Esta é uma história de amor. E todas as histórias de amor merecem, mais tarde ou mais cedo, que venha o mundo a conhecê-las, não por vaidade de quem as vive, mas apenas porque de desgraça e miséria já todos andamos fartos, e temos por isso obrigação de apontar o dedo às coisas bonitas e boas que sempre sucedem, e que tantas vezes teimamos em não ver.
Há coisa de dois anos atrás, chorava assim a dor de uma separação que parecia inevitável, indo naturalmente a reboque de outra. Só que não foi isso que aconteceu.
Menosprezamos muito as crianças, nós, arrogantes adultos. Devo a este meu amigo para a vida o não se ter conformado com a aparente inevitabilidade de nunca mais me encontrar. Recusou-se, o fedelho, a perder-me o rasto, e com dez anos de idade veio no meu encalço para me dizer que tinha saudades. E eu também as tinha, tantas. Não tinha era a coragem que ele teve. Então, juntaram-se vontades e ultrapassaram-se barreiras para que pudéssemos continuar amigos, pois se isso dava alegria a todos.
É redundante dizer que este é um menino especial, todos o são, aos olhos dos que tenham a sorte de estar por perto a olhá-los. Este para quem eu olho, é mesmo muito determinado, e estava hoje imensamente feliz, porque conquistou algo que para ele tem uma grande importância.
Eu não compreendo que razões levam um pré-adolescente dos dias de hoje a fazer tanta questão de ser baptizado. Nada me diz essa instituição chamada Igreja Católica, onde ele hoje me levou, para participar num ritual onde são ditas coisas que nem consigo ter palavras para classificar. A igreja fala uma linguagem que eu não compreendo. Mas julgo que compreendi desde o início a linguagem dele, no laço que ele quis estabelecer comigo, através deste ritual do baptismo.
Poderá dizer-se que fui bastante hipócrita perante os crentes, aceitando um papel de destaque numa casa que não é minha, ainda para mais carregando tanta objecção de consciência a tudo o que por ali se passa.
Porém, acredito que nesta história de amor tão bonita, em que passei de madrasta a madrinha, fala-se numa linguagem que Deus, se existisse, certamente iria compreender.
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