sexta-feira, outubro 28, 2005

Máscaras

Todos nós as usamos. São assim uma espécie de lente de aumentar, servem para evidenciar alguma coisa que se queira mostrar bem, de tal forma que até pareça maior do que aquilo que é. É muito útil, porque ao mesmo tempo que exaltamos o que queremos mostrar, também nos protegemos, e até escondemos aquilo que temos de menos bom.

Há pessoas que andam sempre mascaradas. Pelo sim pelo não. E assim exibem orgulhosamente a máscara que as torna pessoas de grande virtude, a máscara que evidencia a sua grande inteligência, a máscara que faz delas uma grande simpatia, a máscara que dá provas da sua grande competência, a máscara que as dota de uma grande sensibilidade e de um amor ao próximo – e a Deus – muito, mas mesmo muito grande.

Às vezes caem as máscaras. Quando isso acontece é uma tristeza, porque quase sempre, caídas elas, vamos a ver quem está por trás e a única coisa que encontramos é…

… uma pessoa pequena.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Mudar

É sempre bom, nem que seja para pior. Acredito nisto, sinceramente.

Mas só por hoje, estou com dores de cabeça.

Greve de juizes

Confesso que não tenho uma opinião inteiramente formada. Que eles têm uma vida muito melhor que a minha, e que a ideia de juízes a fazerem greve me parece tão inusitada quanto as maçãs a caírem para cima, lá isso é verdade.

Por outro lado, os meus princípios de esquerda têm como lei fundamental que todos têm direito à greve, e quando se fala em abdicar disto, seja para que classe for, começo logo a torcer o nariz.

Mas tudo isto é teoria. Quem pelos vistos anda dentro do convento tem outras histórias para contar. Continuo com dúvidas, mas fiquei a pensar nisto.

terça-feira, outubro 25, 2005

Ressaca

Reconfortou-me hoje de manhã ler isto. Na minha modesta opinião, este rapaz é um grande talento, muito para além da história do homem do bolo, e que com tão tenra idade tem sabido muito bem evitar os deslumbramentos, deixar de lado o caminho mais fácil e construir uma carreira cumadeveser.

Há uns anos atrás, também eu pude experimentar a vertigem que provoca o medo antes do espectáculo. E depois, a sensação de se estar vivo que o palco nos provoca. Veste-se um personagem que nada tem a ver connosco. Não somos nós. Mas é o nosso modo de ser mais íntimo que está ali escancarado, para os outros verem, para nós próprios descobrirmos. É isto que faz a ressaca. Acho eu.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Como se isto interessasse a alguém...

... Passei a colocar aqui ao lado a indicação dos canhenhos que for lendo.

Obrigada à amiga xana por ter permitido o copy/paste, sem o qual esta fabulosa inovação bloggística não teria sido possível.

domingo, outubro 23, 2005

A casa é bizarra como eu

Primeiro foi a prateleira da estante. Tombou de um dos lados, quase sem barulho nenhum, fez assim um "ploft", como quem diz, "ai credo, que já me custa tanto a aguentar este peso em cima". Tombou mas segurou estoicamente os livros em cima, o que foi positivo.

Ao fim de dois dias tombou outra. Grande espalhafato, livros pelo meio do chão, mas eu já tinha comprado coisas para substituir as outras coisas que se tinham partido e que servem para segurar as prateleiras nas estantes. Endireitei as prateleiras, pus os livros em cima outra vez.

Depois foram os estores da marquise. Cordão que serve para abrir e fechar, partido. Ou seja, ainda tenho que mudar esta porra toda antes de vender a casa.

Há bocado, e isto é que é muito estranho, dei com a mesma primeira prateleira outra vez tombada exactamente da mesma forma, com a coisa nova que eu lhe tinha posto, também ela partida. O interruptor da cozinha ameaça avariar-se a qualquer momento.

Não há dúvidas. A minha vontade de mudar de casa está a começar a transferir-se para os materiais que me rodeiam. A casa já sabe que eu desisti dela. Quer-me cá parecer que agora é ela que está a desistir de mim...

Agora já só rezo para que não se estrague nada de realmente sério e dispendioso de consertar, tipo, a canalização, ou a máquina de lavar...

sábado, outubro 22, 2005

Será bom sinal?...

Desde há uns meses para cá, têm sido vários os mediadores imobiliários que me entram pela casa adentro.

Hoje entrou cá um que foi direito à estante repleta com a obra (quase) completa do Saramago e confessou-se também ele um admirador do nosso Nobel. Apontou os livros de que gosta mais, e confessou aqueles que não consegue ler nem entender. Ficámos ali um bocado, a falar dos livros.

Não sei se tem jeito ou não para vender casas, mas os gostos litérários do senhor já me deixaram com uma certa sensação de bom augúrio...

sexta-feira, outubro 21, 2005

Todos os homens são maricas quando estão com gripe

É mais uma letra daquele álbum do Vitorino, com letras de António Lobo Antunes.

Inspirada pelas notícias da gripe das aves e por alguns casos da vida comum, aqui fica mais esta pérola:

"Pachos na testa
Terço na mão
Uma botija
Chá de limão
Zaragotoas
Vinho com mel
3 aspirinas
Creme na pele

Dói-me a garganta
Chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
Mede-me a febre
Olha-me a goela
Cala os miúdos
Fecha a janela

Não quero canja
Nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes
Não vales nada
Se tu sonhasses
Como me sinto
Já vejo a morte
Nunca te minto

Já vejo o inferno
Chamas diabos
Anjos estranhos
Cornos e rabos
Vejo os demónios
Nas suas danças
Tigres sem litras
Bodes de tranças

Choros de coruja
Risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
Que foi aquilo
Não é chuva
No meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes
Fica comigo

Não é o vento
A cirandar
Nem são as vozes
Que vêm do mar
Não é o pingo
De uma torneira
Põe-me a santinha
À cabeceira

Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus
No cobertor
Chama o doutor
Passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes
Nem dás por nada

Faz-me tisanas
E pão de ló
Não te levantes
Que fico só
Aqui sozinho
A apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer"

quarta-feira, outubro 19, 2005

Beijos e orgasmos

Edvard Munch, nascido na Noruega em Dezembro de 1863. Gustav Klimt, nascido na Áustria em Julho de 1862. São os respectivos autores das obras que aparecem abaixo, sob o mesmo nome:

The Kiss, 1897 The Kiss, 1907-1908

É curioso, não é? Mas não é o único exemplo, que me leva a concluir que Klimt se inspirava bastante no Expressionismo de Munch:

Madonna, 1894-5 Danae, 1907-8

Segundo as descrições, ambos os artistas encontraram estas diferentes formas para expressar o orgasmo feminino.

Muito bom. Refiro-me ao trabalho de Munch e de Klimt, não ao orgasmo feminino, hein?... Para constatar o óbvio não é preciso vir para aqui postar...

quinta-feira, outubro 13, 2005

Livrai-nos do mal

A cidade onde sempre vivi tem 30.000 habitantes*. Ora, num sítio onde vive tanta gente a coisa mais natural deste mundo é que, com regularidade, morra mais do que uma pessoa no mesmo dia, e portanto, dois ou mais núcleos familiares se juntem na casa mortuária numa mesma noite, para passar aquelas horas que são muito dolorosas e que ninguém deseja, mas que todos nós já tivemos que enfrentar, seja por conta da morte de um parente próximo, ou simplesmente para mostrar solidariedade junto dos nossos amigos.

Ora, aqui nesta cidade a casa mortuária há anos que não corresponde às necessidades. Um espaço exíguo, a cair de velho, de difícil acesso, que não oferece as mínimas condições, nem sequer de dignidade para com o morto, quanto mais para com os vivos, que naquela hora já têm bem a sua conta.

Recentemente, foi inaugurada nesta mesma cidade uma mega igreja que do meu ponto de vista é a coisa mais inútil que pode haver. Um elefante branco que é o catolicismo no exercício pleno da sua megalomania, instalado num terreno enorme que estava mesmo bem situado para a construção de um centro cultural, por exemplo, coisa que esta cidade também não tem, e que nos fazia muito mais falta.

Adiante. Inútil para mim, a não ser justamente no que respeita à casa mortuária, que pelos vistos existe nesta nova igreja, finalmente com o número de salas e espaços adequados à dimensão da cidade onde está instalada.

Tudo muito bonito, não fosse a dita igreja estar mesmo ao lado de uma escola do primeiro ciclo. Então não é que os pais desta escola desde o início se insurgiram contra a presença da casa mortuária ao lado da escola, e não querem que os filhos estejam “paredes meias” com o ir e vir de carros funerários, pessoas a chorar e vestidas de negro, enfim, receiam que as crianças fiquem traumatizadas!...

A casa mortuária está fechada por conta deste grupo de pessoas, e a cidade continua a recorrer ao tal espaço que há mais de 10 anos não tem condições para servir a população.

Eu peço imensa desculpa. Não sou mãe e já sei que quem tem filhos sente as coisas doutra maneira e tal, e que se eu tivesse um filho também não gostava e coiso. Mas digam-me lá uma coisa: a morte não faz parte da vida? Traumatizados porquê? Então não compete aos pais, educadores e professores, explicar aos meninos o que é a morte e que o que é que ela implica? Não se querem dar a esse trabalho? Quer-me cá parecer que estes miúdos até podiam ter ali alguma vantagem em relação a outros, que com o poder de encaixe que eles têm rapidamente compreenderiam o que se estava ali a passar, e seguiam em frente. Estarei enganada?...

Mas que raio de maneira de educar é esta que parte do princípio que as crianças têm que crescer cristalizadas numa bolha cor-de-rosa com cheiro a morango, onde tudo são sorrisos, facilidades, roupinhas Bennetton e chocolates Kinder? A vida não é assim. A vida cheira mal, é perigosa, está cheia de gente má, traz consigo muitos problemas e desgostos, e por causa disso, muitas vezes a vida faz-nos chorar e sentirmo-nos infelizes. E todos os dias há gente que morre. Se as crianças não são preparadas para isto tudo, em que espécie de pessoas é que se irão tornar?

Já para não falar que estão 30.000 habitantes a serem prejudicados por conta do egoísmo dos pais de 300 alunos.

Não se fique com a ideia que, para mim, os miúdos serem criados ao pontapé é que é bom. Não é nada disso. É claro para mim que a protecção está na essência de se criar um filho. Mas parece-me que hoje em dia, em resultado de (felizmente) muitas famílias poderem dispor de melhores condições de vida, há a tentação de super-hiper-proteger, dar tudo já que se pode dar tudo, e como sempre acontece, o excesso nunca é benéfico.

Resta saber se muitas vezes a hiper-protecção não serve também para descarregar as consciências, uma qualquer forma de compensação sobre outras coisas que não se dão, seja porque não se tem para dar, seja porque não há tempo para dar. Os tais afectos, a tal educação, a tal formação… Mas isto dava pano para muito mais e eu hoje até já me alonguei...

Eu estou mesmo só revoltada porque a casa mortuária devia funcionar, raios!!

* Nota da energúmena que escreve estas balelas: a minha triste cabeça loira não escorreu o suficiente para reparar que 123.000 habitantes era capaz de ser um grandessíssimo exagero, justificado apenas pelo facto de eu estar a olhar para o número de habitantes do Concelho, e não da freguesia em questão. De moldes que o número correcto é aquele que agora está ali em cima, com as minhas sinceras desculpas à meia-dúzia de pessoas estranhas que se dá ao trabalho de vir aqui ler estas coisas.

terça-feira, outubro 11, 2005

Uma desgraça nunca vem só

Se houvesse justiça no mundo, uma mulher constipada jamais estaria, ao mesmo tempo, menstruada!

... Mas este mundo não é justo.

sexta-feira, outubro 07, 2005

BEMVINDO SR. PRESIDENTE

"Soubera eu que o senhor vinha
e com certeza não me tinha
apanhado na cozinha

ovos mexidos com salsichas
batata frita de pacote
e o que sobrou de um happy-meal
três embalagens de ketchup

Soubera eu que no rastreio
eu tinha sido o escolhido
um caso típico do meio

teria pedido ao serviço
que à parte de me ter dispensado
que atribuísse qualquer verba
p`ra eu tratar do convidado

Não é casa que se mostre
não é casa que se mostre
a um visitante tão ilustre

Mas
Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente
Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?
Ah! Assessores…

Soubera eu do seu programa
e teria pelo menos
recolhido o sofá-cama

foi lá que ressonei pesado
sonhei vinganças de ex-marido
e nem senti que a mãe e o puto
p`la manhã tinham fugido

mas isso agora não interessa
mas isso agora não interessa
fotos, poses, peça, peça

Mas
Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente

Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?

Ah! Assessores…

Soubera eu desta visita
e não me tinha agora aqui
a queixar-me da desdita
do futuro um parasita
eu que quis vida bonita

a sua agenda é apertada
e a sua vida correria
posso já ficar sózinho
ou quer ainda que sorria?

o certo é que o senhor merece
o certo é que o senhor merece
esquecer o que me acontece

Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente
Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?
Ah! Assessores…
"

Sérgio Godinho, in "Lupa", 2000
Vamos lá então votar...

quinta-feira, outubro 06, 2005

- Dói-me tudo!...

... E tenho isto tudo apanhado. Ai, ai, ai, estou a sofrer tanto, eu nem devia estar aqui!...

- Realmente, o senhor está com um ar muito doente. Devia estar era em casa, metido na cama... Não é melhor sentar-se?...

- Não, não, menina, que eu só consigo estar de pé, nem sentado me aguento, veja bem a minha desgraça! Estou de baixa, não consigo trabalhar... Até a respirar me dói, estou todo esfolado... (tosse, tosse, mostra as feridas), AI!, AI!, ai, ai, ai...

- Então, mas, mas... O que é se passa consigo? Caiu dumas escadas abaixo,teve um acidente em serviço, está tuberculoso, tem um cancro em fase terminal, é o quê?...

- Nada disso. Estive nas esperas de toiros e fui colhido. Ai, ai, ai, coitado de mim, que podia ter morrido, sou um desgraçado, ai que dores, ai, ai...

terça-feira, outubro 04, 2005

Ganhei!

Nadei 1.024 metros em 50 minutos. Andava há que tempos a projectar ultrapassar a barreira psicológica do quilómetro mas não havia meio, e ficava-me sempre pelos 960. Foi hoje. Sou a maior.

É o quê?... Levar quase uma hora para nadar 1.000 metros não é nada?... Acham fraquinho?...

Tenham juízo. Isto é um feito histórico, que a única competição legítima é connosco próprios!!!

segunda-feira, outubro 03, 2005

É com cada chouriço!!


Esta, e outras preciosidades, podem ser encontradas aqui. Uma pequena amostra (havia tantos outros para acrescentar) das maravilhas que se têm feito nesta campanha eleitoral.

Se isto é assim na campanha, o que nos reservará o dia 09? Eu, enquanto cidadoa, estou cheia de expectativa...