Passou este fim-de-semana este episódio de "O Sexo e a Cidade". É muito interessante, porque de certa forma expõe algumas das clivagens que sempre acabam por surgir quando as pessoas assumem diferentes opções de vida.
Carrie vai a uma festa de uma amiga, que celebra o nascimento do seu terceiro filho. Por causa das crianças, pede às pessoas para se descalçarem na entrada, coisa que todos cumprem. E no final da noite, alguém acaba por levar, "por engano", as sandálias "Manolo" da Carrie, que por sinal lhe custaram a módica quantia de 485 dólares.
Os problemas começam quando Carrie começa a tentar ser compensada do seu prejuízo. Visita a dona da casa e telefona várias vezes, que faz sempre um ar complacente, de quem tem coisas muito mais importantes em que pensar do que em sapatos. Insinua mesmo que Carrie leva uma vida sem sentido nem objectivos, uma realidade muito distante da sua, que tem filhos para criar, e embora se ofereça inicialmente para lhe pagar o prejuízo, chega à conclusão que não tem que pagar por opções de vida tão extravagantes quanto as da Carrie.
Carrie vai para casa fazer contas ao seu extravagante estilo de vida. Convicta de que mesmo sem filhos para criar, a sua vida continua a fazer sentido à mesma. Chega à conclusão que, para celebrar as opções de vida da amiga, contribuiu com 2.300 dólares em prendas de casamento, e de nascimento para cada um dos filhos do casal!
E diz uma coisa que realmente é muito verdadeira. A nossa sociedade não prevê que qualquer pessoa solteira, a partir da formatura, tenha ocasiões de celebração do que quer que seja. Celebram-se os casamentos, os nascimentos, alguns divórcios, hoje em dia, mas se a opção é seguir um projecto de vida a solo... pelos vistos não há motivo para celebrar.
A personagem principal de "O Sexo e a Cidade" resolve o problema com uma aviso formal de que vai casar-se... consigo própria! E avisa a tal da amiga que, para celebrar o evento, abriu uma lista de casamento na sapataria "Manolo", lista essa que tem um único item: as sandálias que são suas, de pleno direito.
A culpa também é nossa, das pessoas solteiras, quero eu dizer, que esta falta de celebração aconteça. Afinal, remamos contra a maré ao tomar diferentes opções de vida, mas a verdade é que nos guiamos pela mesma cartilha social. Também nos vemos com o mesmo olhar dos outros, ao olharem para nós.
E no entanto é um grande, grande desafio, levar avante um projecto de vida a solo, e sem dúvida que faz tanto sentido quanto outro qualquer. Merece ser celebrado, claro que sim. Até porque é difícil, não é para toda a gente. Que eu por mim falo. Há dias em que tenho mesmo que dizer de mim para comim, xiça, não é mesmo nada fácil viver comigo!...
1 comentário:
Vi o episódio (a dar de mamar ao meu filho recém-nascido, o tal que agora é causa de celebração!) e a primeira pessoa de quem me lembrei foste tu!
Concordo! Por isso um dia destes inventa uma qualquer festa para também eu dar a minha contribuição à tua opção!
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