Em vésperas de ir de férias, tenho adiado a visita à senhora das depilações, que é para quando for embora, ir nas melhores condições possíveis.
Agora... dado o tempo prolongado que o pelo tem tido disponível para crescer à vontade, não sei se a senhora amanhã se desenrasca com as bandas de cera fria, ou se não terá que recorrer ao corta-relva...
quarta-feira, agosto 29, 2007
sexta-feira, agosto 17, 2007
O dilema da maternidade
Ser mulher e não querer ser mãe é uma coisa que na maior parte das vezes causa grande desconfiança a toda a gente. Não é suposto, as pessoas começam a olhar de lado e perdem-se logo uns tantos pontos no ranking da valorização social. Uma mulher sem apelo pela maternidade é mais anti-natural do que um preto de cabeleira loira, ou um branco de carapinha. Mas existe, cada vez acho mais que não são assim tão poucas, e eu sou realmente uma delas.
Levei a minha vida toda a assistir ao comportamento habitual das mulheres, ou mesmo raparigas, à volta dos bébés. Muitos "hiis", e "oh, tão querido", e "que fofo", e toda a gente a querer pegar na criatura, fazer festinhas, dar beijinhos. Não é que eu às vezes não gostasse de comungar desse mundo de encantamento a que tantas mulheres se entregam perante um bebé de colo, até porque a sensação de exclusão é inevitável. Mas a verdade é que não me identifico minimamente com essas reacções. Não acho piada nenhuma a bébés. São totalmente dependes para tudo, desde o comer ao lavar, ao xixi e ao cócó, não falam, não interagem praticamente, e eu não lhes encontro ponto absolutamente nenhum de interesse. Pronto, já deve estar muita gente a ler isto e a olhar de lado. É o costume, mas é assim que eu me sinto e quanto a isso não há nada a fazer.
Ser mãe é uma possibilidade que, quando eu me ponho a pensar nisto mais a sério, me deixa aterrorizada. Não estou a exagerar. Fisicamente, acho que é um processo do mais violento que pode haver. E não falo só do parto, falo de todos os meses de gravidez que poderão implicar (cumulativamente ou não), dores no peito, prisão de ventre, ou em alternativa diarreia, náuseas, vómitos, dores nos rins, inchaço das mãos, dos pés, manchas na pele, aumento de peso, e isto se à partida não houver problemas de saúde associados, tais como a diabetes ou a hipertensão arterial. Depois, a perspectiva existencialista da coisa. Surge uma outra pessoa na nossa vida à qual ficaremos vinculados para sempre. Para o resto da vida. Nunca mais acaba, nem se pode interromper, nem devolver, nem nada. É para o resto da vida. Tipo, não sei se já disse, para o reeeeeessto da vidaaaaaaaaa!...
Ah e tal, mas ser mãe é maravilhoso. E ser pai também. Toda a gente me diz isso e eu acredito, sinceramente. Há-de ser com certeza um sentimento do mais avassalador que pode existir, nem pode ser doutra maneira. Pois se eu convivo com o filho do meu companheiro e já sinto por ele uma ternura tão grande, o que seria então com o tal ser que sairia de dentro de mim? E senão fosse esse sentimento, como é que alguém aguentava a violência de assegurar o bem-estar de um ser humano nos seus primeiros meses de existência? Eu respeito o mais possível este sentimento tão incondicional, e esta generosidade de gerar e criar uma outra pessoa para o mundo, mas... Será que eu quero isto para a minha vida?
Tenho muitas amigas com filhos, aliás, acho que hoje em dia não tenho nenhuma que não os tenha já. E oiço falar muito sobre aquilo que eu muitas vezes chamo, ironicamente, de "delícias da maternidade". Das birras e dos gritos, do acordar de madrugada para dar comida, adormecer, mudar fralda, mudar a roupa da cama porque houve xixi, limpar vomitado, ir para o hospital porque está doente, etc., etc., etc., mas já se sabe, ter filhos é maravilhoso. E eles compensam isso tudo. Ainda assim, as minhas amigas que têm filhos lá se vão queixando que não dormem, não têm tempo para mais nada, que não conseguem ir ao cinema ou sair para jantar (mas em contrapartida passaram a ter que arranjar tempo para andarem numa correria doida e levarem os filhos à natação e ao ballet e ao taekwondo e à música e à ginásticae ao inglês), vivem angustiadas com as doenças e os almoços e os jantares, e as horas dos banhos, e se eles saem agasalhados ou com roupa demais, e muitas vezes ficam tão cansadas que já nem têm cabeça para se preocuparem com mais nada nas suas vidas. Eu respeito em absoluto se este dia-a-dia as completa e a presença dos filhos as compensa de todas as dificuldades, mas eu pergunto-me, será que isto me completaria e compensaria a mim? Tenho a certeza que não. Se eu nunca for mãe, ficam a faltar-me vivências muito especiais e únicas, sem dúvida. Mas quando olho para isto tudo em perspectiva há sempre uma voz cá dentro a dizer que eu não quero este dia-a-dia para a minha vida. E aposto, aposto, que há muitas mulheres que tiveram filhos porque sim, e que vivem a carregar as frustrações da vida que gostariam de ter e não tiveram, mas que continuam a dizer, com toda a sinceridade, que ser mãe é maravilhoso. Mas se calhar muitas delas vão ficar a dever muito a elas próprias. Não sei, fico muitas vezes com esta impressão.
Há quarenta anos atrás as mulheres tiveram que batalhar muito para ganharem o seu lugar no mundo do trabalho. Porque não queriam estar reduzidas à casa, ao marido e aos filhos, queriam mais. Vejo hoje em dia que o fenómeno está invertido. Olho à minha volta e o que não faltam são mulheres que vêm trabalhar todos os dias simplesmente porque tem de ser, porque o salário do marido não chega para o orçamento familiar. Mas o que elas queriam mesmo era a casa, o marido e os filhos, e isso lhes bastaria. Esta é a parte que mais me custa a entender. Respeito, claro, que cada um realiza-se na vida conforme queira e o leque de opções é muito vasto, mas entender, não entendo.
(Ia no outro dia no comboio e uma senhora a meu lado falava em tom aprovador duma jovem mãe que teve o primeiro filho e gozou do tempo máximo de licença de maternidade que lhe foi permitido, a saber, três anos. Então, programou a chegada do segundo filho para o final dessa primeira licença, e prepara-se para se mandar para mais três anos de licença. Com um bocado de sorte, com o marido a ficar cada vez melhor na empresa, a dita senhora já nem pensa verdadeiramente em voltar a trabalhar. E eu, que até ia meio a dormir no comboio, com a perspectiva de ficar seis anos seguidos só dedicada aos filhos e à casa, bateu-me uma espertina que já não me deu descanso até ao fim da viagem! :-) )
Do meu ponto de vista estas mulheres, enquanto indivíduos, constroem-se muito pouco. E quando um dia destes as circunstâncias mudarem, os filhos forem à sua vida, ou o marido deixar de garantir o rendimento da família, ou pura e simplesmente a relação terminar... Bom, nessa altura o que restará, se não cultivarem um pouco a própria individualidade?
Eu gosto muito do meu trabalho. E tenho ambições de carreira. Adoro estudar. Se a vida me corresse bem nos próximos tempos, no espaço de três anos ia fazer o mestrado. E assumo que é neste tipo de projectos que me sinto plenamente realizada. É pensar nestas coisas que me enche o coração de energia, não é pensar que posso vir a ter um bébé para criar. É claro que um filho não representa necessariamente o fim de uma carreira profissional, ou de outros projectos que a pessoa tenha. Mas implica o tal compromisso para a vida, que necessariamente traz alterações profundas e reduz muito a liberdade individual. E contrariamente à ideia (ainda) vigente, de que o grande objectivo da nossa vida é crescermos e multiplicarmo-nos, acho que a minha própria existência, mesmo sem filhos, faz todo o sentido só por si. Não acho nada que seja egoísmo, é uma preservação do valor que todos nós temos, enquanto indivíduos.
Onde está, então, o dilema? Está no raio do prazo de validade. Passei os vinte e os trinta com esta ideia de que para já não, e um dia mais tarde logo se vê, pode ser que a vontade surja sabe-se lá de onde. É que eu tenho plena consciência de que, se a tal mulher que abdica dela própria pelos filhos virá de certeza a pagar a factura de não se ter a si msma, eu poderei vir a pagar a factura do arrependimento, quando o meu corpo me fechar a porta a essa possibilidade. Os 35 já vão a caminho de 36, e sei muito bem que não existem decisões inconsequentes...
É claro que, se quiser, arranjo já aqui dezenas de factores circunstanciais, relacionados com a minha actual e anteriores relações, que declaram a maternidade como algo que ainda nunca fez sentido algum colocar em agenda. Por diferentes ordens de razões, não é este o momento apropriado, tal como não foi o momento apropriado aos 30, ou aos 25, ou aos 20. Mas como diz o outro, não é esta a questão essencial. A questão essencial é mesmo a da vontade. E o dilema, que por vezes se traduz numa certa dúvida sobre a melhor decisão a tomar, está mais relacionado com o prazo de validade do que propriamente com a vontade. É uma espécie de síndrome do "compre já antes que esgote". É por estas e por outras que os saldos são tão perigosos, por exemplo, a gente vê montes de boas oportunidades ali à mão de semear, compra, e só depois é que se pergunta para que raio precisa daquilo. Não que eu compare o meu prazo de validade com uma época de saldos. Não, que horror, era lá capaz de uma coisa dessas. Bom. Pensando bem... Olha, já comparei. Adiante.
O dilema da maternidade, pelo menos o meu, é isto. É o prazo de validade a chegar ao fim. Já no que toca à vontade, despida como está desde sempre de lacinhos cor-de-rosa e cheirinho a pó de talco, o que se há-de fazer? A vontade continua a dizer-me que não foi para isso que eu nasci...
Levei a minha vida toda a assistir ao comportamento habitual das mulheres, ou mesmo raparigas, à volta dos bébés. Muitos "hiis", e "oh, tão querido", e "que fofo", e toda a gente a querer pegar na criatura, fazer festinhas, dar beijinhos. Não é que eu às vezes não gostasse de comungar desse mundo de encantamento a que tantas mulheres se entregam perante um bebé de colo, até porque a sensação de exclusão é inevitável. Mas a verdade é que não me identifico minimamente com essas reacções. Não acho piada nenhuma a bébés. São totalmente dependes para tudo, desde o comer ao lavar, ao xixi e ao cócó, não falam, não interagem praticamente, e eu não lhes encontro ponto absolutamente nenhum de interesse. Pronto, já deve estar muita gente a ler isto e a olhar de lado. É o costume, mas é assim que eu me sinto e quanto a isso não há nada a fazer.
Ser mãe é uma possibilidade que, quando eu me ponho a pensar nisto mais a sério, me deixa aterrorizada. Não estou a exagerar. Fisicamente, acho que é um processo do mais violento que pode haver. E não falo só do parto, falo de todos os meses de gravidez que poderão implicar (cumulativamente ou não), dores no peito, prisão de ventre, ou em alternativa diarreia, náuseas, vómitos, dores nos rins, inchaço das mãos, dos pés, manchas na pele, aumento de peso, e isto se à partida não houver problemas de saúde associados, tais como a diabetes ou a hipertensão arterial. Depois, a perspectiva existencialista da coisa. Surge uma outra pessoa na nossa vida à qual ficaremos vinculados para sempre. Para o resto da vida. Nunca mais acaba, nem se pode interromper, nem devolver, nem nada. É para o resto da vida. Tipo, não sei se já disse, para o reeeeeessto da vidaaaaaaaaa!...
Ah e tal, mas ser mãe é maravilhoso. E ser pai também. Toda a gente me diz isso e eu acredito, sinceramente. Há-de ser com certeza um sentimento do mais avassalador que pode existir, nem pode ser doutra maneira. Pois se eu convivo com o filho do meu companheiro e já sinto por ele uma ternura tão grande, o que seria então com o tal ser que sairia de dentro de mim? E senão fosse esse sentimento, como é que alguém aguentava a violência de assegurar o bem-estar de um ser humano nos seus primeiros meses de existência? Eu respeito o mais possível este sentimento tão incondicional, e esta generosidade de gerar e criar uma outra pessoa para o mundo, mas... Será que eu quero isto para a minha vida?
Tenho muitas amigas com filhos, aliás, acho que hoje em dia não tenho nenhuma que não os tenha já. E oiço falar muito sobre aquilo que eu muitas vezes chamo, ironicamente, de "delícias da maternidade". Das birras e dos gritos, do acordar de madrugada para dar comida, adormecer, mudar fralda, mudar a roupa da cama porque houve xixi, limpar vomitado, ir para o hospital porque está doente, etc., etc., etc., mas já se sabe, ter filhos é maravilhoso. E eles compensam isso tudo. Ainda assim, as minhas amigas que têm filhos lá se vão queixando que não dormem, não têm tempo para mais nada, que não conseguem ir ao cinema ou sair para jantar (mas em contrapartida passaram a ter que arranjar tempo para andarem numa correria doida e levarem os filhos à natação e ao ballet e ao taekwondo e à música e à ginásticae ao inglês), vivem angustiadas com as doenças e os almoços e os jantares, e as horas dos banhos, e se eles saem agasalhados ou com roupa demais, e muitas vezes ficam tão cansadas que já nem têm cabeça para se preocuparem com mais nada nas suas vidas. Eu respeito em absoluto se este dia-a-dia as completa e a presença dos filhos as compensa de todas as dificuldades, mas eu pergunto-me, será que isto me completaria e compensaria a mim? Tenho a certeza que não. Se eu nunca for mãe, ficam a faltar-me vivências muito especiais e únicas, sem dúvida. Mas quando olho para isto tudo em perspectiva há sempre uma voz cá dentro a dizer que eu não quero este dia-a-dia para a minha vida. E aposto, aposto, que há muitas mulheres que tiveram filhos porque sim, e que vivem a carregar as frustrações da vida que gostariam de ter e não tiveram, mas que continuam a dizer, com toda a sinceridade, que ser mãe é maravilhoso. Mas se calhar muitas delas vão ficar a dever muito a elas próprias. Não sei, fico muitas vezes com esta impressão.
Há quarenta anos atrás as mulheres tiveram que batalhar muito para ganharem o seu lugar no mundo do trabalho. Porque não queriam estar reduzidas à casa, ao marido e aos filhos, queriam mais. Vejo hoje em dia que o fenómeno está invertido. Olho à minha volta e o que não faltam são mulheres que vêm trabalhar todos os dias simplesmente porque tem de ser, porque o salário do marido não chega para o orçamento familiar. Mas o que elas queriam mesmo era a casa, o marido e os filhos, e isso lhes bastaria. Esta é a parte que mais me custa a entender. Respeito, claro, que cada um realiza-se na vida conforme queira e o leque de opções é muito vasto, mas entender, não entendo.
(Ia no outro dia no comboio e uma senhora a meu lado falava em tom aprovador duma jovem mãe que teve o primeiro filho e gozou do tempo máximo de licença de maternidade que lhe foi permitido, a saber, três anos. Então, programou a chegada do segundo filho para o final dessa primeira licença, e prepara-se para se mandar para mais três anos de licença. Com um bocado de sorte, com o marido a ficar cada vez melhor na empresa, a dita senhora já nem pensa verdadeiramente em voltar a trabalhar. E eu, que até ia meio a dormir no comboio, com a perspectiva de ficar seis anos seguidos só dedicada aos filhos e à casa, bateu-me uma espertina que já não me deu descanso até ao fim da viagem! :-) )
Do meu ponto de vista estas mulheres, enquanto indivíduos, constroem-se muito pouco. E quando um dia destes as circunstâncias mudarem, os filhos forem à sua vida, ou o marido deixar de garantir o rendimento da família, ou pura e simplesmente a relação terminar... Bom, nessa altura o que restará, se não cultivarem um pouco a própria individualidade?
Eu gosto muito do meu trabalho. E tenho ambições de carreira. Adoro estudar. Se a vida me corresse bem nos próximos tempos, no espaço de três anos ia fazer o mestrado. E assumo que é neste tipo de projectos que me sinto plenamente realizada. É pensar nestas coisas que me enche o coração de energia, não é pensar que posso vir a ter um bébé para criar. É claro que um filho não representa necessariamente o fim de uma carreira profissional, ou de outros projectos que a pessoa tenha. Mas implica o tal compromisso para a vida, que necessariamente traz alterações profundas e reduz muito a liberdade individual. E contrariamente à ideia (ainda) vigente, de que o grande objectivo da nossa vida é crescermos e multiplicarmo-nos, acho que a minha própria existência, mesmo sem filhos, faz todo o sentido só por si. Não acho nada que seja egoísmo, é uma preservação do valor que todos nós temos, enquanto indivíduos.
Onde está, então, o dilema? Está no raio do prazo de validade. Passei os vinte e os trinta com esta ideia de que para já não, e um dia mais tarde logo se vê, pode ser que a vontade surja sabe-se lá de onde. É que eu tenho plena consciência de que, se a tal mulher que abdica dela própria pelos filhos virá de certeza a pagar a factura de não se ter a si msma, eu poderei vir a pagar a factura do arrependimento, quando o meu corpo me fechar a porta a essa possibilidade. Os 35 já vão a caminho de 36, e sei muito bem que não existem decisões inconsequentes...
É claro que, se quiser, arranjo já aqui dezenas de factores circunstanciais, relacionados com a minha actual e anteriores relações, que declaram a maternidade como algo que ainda nunca fez sentido algum colocar em agenda. Por diferentes ordens de razões, não é este o momento apropriado, tal como não foi o momento apropriado aos 30, ou aos 25, ou aos 20. Mas como diz o outro, não é esta a questão essencial. A questão essencial é mesmo a da vontade. E o dilema, que por vezes se traduz numa certa dúvida sobre a melhor decisão a tomar, está mais relacionado com o prazo de validade do que propriamente com a vontade. É uma espécie de síndrome do "compre já antes que esgote". É por estas e por outras que os saldos são tão perigosos, por exemplo, a gente vê montes de boas oportunidades ali à mão de semear, compra, e só depois é que se pergunta para que raio precisa daquilo. Não que eu compare o meu prazo de validade com uma época de saldos. Não, que horror, era lá capaz de uma coisa dessas. Bom. Pensando bem... Olha, já comparei. Adiante.
O dilema da maternidade, pelo menos o meu, é isto. É o prazo de validade a chegar ao fim. Já no que toca à vontade, despida como está desde sempre de lacinhos cor-de-rosa e cheirinho a pó de talco, o que se há-de fazer? A vontade continua a dizer-me que não foi para isso que eu nasci...
segunda-feira, agosto 13, 2007
Isto sim, é o sonho de qualquer mulher (e de qualquer homem também) - #2
A Bimby. Ou como eu já a chamo carinhosamente, a Bimba. Faz comida sozinha! FAZ COMIDA SOZINHA! É a loucura. É a felicidade extrema. Por mim, qualquer utensílio que me ajude a passar o menor tempo possível naquela tarefa extenuante e suja, e que deixa tudo sujo, que se chama... hum... argh!..., cozinhar, é um autêntico maná vindo dos céus.
900 €, segundo dizem. Vou juntar à lista. Deixa cá ver: Driron, 1.880 €, e fico com uma máquina para secar e passar a ferro. Bimby, 900 €, e arranjo uma coisa para cozinhar. E ainda falta outra: Rainbow, uma máquina de limpeza também maravilhosa, por uns modestos 2.500 €. Ora isto tudo junto, deixa cá ver: 5.280 €.
Coisa pouca, portanto. E como é que eu arranjo dinheiro para isto tudo? Uma boa possiblidade é fazer como a Carrie Bradshaw fez uma vez no "Sexo e a Cidade". Vou abrir uma lista de casamento comigo própria. Só que em vez de abrir a lista na sapataria, ponho nos sites dos electrodomésticos a preços obscenos. A mim parece-me bem...
900 €, segundo dizem. Vou juntar à lista. Deixa cá ver: Driron, 1.880 €, e fico com uma máquina para secar e passar a ferro. Bimby, 900 €, e arranjo uma coisa para cozinhar. E ainda falta outra: Rainbow, uma máquina de limpeza também maravilhosa, por uns modestos 2.500 €. Ora isto tudo junto, deixa cá ver: 5.280 €.
Coisa pouca, portanto. E como é que eu arranjo dinheiro para isto tudo? Uma boa possiblidade é fazer como a Carrie Bradshaw fez uma vez no "Sexo e a Cidade". Vou abrir uma lista de casamento comigo própria. Só que em vez de abrir a lista na sapataria, ponho nos sites dos electrodomésticos a preços obscenos. A mim parece-me bem...
terça-feira, agosto 07, 2007
Que dia é hoje?
Mora no rés-do-chão de um prédio com todo o ar de que vai cair um dia destes. No andar de cima já não mora ninguém há muitos anos. A porta da entrada tem um postigo daqueles antigos, com umas barras de ferro, e todos os dias ela se deixa ficar ali horas e horas, a olhar a rua. Quem lhe passa à porta só consegue ver as mãos dela de velha muito velha, agarradas com firmeza às barras de ferro. Lá mais para dentro não se consegue ver nada, nem sequer 0 rosto, é só escuridão, como se nada mais houvesse para além daquelas mãos, nem mesmo uma casa, um corpo, alguém.
Porém não passa despercebida. Tem este hábito, incomodativo e demente, de se meter com todas as pessoas que passam na rua. A todos pergunta o mesmo, que dia é hoje? Que dia é hoje? É Segunda, é Domingo, é Quarta, vai assim tentanto manter presentes as contas dos dias, porque tirando os nomes que eles têm, ela já não lhes encontra nada que os distinga. Se calhar repete a pergunta porque, de cada vez que alguém lhe dá a resposta, já não a consegue manter na memória. Ou então, porque chamar assim pelas pessoas foi a maneira que encontrou de se manter ligada ao mundo deste lado, do lado de cá da porta que a encerra na escuridão, e que a cada momento a pode engolir para sempre, assim lhe faltem as forças para se agarrar às grades do postigo.
No outro dia, surpreendentemente, foi a uma janela onde batia o sol, e quem passava pôde enfim ver-lhe o rosto. Chamou, e chamou, e chamou, mas as pessoas já sabem que ela é maluca, e além disso sabem muitíssimo bem que dia da semana é e que exigências ele irá trazer, para estarem ali a perder tempo com ela. Quando finalmente alguém se aproximou, foi motivo de grande alegria e de muitas palavras de ternura, porque serão tão más todas as outras que chamei e não vieram. Que por favor lhe dissesse que saco era aquele encostado à sua parede, cheio de papéis que ela não entendia. Que vive sozinha no mundo, sem marido, e sem filho, e com isto chora. E enfim a derradeira pergunta, que dia é hoje. E ali ficou, suspensa nas respostas dadas, se calhar à espera de quem iria passar a seguir para recomeçar a chamar, enquanto o benemérito foi à sua vida de dias de semana agendados ao pormenor.
É esta a existência daquela mulher nos últimos anos da sua vida, agarrada ao postigo como se estivesse presa do lado de dentro, ou como se quisesse fazer dele tábua de salvação. Entre uma coisa e outra, venha o Diabo e escolha. E já agora quando vier, que lhe responda com simpatia à pergunta, que dia é hoje. De certeza absoluta que quando o vir, é o que ela terá para lhe perguntar.
Porém não passa despercebida. Tem este hábito, incomodativo e demente, de se meter com todas as pessoas que passam na rua. A todos pergunta o mesmo, que dia é hoje? Que dia é hoje? É Segunda, é Domingo, é Quarta, vai assim tentanto manter presentes as contas dos dias, porque tirando os nomes que eles têm, ela já não lhes encontra nada que os distinga. Se calhar repete a pergunta porque, de cada vez que alguém lhe dá a resposta, já não a consegue manter na memória. Ou então, porque chamar assim pelas pessoas foi a maneira que encontrou de se manter ligada ao mundo deste lado, do lado de cá da porta que a encerra na escuridão, e que a cada momento a pode engolir para sempre, assim lhe faltem as forças para se agarrar às grades do postigo.
No outro dia, surpreendentemente, foi a uma janela onde batia o sol, e quem passava pôde enfim ver-lhe o rosto. Chamou, e chamou, e chamou, mas as pessoas já sabem que ela é maluca, e além disso sabem muitíssimo bem que dia da semana é e que exigências ele irá trazer, para estarem ali a perder tempo com ela. Quando finalmente alguém se aproximou, foi motivo de grande alegria e de muitas palavras de ternura, porque serão tão más todas as outras que chamei e não vieram. Que por favor lhe dissesse que saco era aquele encostado à sua parede, cheio de papéis que ela não entendia. Que vive sozinha no mundo, sem marido, e sem filho, e com isto chora. E enfim a derradeira pergunta, que dia é hoje. E ali ficou, suspensa nas respostas dadas, se calhar à espera de quem iria passar a seguir para recomeçar a chamar, enquanto o benemérito foi à sua vida de dias de semana agendados ao pormenor.
É esta a existência daquela mulher nos últimos anos da sua vida, agarrada ao postigo como se estivesse presa do lado de dentro, ou como se quisesse fazer dele tábua de salvação. Entre uma coisa e outra, venha o Diabo e escolha. E já agora quando vier, que lhe responda com simpatia à pergunta, que dia é hoje. De certeza absoluta que quando o vir, é o que ela terá para lhe perguntar.
sexta-feira, agosto 03, 2007
O cheiro
De há uns dias para cá, dá-se o caso de me cheirar a gasolina dentro do carro quando ligo o ar condicionado. Coisa estranha, dizem-me os mais e os menos entendidos, porque é suposto uma coisa não ter nada a ver com a outra. Eu por mim tudo bem, o ideal era que não cheirasse. E cheira sobretudo quando ando devagar ou estou parada, se andar a mais de 60, está-se bem.
Já foi ao mecânico, mecânico mudou filtro não-sei-do-quê, melhorou, mas continua a cheirar a gasolina. E o pior é que aquilo incomoda, faz dores de cabeça e fico um bocado maldisposta.
Agora pergunto eu: isto poderá ser do quê?
- Pode ser o ar condicionado a precisar de alguma reparação mais profunda.
- Pode ser alguma fuga de gasolina, que mesmo sendo mínima, provoque aquele cheiro.
- E também pode ser, e isto é que eu acho realmente, que a mim já me cheira a gasolina, e ao carro, já lhe cheira que vou ter mais uns dinheiros em breve, com a venda da casa. E já quer que eu gaste por conta.
Está-me a cheirar. Ai está, está...
Já foi ao mecânico, mecânico mudou filtro não-sei-do-quê, melhorou, mas continua a cheirar a gasolina. E o pior é que aquilo incomoda, faz dores de cabeça e fico um bocado maldisposta.
Agora pergunto eu: isto poderá ser do quê?
- Pode ser o ar condicionado a precisar de alguma reparação mais profunda.
- Pode ser alguma fuga de gasolina, que mesmo sendo mínima, provoque aquele cheiro.
- E também pode ser, e isto é que eu acho realmente, que a mim já me cheira a gasolina, e ao carro, já lhe cheira que vou ter mais uns dinheiros em breve, com a venda da casa. E já quer que eu gaste por conta.
Está-me a cheirar. Ai está, está...
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