É uma teoria que eu já tenho há algum tempo, e que sempre fica reforçada nesta altura do ano, em que as televisões generalistas se desdobram em programas em directo do género "Verão Total", e outros cujo nome felizmente não retenho. Também sai reforçada pelo facto de ter passado as últimas semanas de férias, logo com mais disponibilidade para estar em frente à televisão, e de vez em quando lá me distraio e sintonizo demasiado cedo (antes dos telejornais da hora de almoço) estes maravilhosos canais.
Neste programas das manhãs e das tardes proliferam actuações de pessoas denominadas de "artistas", e todos cumprem mais ou menos o mesmo padrão: as músicas passam em play-back. Os homens suam dos sovacos à bruta e têm ar de ter saído de trás da banca da feira onde vendem cassetes-pirata, directamente para a frente da câmara da televisão. Muitos deles precisam de arranjar os dentes. As mulheres vestem coisas demasiado justas e curtas, repletas de cores vivas e lantejoulas, usam demasiada maquilhagem e parecem ter saído directamente, não da banca da venda de música, mas talvez da esquina mais próxima. A música que ecoa tem sempre uma base de ter-lin-tin-tin constante, e os "performers" saltitam furiosamente de um lado para o outro, com um grupo de duas ou três bailarinas atrás.
Olho para aquilo como quem abranda o carro para ver um desastre e sempre me surgem os mesmos três pensamentos. O primeiro é, que horror. O segundo, mas quem são estas pessoas? E por fim, de onde é que vêm e para onde é que voltam quando terminam a sua actuação saltitante?
Sim, quem são estas pessoas? Onde é que os canais de televisão os desencantam nesta altura do ano, porque embora sejam todos mais ou menos iguais, a verdade é que existem numa quantidade absurda, em diferentes feitios, tamanhos e cores. É aí que surge a minha teoria do alçapão dos cantores pimba.
Tomai atenção, porque este pode muito bem ser o segredo mais bem guardado de sempre das televisões generalistas. Existe um alçapão, a porta de entrada para um buraco bem fundo debaixo do chão. É lá que estão enterrados todos os cantores pimba deste país. RTP, SIC e TVI partilham este segredo e só existem 3 chaves para o alçapão, presas ao pescoço do Jorge Gabriel, da Júlia Pinheiro e do Manuel Luís Goucha. Os cantores pimba na verdade não são pessoas, são bonecos de corda. Antes de cada programa em directo, eles abrem o alçapão, tiram cá para fora aqueles de que necessitam, tiram-lhes o pó, dão-lhes corda e eles vão a saltitar directamente para a frente das câmaras. Fazem lá aquela cena que eles fazem e logo que termina, voltam a empurrá-los para o buraco. Por isso é que depois já ninguém mais os vê ou ouve falar deles.
É disto que se alimentam as televisões generalistas, meus amigos. Bonecos de corda escondidos em buracos. Só que isto nem sempre corre bem. Já houve casos de alguns que fugiram numa das vezes em que os deixaram sair. Fazem concertos regulares, atraem multidões e enchem pavilhões. Aprenderam a dar corda a eles próprios e agora já ninguém os consegue agarrar.
2 comentários:
há coisas que dão que pensar. permanece um mistério para mim também, mas o alçapão terá a sua lógica!
Queria aqui mandar um beijinho para uma tia minha que está no Luxemburgo!
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