sexta-feira, abril 22, 2011

Culinária, essa arte abominável

Julgo não ter ainda explanado nesta minha chafarica o quanto eu detesto, odeio, abomino cozinhar. Preparem-se então as almas, pois hoje é chegado o dia.

Seriously. Dêem-me casas de banho para limpar e é verem-me a esfregar sanitas e bidés com alegria, se estiver para aí virada, com a música em altos berros, dando piruetas e cantando em plenos pulmões enquanto loiças, espelhos e azulejos resplandecem à passagem das minhas mãos, frementes por higiene radical.

Agora na cozinha, é o horror. Para começar, convenhamos que mexer em carne e em peixe crú é um grandessíssimo nojo. Basicamente, a carne e o peixe, quando estão crús, cheiram mal. E escorregam das mãos, e têm gorduras, e escamas, e outras porcarias agarradas, o que me deixa logo com uma enorme vontade de ir fazer qualquer outra coisa, menos mexer naquilo.

Depois, é todo aquele mundo das receitas, quantas vezes ainda mais incompreensíveis e impossíveis de decifrar do que o estado das finanças do País. A ver se vos consigo explicar mais ou menos como sou eu a ler uma receita:
Ingrediente A: "não tenho"
Ingrediente B: "não tenho"
Ingrediente C: "não tenho e não sei onde se compra"
Ingrediente D: "não sei o que é"

Quando eventualmente consigo ultrapassar esta parte dos ingredientes, passo à parte da descrição da receita propriamente dita:
"Misture o ingrediente A com o ingrediente D e reserve. De seguida faça um não sei quê com os ingredientes B e C e depois de esperar 10 min...", não costumo ler muito mais que isto. ´É mais ou menos nesta altura que ponho de lado e desisto, exaurida só de pensar no trabalho que aquilo me vai dar.

E por outro lado, julgo que da mesma forma que um qualquer animal pressente as pessoas que não gostam dele, e reage a isso mesmo, acho que as cozinhas e os alimentos de um modo geral também pressentem esta minha aversão a eles. Só assim se explica que quando me dedico a cozinhar algo, os ovos explodam, o óleo espirre, o caldo entorne, as colheres e as tampas caiam para o chão com grande estrondo, para além de outras coisas imprevisíveis que sempre me acontecem.

Aqui há uns tempos atrás, resolvi fazer puré de batata. Sobrevivi. Mas estraguei dois passe-vites e depois de almoço andei a limpar puré de batata dos móveis da cozinha, em sítios que ainda hoje me parece que desafiaram as mais elementares leis da física...

Depois, há todo um drama a acontecer em torno dos filetes de pescada, não sei se alguém já reparou. Vivi num paraíso durante anos, porque havia isto, que era só meter no forno e eram mesmo bons. Ultimamente passo noites sem dormir, sem qualquer explicação que venha acalmar a minha angústia, porque deixei de os encontrar à venda. Não há filetes de pescada destes em lado nenhum! :-( Senhores da Pescanova: por favor, por favor, não os retirem do mercado. Agora só encontro pázadas disto e não me venham com conversas, porque não é a mesma coisa. Consequência: fazer filetes em casa à boa maneira tradicional (pois, pois...). Com óleo gordurento e de comportamento irrascível, a salpicar-me e a causar dores alucinantes, já para não falar da farinha espalhada por todo o lado, o polme que encaroça com a farinha, e no fim, já se sabe, toda uma cozinha imersa na maior imundície. Parecia que tinha acontecido um tornado de gorduranga por aquela bancada fora. Depois desta última experiência horripilante, concluo que só me restam duas alternativas, se quiser continuar a comer filetes de pescada. Ou descubro um ninho de filetes da Pescanova (mas terá que ser noutro lugar para além deste, julgo eu), ou compro um fato de astronauta para usar da próxima vez que os for fazer. Não me livra da cozinha destruída, mas pelo menos protege-me das queimaduras do óleo e da necessidade de tomar um banho de imersão e de por a roupa toda para lavar.

Mas a verdade é que é Páscoa. E por motivos emocionais que agora não vêm ao caso, germina em mim um imperativo categórico para que não passe mais esta ocasião festiva sem que se faça arroz doce cá em casa. Assim será. Mas palavra de honra, receio pela minha integridade física e pela daqueles que me estão próximos...

Estar velha é...

... Aceitar pedidos de amizade no Facebook vindos de criaturas que fomos visitar à maternidade quando tinham menos de uma semana de vida!... :-)

terça-feira, abril 19, 2011

sexta-feira, abril 15, 2011

Pragmatismo e desencanto

Não me mintas, pá. Não me canses a beleza com conversinhas de merda, não me esgotes as energias do dia com promessas do céu e da lua que já sabes de antemão que não vais poder cumprir.

Se como julgo, só me queres para um encontro ocasional e depois estás-te a borrifar para o que eu sinto, para o que eu penso, para quem eu sou e se fico bem ou mal, ao menos diz-me isso mesmo, que sempre fico a saber com o que posso contar. Confia em mim, a sério. Sou crescidinha, tenho muito juizinho, tenhas tu coragem para dizer as coisas como elas são, eu terei as forças para (me) aguentar.

Agora, não me digas que estás cá para mim para depois me ignorares no momento a seguir, quando eu mais precisar. Se não tens nada para me dizer, não me digas que depois falamos. Se os teus interesses são outros, não faças de conta que te interesso para alguma coisa, que eu dispenso essa tua condescendência. Dares-me um pouco da tua atenção não é um favor que me faças, percebes? É para essas merdas todas que já não há pachorra.

Não me queiras iludir, que eu já não tenho idade para isso e isso sim, é que me ofende. Ofende-me na minha inteligência e na minha dignidade. Sei que acima de tudo, dependo de mim própria. Não estou à espera que me venhas salvar a vida. Por isso, fala claro comigo.

É tudo o que te peço, querido futuro governante do meu País.