No final do fim-de-semana, juntámo-nos as três, como tantas vezes acontece. Eu, a irmã e a sobrinha, à mesa do café depois do jantar. Fascinadas com Ninfa Artémis*, que a letra passou a servir de teaser no meio das conversas (Gatoooooooooo!... Comoqueresqueeusejagatooooooo!... Vou pintarospelospubicooooooooosss!...), do que é que se haveria de falar? De literatura, pois claro.
Do "Memorial do Convento", que a jovem de 17 anos anda a ler com grande sacrifício, mas que não desiste. Dos poemas de Saramago, que ela não conhece. De Fernando Pessoa, que continua a fascinar mais velhos e mais novos. Do Cântico Negro, de José Régio, que eu recito de cor desde que tinha a idade dela, e que ela já recita de cor com a mesma idade que eu tinha. E então recitou-se o poema de novo, as palavras tão belas e sempre tão vivas, que se saboreiam como a um bom vinho (Vem por aqui, dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços e seguros, De que seria bom que eu os ouvisse, Quando me dizem: "vem por aqui" - e não é que a catraia tinha razão, é "que eu os ouvisse", e não "que eu os seguisse", como eu dizia... Bolas!...).
De novo Ninfa Artémis, mais Fernando Pessoa, Come Restos (pelos vistos outra grande obra poética que para mim permanece desconhecida), sim, que no fundo tudo é arte, e depois cada um que decida qual a arte que é boa ou má.
Na mesa ao lado, entre dois elementos do sexo masculino, a conversa era outra. Já nós estávamos para sair, um deles pega numa nota, cheira-a e diz alto e bom som: "Ai que horror, esta nota cheira a corrimento! Estas mulheres são umas porcas, misturam as notas com os pensos higiénicos!...". Olhámos umas para as outras e saímos rapidamente, para rir à vontade. E para "cantar", que de repente o teaser fazia todo o sentido: "Gatooooooooooo!..."
* Quem não teve contacto com o Laboratolarilolela, de Nuno Markl, da passada Sexta-Feira, não vai perceber nada desta conversa.
3 comentários:
E dizer "corrimento", em vez de "leite entre as pernas", como ouvi uma vez a um bácoro infeliz, no metro, incapaz de lidar com a alegria juvenil de um bando de raparigas, entre as quais eu própria, que conversava alto e bom som, sobre as mais diversas futilidades, já foi um grande avanço. Dizer "corrimento", convenhamos, já é mesmo quase lírico.
Este programa do Markl foi dos melhores! Foi muito bom mesmo. E ontem ele passou outra música da Sr. Ninfa Artémis, não tão boa como o Gatooooô, mas igualmente... interessante! ;)
Para os que não viram o programa já andei a distribuir o mp3, porque foi imperdível.
também partilho. Quanto a mim, não haverá melhor maneira de ilustar o estado de alma de uma mente inconformista...ou deverei dizer adolescente?
continuo a gostar
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