Ora bem. Deixai-me dizer antes de mais nada que vou escrever este post com o coração a sangrar. Quase o mesmo como se viesse para aqui escrever, ah e tal, o Saramago afinal não presta. Que eu adoro estes senhores, meus senhores. Amo os Trovante, amo o que esta gente fez pela música portuguesa, enfim, apreciei mais ou menos algumas opções musicais das suas carreiras a solo, alguns trabalhos de cada um deles nem sempre me agradaram por aí além, mas sempre com respeitinho, porque a gente pode não se identificar com as coisas, mas ainda assim reconhecer que elas são boas na mesma.
Agora, isto? Que raio de canção é esta? "Gosto de ti | quando és razoável | gosto de ti | volátil e maleável | E só assim | é viável | fazer um sisudo amável".
Repito, é com o coração a sangrar que afirmo que isto é das canções mais cretinas que tenho ouvido nos últimos tempos. A sério, para mim está quase ao nível das canções do André Sardet, criatura cuja... ehr... hum... enfim... música, consegue ter em mim o efeito de me transformar numa potencial assasina em série, porque tudo o que me apetece quando oiço aquilo é encontrar uma G3 e desatar a fuzilar pessoas.
Isto é suposto ser uma canção de amor? Só se for de um amor molancho e desenxaibido, sem tesão, desinteressado e desinteressante. "Gosto de ti quando és razoável"?! Razoável?!!!... Ah e tal, e eu gosto é que sejas volátil e maleável, não fazeres muitas ondas e não me maçares muito, assim sossegadinha é que me agradas, nada de maluqueiras, deixa-me lá ler o jornal descansado e está quieta com as mãos.
Se fores bem comportadinha, será viável na nossa relação amorosa que eu tenha a complacência de sair do meu estado de sisudez e tornar-me num sisudo amável... Só para ti, minha querida. A sério. Isto mais parece uma carta comercial. Só falta acrescentar, com os melhores cumprimentos, o chefe do conselho de administração da empresa... Que desgosto, meu deus.
Tudo bem, a gente cresce. Os amores não são sempre um estado inflamado de paixão e o estado inflamado de paixão pode nem vir a ser o melhor dos amores. Também já não me estou a ver a andar de carro por caminhos de terra batida no meio da noite escura, ou pior ainda, em plena luz do dia, e a ser muito pouco razoável ou volátil, embora em muitos momentos tivesse que ser maleável, sobretudo porque os bancos não rabatiam por completo o que era uma chatice... Onde é que eu ia? Ah! Exacto, no fundo, o que eu queria dizer é que as coisas têm o seu tempo (o que foi não volta a ser, e tal...), que o amor tem muitas dimensões e que pode ser autêntico e intenso em muitas diferentes vivências. Claro que sim, está tudo compreendido e vivido, aliás.
Mas porra, há limites. Amável? Viável? Ra-zo-á-vel? E uma gaja dar-se a este trabalho todo para quê? Para ter como único retorno um sisudo amável? Oh meus amigos, tenham paciência. Vão ser sisudos e amáveis para o raio que vos parta. Apaixonem-se a sério ou apanhem um desgosto amoroso de caixão à cova a ver se sai alguma canção mais interessante. Eu acredito em vocês, cá estarei para vos aplaudir.
No entretanto, vou ali ver mais um video do Tiago Bettencourt ao youtube e ter algumas fantasias eróticas muito pouco razoáveis, que o homem até a cantar canções do Tony de Matos me consegue tirar do sério.
7 comentários:
Rough day, huu?
Huu. Foi, digamos, um dia razoavelzinho.
LOLOLOL ai ri-me tantooooooo
adorei e partilhei ; )
:-) :-)
eu sabia que o tédio existêncial do joão gil mais dia menos dia se revelava na música, et voilá!
Olha, tédio existencial é uma expressão tão gira. :-)
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