Gosto de música. Mas as palavras... São elas, quase sempre, as que realmente me comovem. Como desta vez:
Sólo le pido a Dios
León Gieco
"Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.
Sólo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente,
que no me abofeteen la otra mejilla
después que una garra me arañó esta suerte.
Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.
Sólo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente
si un traidor puede más que unos cuantos,
que esos cuantos no lo olviden fácilmente.
Sólo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente,
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente."
A canção veio da Argentina, de 1978. Mas está viva. Na música dos Outlandish, mas também neste mundo civilizado, democrático(?), desenvolvido, e porém tão desnorteado, em que vivemos. Descubro-a viva dentro de mim própria, nos acontecimentos que ditam o meu dia-a-dia.
Para o bem e para o mal. Está viva.
quinta-feira, março 29, 2007
terça-feira, março 27, 2007
A minha primeira aventura homeopática
(Depois de passar mais uma série de dias sem acesso à internet, porque a Memória RAM estava a precisar que um especialista em informática passasse cá por casa, a tirasse do sítio, lhe desse uma assopradela, lhe tirasse o pó com um pano macio, e a voltasse a colocar no local respectivo, aqui estou eu uma vez mais.)
Fui ao homeopata. A Albicans sossegou mas não morreu, e vai daí resolvi combater o meu cepticismo com uma resolução que não tem contra-argumentação possível: eu hei-de fazer tudo, mas tudo o que esteja ao meu alcance, para combater esta doença que me assaltou. Porque melhorar não é o mesmo que ficar boa, e melhorar à base de medicamentos que só fazem "festas ao bicho", exigia que eu fosse pelo menos ver o que estava para lá da medicina tradicional.
E lá fui eu. O doutor foi bem recomendado, professor catedrático e não sei quê. Uma coisa vi eu logo quando lá cheguei: com uma sala de espera tão repleta, desde crianças a velhinhos de bengala, é estatisticamente improvável que tanta gente ande ao engano. Com o meu cepticismo a gritar-me aos ouvidos: "É um charlatão! Vais sair daqui sem um tostãozinho para amostra!", sentei-me e esperei, que as decisões, quando se tomam, são para levar adiante. E esperei. E esperei mais um bocadinho, e continuei a esperar, que pelos vistos aquilo é mesmo assim que funciona.
E lá entrei para falar com o senhor. Expus-lhe o problema Albicans, e da parte dele só ouvi coisas razoáveis, o que me agradou. Propôs-se a reforçar o meu sistema imunitário, mantendo todos os tratamentos que a medicina tradicional me tinha prescrito. "Cada coisa no seu lugar, disse ele". Lembrou que a Candida Albicans não é como uma bactéria estranha ao nosso corpo, que se combate e expulsa, e o problema fica resolvido. A Albicans vive dentro de nós, e a única coisa que se pode fazer é dar ao nosso corpo as ferramentas que e ele precisa para não a deixar andar desgovernada. Que a bicha aprende a criar resistência e depois é uma chatice, quanto mais é agredida, mais ela se revolta. E até aqui tudo bem.
A seguir, manda-me ir para um aparelhómetro, e faz o quê? Observa-me o olho! O olho! E passando desde já à frente de algum pensamento mais brejeiro da parte de quem esteja a ler estas linhas, era um aparelho em tudo semelhante aos que existem nos consultórios de oftalmologia, ok? Fiquei depois a saber que a Iridologia (observação da íris) é uma prática dos médicos homeopatas, porque dizem eles, é possível ver na íris os males do corpo da pessoa. (Estou a escrever isto e ao mesmo tempo o meu cepticismo aperta-me o pescoço, abana-me e dá-me caroladas na cabeça, tudo ao mesmo tempo).
E pronto. Deixei lá ficar quase 200 euros. O doutor mandou-me voltar ao fim de um mês de tratamento para, palavras da funcionária da entrada, "me dar um olhinho". Já a tinha ouvido a utilizar a expressão enquanto esperava pela minha vez, só depois percebi que aquilo tinha um sentido literal!
Já comecei o tratamento. Não fiz alergia até agora, do mal o menos. Quanto aos resultados, vamos lá a ver. Peço desculpa a quem possa estar com vontade de saber o que é que eu ando a tomar, mas acho que não devo dizer. Ainda não sei que efeitos práticos vai ter, não conheço assim tão bem este tipo de medicamentos, e não quero pensar que alguém vá à procura destas coisas, mal informada e na base do desespero. Quando muito, se alguém quiser saber o nome do homeopata, estou à disposição.
Para já, e cepticismos à parte, estou de peito aberto nesta forma alternativa de levar a Albicans ao engano. Quem sabe?...
Fui ao homeopata. A Albicans sossegou mas não morreu, e vai daí resolvi combater o meu cepticismo com uma resolução que não tem contra-argumentação possível: eu hei-de fazer tudo, mas tudo o que esteja ao meu alcance, para combater esta doença que me assaltou. Porque melhorar não é o mesmo que ficar boa, e melhorar à base de medicamentos que só fazem "festas ao bicho", exigia que eu fosse pelo menos ver o que estava para lá da medicina tradicional.
E lá fui eu. O doutor foi bem recomendado, professor catedrático e não sei quê. Uma coisa vi eu logo quando lá cheguei: com uma sala de espera tão repleta, desde crianças a velhinhos de bengala, é estatisticamente improvável que tanta gente ande ao engano. Com o meu cepticismo a gritar-me aos ouvidos: "É um charlatão! Vais sair daqui sem um tostãozinho para amostra!", sentei-me e esperei, que as decisões, quando se tomam, são para levar adiante. E esperei. E esperei mais um bocadinho, e continuei a esperar, que pelos vistos aquilo é mesmo assim que funciona.
E lá entrei para falar com o senhor. Expus-lhe o problema Albicans, e da parte dele só ouvi coisas razoáveis, o que me agradou. Propôs-se a reforçar o meu sistema imunitário, mantendo todos os tratamentos que a medicina tradicional me tinha prescrito. "Cada coisa no seu lugar, disse ele". Lembrou que a Candida Albicans não é como uma bactéria estranha ao nosso corpo, que se combate e expulsa, e o problema fica resolvido. A Albicans vive dentro de nós, e a única coisa que se pode fazer é dar ao nosso corpo as ferramentas que e ele precisa para não a deixar andar desgovernada. Que a bicha aprende a criar resistência e depois é uma chatice, quanto mais é agredida, mais ela se revolta. E até aqui tudo bem.
A seguir, manda-me ir para um aparelhómetro, e faz o quê? Observa-me o olho! O olho! E passando desde já à frente de algum pensamento mais brejeiro da parte de quem esteja a ler estas linhas, era um aparelho em tudo semelhante aos que existem nos consultórios de oftalmologia, ok? Fiquei depois a saber que a Iridologia (observação da íris) é uma prática dos médicos homeopatas, porque dizem eles, é possível ver na íris os males do corpo da pessoa. (Estou a escrever isto e ao mesmo tempo o meu cepticismo aperta-me o pescoço, abana-me e dá-me caroladas na cabeça, tudo ao mesmo tempo).
E pronto. Deixei lá ficar quase 200 euros. O doutor mandou-me voltar ao fim de um mês de tratamento para, palavras da funcionária da entrada, "me dar um olhinho". Já a tinha ouvido a utilizar a expressão enquanto esperava pela minha vez, só depois percebi que aquilo tinha um sentido literal!
Já comecei o tratamento. Não fiz alergia até agora, do mal o menos. Quanto aos resultados, vamos lá a ver. Peço desculpa a quem possa estar com vontade de saber o que é que eu ando a tomar, mas acho que não devo dizer. Ainda não sei que efeitos práticos vai ter, não conheço assim tão bem este tipo de medicamentos, e não quero pensar que alguém vá à procura destas coisas, mal informada e na base do desespero. Quando muito, se alguém quiser saber o nome do homeopata, estou à disposição.
Para já, e cepticismos à parte, estou de peito aberto nesta forma alternativa de levar a Albicans ao engano. Quem sabe?...
domingo, março 18, 2007
Cada poeta tem a sua ninfa
No final do fim-de-semana, juntámo-nos as três, como tantas vezes acontece. Eu, a irmã e a sobrinha, à mesa do café depois do jantar. Fascinadas com Ninfa Artémis*, que a letra passou a servir de teaser no meio das conversas (Gatoooooooooo!... Comoqueresqueeusejagatooooooo!... Vou pintarospelospubicooooooooosss!...), do que é que se haveria de falar? De literatura, pois claro.
Do "Memorial do Convento", que a jovem de 17 anos anda a ler com grande sacrifício, mas que não desiste. Dos poemas de Saramago, que ela não conhece. De Fernando Pessoa, que continua a fascinar mais velhos e mais novos. Do Cântico Negro, de José Régio, que eu recito de cor desde que tinha a idade dela, e que ela já recita de cor com a mesma idade que eu tinha. E então recitou-se o poema de novo, as palavras tão belas e sempre tão vivas, que se saboreiam como a um bom vinho (Vem por aqui, dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços e seguros, De que seria bom que eu os ouvisse, Quando me dizem: "vem por aqui" - e não é que a catraia tinha razão, é "que eu os ouvisse", e não "que eu os seguisse", como eu dizia... Bolas!...).
De novo Ninfa Artémis, mais Fernando Pessoa, Come Restos (pelos vistos outra grande obra poética que para mim permanece desconhecida), sim, que no fundo tudo é arte, e depois cada um que decida qual a arte que é boa ou má.
Na mesa ao lado, entre dois elementos do sexo masculino, a conversa era outra. Já nós estávamos para sair, um deles pega numa nota, cheira-a e diz alto e bom som: "Ai que horror, esta nota cheira a corrimento! Estas mulheres são umas porcas, misturam as notas com os pensos higiénicos!...". Olhámos umas para as outras e saímos rapidamente, para rir à vontade. E para "cantar", que de repente o teaser fazia todo o sentido: "Gatooooooooooo!..."
* Quem não teve contacto com o Laboratolarilolela, de Nuno Markl, da passada Sexta-Feira, não vai perceber nada desta conversa.
Do "Memorial do Convento", que a jovem de 17 anos anda a ler com grande sacrifício, mas que não desiste. Dos poemas de Saramago, que ela não conhece. De Fernando Pessoa, que continua a fascinar mais velhos e mais novos. Do Cântico Negro, de José Régio, que eu recito de cor desde que tinha a idade dela, e que ela já recita de cor com a mesma idade que eu tinha. E então recitou-se o poema de novo, as palavras tão belas e sempre tão vivas, que se saboreiam como a um bom vinho (Vem por aqui, dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços e seguros, De que seria bom que eu os ouvisse, Quando me dizem: "vem por aqui" - e não é que a catraia tinha razão, é "que eu os ouvisse", e não "que eu os seguisse", como eu dizia... Bolas!...).
De novo Ninfa Artémis, mais Fernando Pessoa, Come Restos (pelos vistos outra grande obra poética que para mim permanece desconhecida), sim, que no fundo tudo é arte, e depois cada um que decida qual a arte que é boa ou má.
Na mesa ao lado, entre dois elementos do sexo masculino, a conversa era outra. Já nós estávamos para sair, um deles pega numa nota, cheira-a e diz alto e bom som: "Ai que horror, esta nota cheira a corrimento! Estas mulheres são umas porcas, misturam as notas com os pensos higiénicos!...". Olhámos umas para as outras e saímos rapidamente, para rir à vontade. E para "cantar", que de repente o teaser fazia todo o sentido: "Gatooooooooooo!..."
* Quem não teve contacto com o Laboratolarilolela, de Nuno Markl, da passada Sexta-Feira, não vai perceber nada desta conversa.
quarta-feira, março 14, 2007
De regresso
E pronto, foi hoje que voltei a ter internet em casa. Depois de estar aqui um tempo a marrar com o Blogger, que pelos vistos estava com um qualquer problema técnico demoninado "anhar", lá consegui entrar nesta porra.
Estou contentinha. Novamente ligada ao mundo, retomando contactos com amigos cibernautas, espero agora retomar o ritmo habitual na actualização desta choça. Para breve, a minha primeira aventura homeopática!...
Estou contentinha. Novamente ligada ao mundo, retomando contactos com amigos cibernautas, espero agora retomar o ritmo habitual na actualização desta choça. Para breve, a minha primeira aventura homeopática!...
quarta-feira, março 07, 2007
Caminhos de ferro, cabeças de abóbora
E venho eu desembestada a correr pela estação dos comboios afora, ainda por cima decidi calçar as botas mais pesadas que tenho, e para chegar ao raio da linha é preciso galgar umas escadas que nunca mais acabam, primeiro a subir e depois a descer, e a menina já vai dizendo "atenção, senhores passageiros, o comboio que você precisa de apanhar já está a chegar à linha número 3 e você ainda nem chegou à máquina de tirar os bilhetes, o próximo comboio chegará depois de você apanhar mais meia-hora de seca. Obrigada pela vossa atenção".
Caguei para o bilhete e corri, corri, e apanhei o comboio. Uff, uff, revisor à vista, aqui vou eu com o meu sorriso número 52, exclusivo para quando quero ser agradável e conquistar a simpatia dos revisores da CP. Senhor revisor muito bom dia, uff, uff, eu queria comprar um bilhete, uff, se faz favor, uff, uff, porque não tive tempo de comprar o bilhete...
E diz-me o revisor da CP, com uma cara de "sou um bom profissional e nem sequer estou a ligar nenhuma a essas duas copas B tamanho 36 que estão a subir e a descer a ritmo acelerado mesmo à frente do meu nariz", minha senhora, da maneira como estão as multas hoje em dia, mais vale esperar meia-hora pelo próximo comboio. Arrisca-se a pagar uma multa que pode chegar a 360 euros.
E digo eu, mas, mas, mas, repare, eu não tive tempo... e vim logo ter consigo, eu até quero pagar o bilhete, está a ver? Então mas não posso tirar o bilhete no comboio porquê? E diz ele, pois, realmente, nós hoje em dia só podemos vender bilhetes a deficientes e no caso das máquinas nas estações estarem avariadas.
Deixe-me ver se percebi bem, disse eu. Eu estou aqui na sua frente, honestamente dizendo que vim a correr para o comboio e não consegui tirar o bilhete, e nesse caso tenho que pagar multa. Se lhe mentir e disser que a máquina estava avariada, já me pode vender o bilhete? E diz ele, pois, quer-se dizer, eu teria sempre que comunicar para a "central" (seja lá onde isso for) e confirmar se realmente há ou não avaria, eles também nem sempre conseguem confirmar logo de seguida, e se a senhora chegar ao seu destino sem eu ter a confirmação também não a ia prender no comboio, não é?
Ah, pois é. De moldes que tendo em conta a minha honestidade (e quem sabe, o peitinho a arfar), o senhor revisor da CP foi amigo e deixou-me viajar de borla. E fiquei a saber que para os cérebros desta grande empresa, mais vale um utente mentiroso que um utente sincero. Para a próxima mais vale não arriscar...
Caguei para o bilhete e corri, corri, e apanhei o comboio. Uff, uff, revisor à vista, aqui vou eu com o meu sorriso número 52, exclusivo para quando quero ser agradável e conquistar a simpatia dos revisores da CP. Senhor revisor muito bom dia, uff, uff, eu queria comprar um bilhete, uff, se faz favor, uff, uff, porque não tive tempo de comprar o bilhete...
E diz-me o revisor da CP, com uma cara de "sou um bom profissional e nem sequer estou a ligar nenhuma a essas duas copas B tamanho 36 que estão a subir e a descer a ritmo acelerado mesmo à frente do meu nariz", minha senhora, da maneira como estão as multas hoje em dia, mais vale esperar meia-hora pelo próximo comboio. Arrisca-se a pagar uma multa que pode chegar a 360 euros.
E digo eu, mas, mas, mas, repare, eu não tive tempo... e vim logo ter consigo, eu até quero pagar o bilhete, está a ver? Então mas não posso tirar o bilhete no comboio porquê? E diz ele, pois, realmente, nós hoje em dia só podemos vender bilhetes a deficientes e no caso das máquinas nas estações estarem avariadas.
Deixe-me ver se percebi bem, disse eu. Eu estou aqui na sua frente, honestamente dizendo que vim a correr para o comboio e não consegui tirar o bilhete, e nesse caso tenho que pagar multa. Se lhe mentir e disser que a máquina estava avariada, já me pode vender o bilhete? E diz ele, pois, quer-se dizer, eu teria sempre que comunicar para a "central" (seja lá onde isso for) e confirmar se realmente há ou não avaria, eles também nem sempre conseguem confirmar logo de seguida, e se a senhora chegar ao seu destino sem eu ter a confirmação também não a ia prender no comboio, não é?
Ah, pois é. De moldes que tendo em conta a minha honestidade (e quem sabe, o peitinho a arfar), o senhor revisor da CP foi amigo e deixou-me viajar de borla. E fiquei a saber que para os cérebros desta grande empresa, mais vale um utente mentiroso que um utente sincero. Para a próxima mais vale não arriscar...
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