segunda-feira, junho 02, 2008

Ser e Tempo

Nos meus tempos de faculdade, dediquei-me especialmente ao estudo de Heidegger. Encontrei nos seus escritos várias coisas que para mim fizeram muito sentido, em contraponto a outros autores cujos escritos nunca me fizeram sentido nenhum (limitações minhas, não deles, certamente).

Faz sentido para mim, por exemplo, que o que determina o nosso percurso pela vida seja a nossa consciência de que vamos morrer. Não fôssemos nós mortais e o nosso projecto seria, de certeza, completamente diferente daquilo que é. O tempo determina a nossa existência (e a nossa essência?), sem Tempo não há Ser.

Carpe Diem, dizem-nos os poetas, e a gente vai tentando. Aproveitamos o dia ao máximo, ou pelo menos adormecemos convencidos de que foi isso que fizémos, e olhamos confiantes para a linha do tempo que se estende à nossa frente, para o projecto de vida que queremos concretizar, um dia de cada vez, nesta coisa maravilhosa de deixarmos de ser aquilo que já fomos, para nos transformarmos naquilo que havemos de ser, e no entanto, sendo iguais a nós próprios a cada passo do caminho. Mesmo sendo a morte o único facto verdadeiramente incontornável da nossa existência, nada nos prepara para que essa linha do tempo não cumpra, vá lá, os mínimos obrigatórios.

A verdade é que às vezes não cumpre. Olhamos para o lado e vemos linhas do tempo partidas em momentos ridículos, cretinos, bons projectos de vida que se dão por terminados, sem contemplações ou margem de negociação.

E então pensamos, há que aproveitar bem o dia, realmente. Não, é claro que não é tudo maravilhoso apenas pela graça de estamos vivos. O trânsito é uma merda, o trabalho esgota-nos mais do que devia, os combustíveis estão caríssimos, só comemos porcarias e não dá nada de jeito na televisão. Mas para nós ainda há tempo. A nossa linha é tão frágil como outra qualquer, mas por enquanto, por enquanto, temos o nosso projecto nas mãos. Ainda há Tempo para Mais Ser. É aí que reside a diferença.

Para muito boa gente, esse tempo foi curto demais para tudo o que podiam e queriam ser. Acredite agora quem quiser no sentido oculto das coisas, ou em alternativa, que as coisas não têm sentido oculto nenhum.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olha Blimunda não sei quem é esse Heidegger mas cheira-me a filósofo de alguns séc. atrás... pois, todos os profetas que passaram pela Terra e os que são contemporâneos afirmam o contrário: O SER está fora do tempo, o ego vive no passado e no futuro, só a nossa consciência e presença vive no Agora. Sai dessa Blimunda !!