quarta-feira, julho 25, 2007

Quando uma transacção imobiliária se transforma numa novela mexicana

Consegui finalmente formalizar a compra da minha próxima casa. E digo finalmente porque ao longo destas semanas tenho vivido uma série de episódios bastante insólitos, que me têm feito andar numa espécie de montanha-russa de emoções, passando da euforia à extrema desilusão, conforme passo desde já a explicar:


Andei durante as minhas férias a ver casas e estando eu quase a decidir-me por um T2 muito jeitoso com um preço agradável, eis senão quando sou contactada por outro mediador muito prestativo, que me tinha mostrado uma outra casa, um T3, que eu já tinha posto de lado, por ser demasiado caro para mim, embora até estivesse realmente num preço bastante interessante. E diz-me este outro mediador, mas olhe que esse T3 que eu lhe mostrei, que até já está num preço bastante interessante, o proprietário está disposto a vendê-lo por um preço imbatível. Foi nessa altura que eu fiquei com os pirulitos todos a chocalhar, e lá fui eu ver outra vez a casa, mais a minha querida irmã, minha melhor amiga, e eterna companheira de momentos decisivos.

Ao fim de um dia cheguei à conclusão que aquele preço imbatível era de facto imbatível, e que aquela opção era muito melhor, sobretudo porque a casa me agradava mais. E aceitei. Feliz e contente, assinei um documento de reserva, passei um cheque sem cobertura e comecei a fazer planos.


Ao fim de dois dias, quando era suposto o proprietário já ter assinado o tal documento de reserva, telefona-me o mediador da casa, está boazinha e tal, sabe, o proprietário fez melhor as contas e está um bocado aflito, chegou à conclusão que o preço imbatível afinal não lhe dá muito jeito, e propõe em vez desse, um preço vá lá, razoavelzinho. A senhora aceita? Não, não aceito, era o que mais faltava, então mas que raio de negociação é esta? Para isso fico com a outra casa, que tem um preço agradável, o que me convém muito mais do que uma casa por um preço, vá lá, razoavelzinho. Que sim senhor, que não me preocupasse mais, que ele iria tratar do assunto.


E a partir daqui voltaram as minhas noites sem dormir. Incrédula, ainda pensei que o proprietário da casa era tontinho da cabeça, a propor preços malucos e a fazer as contas depois. Mas é claro que não foi nada isso que se passou. Depois de eu andar à espera de uma confirmação (ou sim ou sopas) ao longo de uma semana, fui chamada à Agência, já para falar com o gerente. Que se vira para mim e me diz, então a senhora fez aqui uma proposta de compra deste imóvel por um preço imbatível... E digo eu, desculpe, mas essa proposta não tem nada de minha, a não ser o facto de a ter aceite. A proposta foi-me apresentada pelo mediador que aqui trabalha, e supostamente foi apresentada pelo proprietário. Supostamente. Pois. Que o mais certo é ter sido apresentada pelo próprio mediador, à espera sabe-se lá de que milagre. E então o sr. gerente lá tentou outra vez convencer-me a comprar a casa por um preço, vá lá, razoavelzinho, e eu lá voltei a dizer-lhe que não. Dispus-me quando muito a pagar o mesmo que pagaria pela outra, ou seja, um preço agradável.


Mas depois de me vir de lá embora comecei a ficar com o estômago às voltas. Literalmente, que comer nestes últimos dias tem sido um enorme sacrifício, de tal maneira eu me senti mal com esta situação. É horrível a gente sentir-se enganada pelos outros. Como é que se mantém a boa-fé e ao mesmo tempo nos prevenimos da má-fé dos outros? Não se consegue, não é? Bem me parecia. Adiante. Ao fim de umas horas a partir pedra com o meu companheiro comecei a pensar, então estes gajos estão aqui a ter este comportamento absolutamente indecente, e eu ainda estou disposta a negociar com eles? Para quê? Cheguei à conclusão que a casa começava a ter um preço absolutamente inconcebível e resolvi desfazer o negócio. Com a minha casa para ser escriturada dentro de poucas semanas, fui começando a ver casas para alugar, enquanto enxugava as lágrimas que teimavam em querer aparecer, as parvas.

Então chega-se ao outro dia e volto à Agência, quero o meu cheque de volta, por mim isto acaba já hoje, acabou-se. E diz-me o gerente, se a senhora quiser, o negócio está de pé, por um preço imbatível. O mediador com quem falou já não trabalha connosco, por causa deste e doutros problemas semelhantes. Falámos com o proprietário, que também não está nada contente com isto, e na verdade eu não me disponho a ficar com duas pessoas insatisfeitas a dizerem mal da minha empresa. De moldes que proponho a realização do negócio, pelo tal preço imbatível, sendo que a Agência não irá cobrar qualquer valor de comissão desta transacção. Prefiro isso a prejudicar a imagem aqui da minha chafarica.


Aceitei o preço imbatível nas condições apresentadas. Por sorte o proprietário, também já pelos cabelos com isto tudo, resolveu pôr o próprio número de telefone na janela da casa, e eu telefonei-lhe. Conversámos os dois e desta vez aquilo que nos estão a dizer confirma-se tudo. Portantos, acho que desta vez a coisa vai encarrilhar. Que até ao contrato promessa de compra e venda nunca se sabe. Lá vou eu rezar outra vez ao santo protector...

E foram assim passados os meus últimos dias. E foi assim que eu acho que comprei, hei-de comprar, se tudo correr bem e não falhar mais nada, uma casa.

Isto sim, é o sonho de qualquer mulher (e de qualquer homem também)


Seca a roupa, passa a ferro, e ainda consegue ser bonito. É caro como o raio: 1880 €. Mas por mim, vale a pena o investimento. Não sei quando vai ser, mas um dia vou ser dona duma coisa destas. De certezinha absoluta.


Olha aqui tão lindo, de portinha aberta:


quarta-feira, julho 18, 2007

Sobre a roda dentada do destino


A ver se me consigo explicar. A minha imagem do destino é mais ou menos a do mecanismo de um relógio. O destino é a roda dentada maior. As nossas vidas são as rodas dentadas mais pequeninas, o que quer dizer que qualquer um de nós dá não sei quantas voltas a mais sobre si próprio, ao mesmo tempo que a roda dentada do destino dá umas voltas muito maiores, e necessariamente mais lentas.

Imagino ainda que apenas um número muito reduzido de dentes na grande roda dentada do destino tenham a capacidade de produzir acontecimento importantes. Então, isso leva a que nós, pequenas rodas dentadas, levemos a vida por vezes muito cansaditas de andar às voltas, a cumprir com as nossas obrigações mas sempre a fazer projectos, que as rodas dentadas mais pequenas têm sempre muitos sonhos por concretizar, e até há quem diga que são as vontades das pequenas rodas dentadas que dão energia ao relógio para trabalhar. Donde se pode concluir que a grande roda dentada do destino só anda por conta das pequenas rodas dentadas, que a fazem girar. Mas adiante.
Dizia eu que assim sendo, "longa se torna a espera" pelos momentos em que o tal dentinho da roda dentada grande toca a nossa minúscula, porém significante, vida. Mas de muito em muito tempo, lá surge o dia, os dias, em que esse tal dente encaixa na nossa pequena roda dentada. Nessa altura, muito provavelmente, quem estiver com atenção consegue ouvir distintamente o mecanismo a funcionar.
Para o melhor e para o pior, a roda toca-nos e determina novas realidades. E a pequena roda dentada faz o que está na sua génese: continua a girar, a projectar, a realizar. Mas as voltas, parecendo as mesmas, serão outras, porque é esse o efeito que a grande roda do destino sempre consegue exercer. Nunca nada fica como antes.

sexta-feira, julho 13, 2007

Mudar de casa

Quando há sete anos atrás comprei esta casa que agora vendi, foi tudo muito diferente. Estava a sair de casa dos meus pais, a casa que então encontrasse era o meu primeiro espaço próprio, para eu (me) construir de raiz. Na altura foi relativamente fácil, encontrei a casa que quis, pedi o empréstimo ao banco, e depois pronto.

Desta vez é tudo muito diferente, e hoje confesso que estou particularmente vulnerável. Estive dois anos à espera de vender esta casa, a fazer planos sobre o lugar para onde iria viver a seguir. Sendo que o lugar para onde se vai viver é um lugar onde nós estamos todos os dias, uma casa não é apenas uma casa, é uma coisa que ao longo do tempo se incorpora em nós, ganha o nosso cheiro, reflecte os nossos hábitos, é ao mesmo tempo palco dos nossos melhores e piores momentos, é refúgio, local onde acontecem as nossas maiores intimidades, onde só entra quem a gente quer, onde está grande parte daquilo que somos.

Já dei comigo a olhar à minha volta, aqui no meu T1 que eu quero muito ver pelas costas, e a sentir alguma nostalgia a escorrer pelas paredes abaixo, uma sensação de perca que se instala ao fim do dia, quando o sol começa a desaparecer na cozinha, uma impressão parva de invasão de privacidade quando o comprador me telefona a dizer que já deu esta morada em alguns lugares, que se faz favor o avise no caso de chegar correio para ele.

E agora, para onde é que eu vou? Todas as hipóteses são boas e más, nenhuma é o ideial alimentado ao longo destes dois anos, e por outro lado, todas representam oportunidades de negócio tão boas, mas tão boas, que é difícil discernir qual é a melhor oferta de todas. Os vendedores de casas são muito faladores. E têm sempre qualquer coisa na manga, à espera do momento certo para nos manipularem. São simpáticos e assertivos até ao limite da exaustão. E não têm muitos compradores, então mergulham de cabeça em cima dos poucos que existem. Mergulham de cabeça em cima de mim, portanto.

Com os bancos posso eu bem, fazem-se as contas e pronto, também aí já vi que quem precisa está sempre lixado, mesmo... É como ter um cobertor demasiado curto, é só uma questão de perceber o que é que preferimos ter destapado, se a cabeça ou os pés.

E então especialmente hoje, quando já quase tinha tomado uma decisão, eis que surge uma nova proposta para baralhar e tornar a dar. Fazendo da minha futura casa uma oportunidade de negócio, uma oportunidade de negócio para eu depois transformar num lar. Como é que eu sei, de entre tantas e tão boas oportunidades de negócio, qual a melhor opção para que daqui a uns tempos eu me sinta, novamente, na minha casa? E de preferência, sem que as paredes assistam logo de início a lágrimas de arrependimento?...

PS: Eu sei que isto são dilemas dos bons, quem sou eu para me estar aqui a queixar. Mas a verdade é que esta semana tenho dormido muito mal à conta desta questão. E se por um lado, estar de férias tem sido óptimo para tratar de tudo com tempo, há se calhar demasiado tempo livre entre mãos para matutar nisto. E isso também tem o seu lado negro, sem dúvida...

quinta-feira, julho 12, 2007

Situação: capaz de lhes ir às trombas

Ando eu práqui a ver euros e mais euros à minha frente, e há uns euros que não há meio de ver: o reembolso do IRS. Malta que entregou depois de mim, já recebeu, muitos ainda em Junho. E eu, que entreguei aquilo logo no início do prazo, quando vou consultar a minha "situação", dou sempre de caras com isto:

Situação REEMB: EMISSÃO ATÉ 31 DE AGOSTO
Filhos da mãe. Aqui há uns tempos atrás mandei-lhes um mail a perguntar quando é que começavam a pagar. Nunca tive resposta, claro. Mas este ano, com este atraso todo, que aliás nunca me tinha acontecido, fico a perguntar-me: tu queres ver, que lá nas catacumbas empoeiradas do Ministério das Finanças (sim, porque eu imagino sempre que aquilo há-de ser num buraco qualquer, onde eles vivem a contar o dinheirinho que nos levam todos os meses, e a verem-no a acumular até forrar as paredes e o tecto, e devem ser tão sumíticos que nem devem estar dispostos a pagar a alguém para lá ir fazer limpeza, e depois devem ficar a chorar agarrados às notas antes de começarem a largá-las para nos fazerem os reembolsos), dizia eu, tu queres ver, que algures num desses buracos, um reles funcionário recebeu o meu mail de alguém nitidamente à rasca para receber o raio do dinheiro, e pensou: "Ai está com pressa, a menina? Pois este ano hás-de ser das últimas a receber, que é para aprenderes a não vires entupir-me a caixa de e-mail com perguntas parvas".
Não sei, não sei, mas a mim parece-me uma boa teoria da conspiração. Ressabiados do caraças, é o que eles são todos. Só vêem dinheiro à frente, até metem nojo, palavra de honra. 31 de Agosto. Pffff!...

segunda-feira, julho 09, 2007

Decisões, decisões

T2 ou T3? Rés-do-chão ou primeiro andar? Se quero mais um quarto não tenho onde estender roupa, se não tiver hall de entrada tenho que me desfazer de alguma mobília... Mais recente e virada para a estrada, ou mais antiga e com uma palmeira à frente da janela (se bem que também virada para uma estrada)? Toda viradinha para o jardim é que era, mas não há...

Compro no limite do plafond estabelecido, ou fico-me pela que me deixa mais à-vontade financeiramente? Com parqueamento ou sem parqueamento, com arrecadação ou sem ela?

Decido já ou espero para ver aquela que os donos só vêm de férias no fim do mês?...

Quem diria que as minhas férias iam servir para limpar a que já está vendida, e para procurar a que vou ter que limpar a seguir!...

quarta-feira, julho 04, 2007

Blimunda doméstica vs Blimunda patroa

450, contei-os eu, de diferentes tamanhos, qualidades e feitios. Raios partam a mulher com a mania que é intelectual, para que quererá ela tanto livro, sempre gostava eu de saber.

Soubesse ela a trabalheira doida que aquilo dá, tirá-los a todos das prateleiras, limpá-las e voltar a pô-los todos outra vez no mesmo sítio, por ordem alfabética de autores!!!

E ainda por cima a trabalhar de borla.

segunda-feira, julho 02, 2007

Férias

Para dormir até tarde.

Limpar a casa como deve ser.

Dar-me ao luxo de não ter pressa.

Afastar-me do emprego por uns tempos, coisa importante para a sanidade mental.

Férias para repor energias. Bem bom.