terça-feira, novembro 29, 2011

Zézé Camarinha, volta que estás perdoado

Pois que estou por aqui a puxar pela cabeça, e não me ocorre nenhuma tradução possível para Inglês, da nossa portuguesa expressão "vou andando". Então como é que estás, e tal, e a malta responde, "vou andando", mas se quisermos responder isto em Inglês, não sei realmente como fazê-lo.

Já a malta que domina mal o Inglês não tem problema destes. À cortez pergunta "how are you?", responderão prontamente, "I'm coming".

Pergunto-me o que terá ficado a pensar o interlocutor, face à resposta dada. É que, das duas uma, ou está a chegar, ou está-se a vir!... :-)

terça-feira, novembro 22, 2011

Da solidão e outros demónios

Perguntaram-lhe uma vez, se sentia raiva. Disse que não, que não tinha raiva. Tinha pragmatismo. E algum cinismo, também. A vida é o que é, e muitas vezes é uma merda, foi a brilhante conclusão a que chegou depois de ler todos os livros de auto-ajuda do mundo. Deitou-os fora logo a seguir, juntamente com a Bíblia, o Amor de Perdição, o Kama Sutra, a Crítica da Razão Pura e o Plano Oficial de Contabilidade. Guardou só os livros do Fernando Pessoa, que diziam que toda a metafísica do mundo estava na confeitaria, que vivem em nós inúmeros, que o único sentido oculto das coisas é elas não terem sentido oculto nenhum, e que nada mais restava do que ser eu mesma, que remédio.

Depois perguntaram-lhe, nesse caso, sem psicologia, nem deus, nem amor, nem sexo, sem filosofia e sem organização, como sobrevives. Ela respondeu que quando está fraca, come chocolates, toma ansiolíticos, engorda e tenta convencer-se de que está tudo bem. E quando ganhas forças. Nessa altura, respondeu, as frustações substituem-se por muitas horas de ginásio, livros que ensinem a pensar, activismo social, e no tempo que reste, contemplação das coisas bonitas do mundo, que em regra nada nos devem nem nós a elas, e por isso tudo é perfeito. Vais ver o mar, perguntaram, e ela disse, vou ver o mar.

Disseram-lhe, mas ninguém pode ser feliz com tanta solidão. Ela disse, não me venhas falar em solidão. Que sabes tu sobre a solidão? Deixa-me a mim dizer-te o que é isso. Solidão não é não ter ninguém com quem falar. É engolir as próprias angústias e auto censurar-se, ficar calada para não o aborrecer mais, coitado, já tem tantos problemas a atormentá-lo. É enganar-se e inventar desculpas, porque ele nem reparou que estava cansada, que estava triste, que estava bem disposta, que tinha ido arranjar o cabelo. Solidão não é estar sozinha. É estar acompanhada mas não ter companhia para o pequeno almoço, é pedir por favor, que ao menos hoje não te aborreças com o senhor do restaurante, porque faço anos e quero jantar em paz.

Celibato? Onde te convenceram que o celibato é solidão? Ficar a um canto com a vida entre parêntesis, e ver ao longe o homem que se ama a passar, na companhia da mulher que ele escolheu, isso sim, é solidão.

Então e no meio de tudo isso, a felicidade, achas que existe? Tenho a certeza que sim. Em alguns momentos, já nos temos encontrado.

Mas não sorriu quando respondeu.