a partir daí há sempre pessoas à volta dele a sofrerem as consequências da maldição, tipo, gente a morrer e assim.

No meu caso, como sou assim uma criatura de fraca qualidade, o único efeito colateral que consigo provocar é um perónio partido. Ainda assim, o contrato era para assinar já amanhã e afinal vai ficar para Sábado ou Domingo. Ou Segunda, ou Terça...

Com franqueza.

terça-feira, junho 26, 2007

A operação da mãe

Em linguagem médica, foi uma histeroctomia, devido a um prolapso do útero. Em linguagem de gente, foi preciso remover o útero da minha mãe, porque ele descaíu e saiu para fora do corpo. Em linguagem de família, há já muitos meses que a minha mãe estava a perder faculdades básicas na nossa frente, a um ritmo diário, e para além do sofrimento físico que a coisa lhe provocava, vinham também por arrasto a depressão, a baixa auto-estima, o desinteresse por si própria e por aquilo que a rodeava. As ondas de choque provocadas por este problema alastraram por toda a família, a começar pelo meu pai, que é o que está mais perto, e que também inspira cuidados de saúde, já que o senhor não é propriamente um jovem. Desde que ela nos deu conta deste problema, em Novembro do ano passado, tem sido uma fase muito difícil, de muito desgaste para nós todos.

A operação foi ontem, e felizmente correu tudo bem. Hoje já a encontrei bem disposta e animada, feliz por se ver livre daquele peso que a empurrava, literal e figuradamente, para baixo.

Persistem muitas preocupações. Há muitas mais coisas que vemos que não estão bem e que têm que ser acompanhadas, há ainda muitas dúvidas sobre quais as sequelas desta intervenção no futuro, e portanto, não dá para fazer grandes festas. Mas pelo menos, esta corrida de obstáculos para a fazer chegar à operação o mais rápido possível, já a conseguimos concluir.

Hoje é tempo de respirar fundo e esperar que, como dizia Gabriel Garcia Marques num dos seus livros, "Deus nos livre daquilo que somos capazes de aguentar".

segunda-feira, junho 25, 2007

SPM

Há bastante tempo que não me dava. Estou irritada com qualquer coisa que mexa em particular, e com o mundo inteiro, de uma maneira geral.

quinta-feira, junho 21, 2007

Foi desta

VENDI A MINHA CASA!!!!! :) :) :) :)

(agora vou ali acender uma velinha ao santo protector do tempo de espera até à assinatura do contrato de promessa de compra e venda).

quarta-feira, junho 20, 2007

Eu, de certo modo

Eu quero: uma promoção.
Eu tenho: muitos projectos.
Eu acho: que mudar é sempre bom, nem que seja para pior.
Eu odeio: assuntos mal resolvidos.
Eu sinto saudades: de estudar.
Eu escuto: muito burburinho e isso cansa-me muito.

Eu cheiro: a mim.
Eu imploro: às pessoas que não andem em carneirada, e pensem pela própria cabeça.
Eu procuro: aprender e evoluir (uma coisa depende da outra).
Eu pergunto-me: será que existe isso do acaso?
Eu arrependo-me: de algumas coisas.
Eu amo: os meus.

Eu sinto dor: quando faço ginástica localizada (e mesmo assim volto lá para fazer mais).
Eu sinto falta: de alguns amigos.
Eu importo-me: quando não sou correcta para alguém.
Eu sempre: chego à hora combinada.
Eu não fico: descontraída por muito tempo.
Eu acredito: que sem muito trabalho, muito esforço, nada se consegue.
Eu danço: mal.
Eu canto: muito bem, aliás, sou um talento por descobrir nessa área.

Eu choro: baba e ranho nos filmes todos, inclusive a ver o Dumbo (de todas as vezes que vejo o Dumbo, aquela cena dele a separar-se da mãe dá cabo de mim).
Eu falho: como toda a gente, mas lido muito mal com isso.
Eu luto: e luto, e luto, e luto, todos os dias desde que me levanto até que me deito, contra todas as contrariedades que a vida me atravessa à frente, e às vezes consigo as coisas, mas acho que é mesmo só porque a vida fica farta de me ver a saltar obstáculos.
Eu escrevo: e depois guardo na gaveta.
Eu ganho: mal, claro, mas há quem esteja pior.
Eu perco: a paciência com demasiada facilidade.
Eu nunca: fumei um cigarro na minha vida.
Eu confundo-me: em qualquer lugar novo que vá, e em alguns onde vou com frequência também. O meu sentido de orientação é uma desgraça.
Eu estou: bem amada.

Eu sou: um bocado snob. E mal-humorada. E impaciente. Mas ainda assim, sou boa pessoa.
Eu fico feliz quando: acontecem coisas boas aos outros ou a mim.
Eu tenho esperança: de uma vida melhor.
Eu preciso: de ver os meus pais bem de saúde.
Eu deveria: aprender a lidar melhor com os fracassos.

quarta-feira, junho 13, 2007

No smoking, please

Falta muito para entrar em vigor aquela nova legislação sobre o tabaco?

É que, depois de um frugal pequeno-almoço de chá e torrada, estou com o cabelo a cheirar como se tivesse ficado num bar qualquer a fumar e a beber até às duas da manhã!

Ainda ontem lavei o cabelo, raios partam este vício horrível.

quarta-feira, junho 06, 2007

Vidas...

- Dentista às 09h30.

- Depilação às 13h00.

- Ginástica às 17h30.

Ó Sócrates, desculpa lá mas hoje só deu para trabalhar quatro horas!...

segunda-feira, junho 04, 2007

(Querem ver as fêmeas à minha volta a ficarem todas doidas? Querem? Querem? Então cá vai...)

Eh pá...

Não estou habituada a isto...

É mais ou menos como ter um gão de pó no olho, ou ser mordida por uma melga e ficar uns dias com comichão no braço, ou comer uma refeição mais calórica e fazer uma digestão mais prolongada que o habitual... Incomoda um bocadito, mas felizmente são tudo situações transitórias, ao fim de um tempo passa e volta tudo à normalidade.

Também não consegue incomodar por aí além, ele coitadito é congenitamente atrofiado, e continua mirrado à conta da subnutrição.

Mas ainda assim, de vez em quando manifesta-se, o raio do instinto maternal!...

domingo, maio 27, 2007

Paciência

Ontem trabalhei onze horas seguidas, apareceu-me o período, e apesar da barriga a doer, lá fui levando o dia cantando e rindo. Quando me deitei, tarde e a más horas, tive que recorrer ao analgésico para conseguir descansar um pouco, hoje acordei com a mais ou menos habitual dor de cabeça do "day after", e a pensar que tenho mesmo que ir ligar o aspirador, porque ao menos isso tenho que fazer pela minha casa, mas estou com tanta vontadinha, que em vez disso estou aqui, agarrada ao teclado.

E hoje ao acordar, entrou-me pelos ouvidos esta canção, na voz da Mafalda Veiga e do João Pedro Pais:

Paciência

"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não... a vida não pára)"
Composição: Lenine e Dudu Falcão

E eu pensei: apropriado.

Agora é que tem mesmo que ser. Vou aspirar.

sábado, maio 26, 2007

Inevitabilidade

Não é caso de grande espanto, mas é sem dúvida um acontecimento importante.

Que eu até tenho alguma sorte nisto, primeiro porque o meu cabelo é castanho claro, no pino do Verão até aparecem umas madeixas loiras aqui e ali. E depois, acho que por predisposição genética, que lá em casa toda a família demorou a tornar-se grisalha.

Mas ontem, vi-o pela primeira vez. Ali está ele: inexorável. Com todo o ar de quem veio para ficar. De quem já sabe muito, até mais do que eu. O meu primeiro cabelo branco.

quarta-feira, maio 23, 2007

"Service"

Estes carros novos de agora são mesmo uma maravilha. O meu carro tão amado, o qual nunca deveria ter decidido comprar, porque já o comprei no limite das minhas posses e a pensar que isto nos anos seguintes iria melhorar, e como só tem vindo a piorar, que cada vez ganho menos dinheiro e tenho mais despesas, e o raio do veículo consome que se farta e ainda me faltam 19 prestações (arghhh!!!), dizia eu, o meu carro adorado é tão esperto, mas tão esperto, que descobri recentemente, pede-me para ir à revisão!

Coisa mai linda. É tão perfeitinho. Desde há uns dias para cá, quando ligo a ignição, as letras do conta quilómetros desaparecem e fica uma mensagem a catrapiscar, dizendo: "service". Isto a mim enternece-me, que querem?

Agora, o próximo passo de gigante na evolução da tecnologia automóvel é uma pessoa poder mandar uma mensagem lá para dentro do bicho, qualquer coisa do tipo: "Não tenho um tostão. Para te mandar para o "service" ainda tens que esperar pelo subsídio de férias".

sábado, maio 19, 2007

Candida Albicans, Update

Ou seja, a todos e a todas a quem este problema não diz nada, ainda bem para vocês, podem passar ao blog seguinte e voltar noutro dia qualquer. Para as restantes, e os restantes, que também os há, aqui fica uma actualização do que tem sido a minha relação com esta doença nos últimos tempos.

A minha Candida está, desde Março, controlada. Passei um fase muito má em Janeiro, quando celebrei o 1.º aniversário da dita. Nessa altura voltei à Maternidade Alfredo da Costa, e a seguir fui ao meu médico, que me pôs a anti-depressivos, tal era o estado miserável em que eu me encontrava. Tenho vindo a reduzir, e vou largá-los definitivamente no mês que vem.

Depois de despistar todas as possibilidades e mais alguma de eu ter algum outro problema de saúde que provocasse esta situação (tiróide ou outro distúrbio hormonal, infecção por bactéria, alergia), estou hoje em dia a encarar este problema como uma doença crónica que eu contraí. Daí não dizer que estou curada, porque não estou, mas apenas que consegui arranjar maneira de manter isto controlado. Um controlo muito instável, aliás. Basta comer alguma coisa mais calórica, ingerir menos líquidos, trabalhar mais intensamente, enervar-me, chego ao fim do dia e já estou com mais corrimento, sinal de que a bicha aproveitou logo uma qualquer fraqueza minha para se soltar das rédeas em que está presa.

Actualmente o que me preocupa é a dependência dos medicamentos para andar bem. Tenho a sentença lida para tomar Fluconazol uma vez por semana, num período que será de seis meses a um ano. Pode-me dar cabo do fígado? Pois pode. Fui fazer análises recentemente, estou à espera do resultado, para ir monitorizando a minha reacção a uma toma tão regular deste fármaco, e espero que o fígado se vá aguentando. De resto, tenho muitas dúvidas quanto à eficácia disto. Umas vezes acho que me faz bem, outras vezes tenho a impressão que até fico com mais corrimento dois ou três dias depois de o ter tomado, mas também não tenho uma certeza a cem por cento, e por via das dúvidas, vou tomando. Volto à Maternidade em Agosto, logo se verá.

Estou bastante satisfeita com a homeopatia, a minha conta bancária é que fica gravemente doente de cada vez que vou a uma nova consulta. Senti grandes melhoras com o tratamento que o homeopata me prescreveu, e o único problema é que umas semanas depois de o terminar... tive uma recaída. Já vou na segunda dose de um tratamento, que se baseia em dois princípios: fortalecer o meu sistema imunitário e controlar a acidez dos medicamentos que ingiro. Recordo que a Candida não sobrevive em meio alcalino. Logo, se a acidez dos alimentos for reduzida, a bicha fica sem ter do que comer. Isto para mim continua a fazer sentido, independentemente do que o senhor me veja no olho ou não. Ele na altura receitou-me uns óvulos que eu comprei mas não coloquei (ainda), porque não quis continuar a castigar a minha flora vaginal com substâncias, que eu às tantas já não tinha noção do que é que ajudava ou desajudava. De resto, o tratamento que faço é este: Prelief; Stauvita; Sanukehl Cand D6; Caprinol.

Mantenho as idas ao Alergologista. A vacina que comecei em Novembro do ano passado, ainda não chegou à dose mais concentrada, que supostamente começará a ser eficaz. Vou lá de quinze em quinze dias levar uma picadela, de cada uma das vezes a dose vai sendo maior, e no que a isto diz respeito, continuo a pagar para ver.

Bebo dois litros de água por dia. Quando me desleixo, ressinto-me. Não posso abusar dos doces, chocolate então, o melhor é nem o cheirar. Como uma laranja quando o rei faz anos, o leite está praticamente erradicado, é ainda mais raro do que as laranjas, sempre que bebo leite é tiro e queda o acentuar do corrimento. Passei de três cafés para um café diário. Cuecas de algodão, arejar, lavagem íntima sempre com água fria.

O Geliofil, que foi aqui aconselhado por um médico generoso a quem uma vez mais agradeço a simpatia e a atenção, tornou-se num companheiro regular. No final de cada período menstrual, três dias de Geliofil. Só tenho a dizer maravilhas. Disso e do Alkagin. Uso a loção de higiene íntima e o gel de aplicação vulvar. Já vi que a fase mais complicada é sempre a partir dos vinte dias de ciclo, e até aparecer a menstruação. Nessa altura a secura acentua-se, e a aplicação do Alkagin em gel é óptimo, sobretudo antes de deitar.

E agora poderão perguntar-me, mas assim com isso tudo, como é que sabes o que verdadeiramente te está a fazer bem? A resposta é: não sei. Nem sei se é apenas uma coisa, ou precisamente estas coisas todas em conjunto que me têm ajudado a manter algum equilíbrio. O que eu sei é que voltei a uma vida sexual regular, e isso parecendo que não, contribui e muito para a minha sanidade mental. Uma das coisas que me empurrou para a depressão foi precisamente essa incapacidade para o sexo, que era física mas também de uma total ausência de líbido. Isso fazia-me sentir um lixo enquanto mulher, e estive muito perto de me afastar do meu companheiro por causa disto. Felizmente os tempos actuais são bem melhores, que se vier por aí mais uma fase má, pelo menos já há memória de uma fase boa pelo meio.

Nunca esperei, quando falei disto pela primeira vez em Setembro do ano passado, que estivesse ainda hoje a ver aumentar a caixa de comentários deste post. Já vai em mais de 200, e há até quem me sugira a criação de um Fórum sobre este assunto. São muitas as mulheres e homens que se aproximaram de mim por conta desta doença, que comentaram, enviaram e-mails, procuraram, de alguma forma, conversar comigo sobre este assunto. Fico a imaginar quantos têm passado por aqui com o mesmo problema e que não chegaram a dizer nada.

Quanto aos que se chegam à frente, tenho procurado estar disponível para todos, embora sublinhe que estou longe de ser uma especialista na matéria. Agora, estou absolutamente convencida que este não é um problema de minorias. É uma doença grave, que provoca danos físicos e psicológicos profundos, e está em crescimento. O médico que achar que isto é coisa simples de resolver, até pode ser um bom médico, mas não tem condições de ajudar quem esteja com uma infecção recorrente de Candida Albicans.

E no entanto, a única maneira possível de lidar com esta doença é, precisamente, indo ao médico. Se não gostarem, se acharem que são mal acompanhadas, troquem. Vão a outro, e a outro, e a outro, até encontrarem aquele que vos dê a atenção merecida, e nessa altura, agarrem-se a ele com unhas e dentes, se for preciso. Ginecologista, alergologista, dermatologista, endocrinologista, homeopata, psicólogo, psiquiatra, o que for. O único caminho que eu posso sugerir é este: conhecer a fundo o próprio corpo, perceber que problemas de saúde poderão existir em concomitância com a Candida, porque se for um problema hormonal o tratamento é um, se for uma questão alérgica será com certeza outro, e por aí fora. Depois, por tentativa e erro, encontrar os medicamentos, ou produtos, que em cada caso possam ajudar a encontrar o tal equilíbrio. Identificar os hábitos, alimentares ou outros, que contribuem para melhorar a qualidade de vida, e seguir por esse caminho. Não vale a pena pensar em termos de cura. Isto é uma doença crónica, o melhor que se pode alcançar é o seu controle.

E o mais importante de tudo (que serve também para me lembrar a mim, no caso de um dia destes resvalar outra vez para o abismo): Não deixem de gostar de si próprias por causa disto. Perder a auto-estima é uma derrota que não podemos conceder a este fungo, que é desprezível ao ponto de se alimentar com a nossa infelicidade.

(Pode parecer outra vez um grande testamento em torno do mesmo assunto, mas as dezenas de pessoas que aqui vêm parar todos os dias, motivadas pela angústia que este problema produz, merecem-me todo o respeito e solidariedade. A única coisa que posso fazer por elas é dar o meu testemunho, por isso aqui está ele, uma vez mais.)