domingo, setembro 05, 2010

Férias a solo

Por um conjunto de circunstâncias várias, a opção este ano ficou-se entre passar mais um Verão em que o período de férias maior seria passado em casa, do sofá da sala para o computador e vice-versa (o que até não é mau por um período de alguns dias, mas convenhamos, depois começa a chatear) ou, em alternativa, fazer férias sozinha. Segui pela primeira vez a última possibilidade, fiz as malas e lá fui eu uma semana para a Costa Alentejana.

A grande vantagem de estarmos muito tempo sozinhos é que podemos por a conversa em dia connosco próprios. É uma coisa que me parece continuar subvalorizada, desde os tempos de Sócrates (não, não é esse, é o outro), basta ver que o homem levou a vida a dizer "conhece-te a ti mesmo" e ver depois o que lhe aconteceu. Adiante, a mim fez-me muito bem a estadia e a conversa, partindo é claro do princípio que não me vai acontecer o mesmo que aconteceu ao Sócrates (sim, continuo a falar do mesmo).

Para além de um volume significativo de roupa para lavar, vim de lá com novas energias e um conhecimento factual do que foi bom e menos bom nisto de estar de férias sozinha. Com a generosidade que me é característica, mas sobretudo porque estou a fazer tempo para ir tomar banho, passo a descrever as vantagens e as desvantagens.

Ir de férias sozinha é bom porque:

- Fica-se na praia o tempo todo que nos apetecer. Mesmo todo, tipo, até ser de noite e começar a fazer um ventinho frio que nos põe a bater o dente. Sem ninguém que, 2 horas antes de nos apetecer vir embora já está a ladainhar Quando é que vamos embora? Já estamos aqui há horas. Vamos embora... Ainda vais tomar banho? Eu já não vou tomar banho. Se já não vamos tomar banho o que é que estamos aqui a fazer?... Vamos embora.... And soion and soion.

- Não se perde tempo às voltas com o carro à procura de um lugar para estacionar mesmo à porta do restaurante/praia/loja/seja onde for quando duas ruas mais abaixo há resmas de lugares disponíveis, sendo apenas necessário andar a pé 20 metros, se tanto.

- No seguimento do item anterior, percorrem-se calmamente a pé ruas, ruinhas e ruelas só para ver onde é que vão dar, mesmo que seja para concluir que não vão dar a lado nenhum em especial, apreciando as casas só pelo prazer de as ver e imaginando como seria ter uma delas, ali mesmo à beira da praia.

- Enfia-se o nariz em tudo o que são lojas de artesanato, roupas, lembranças, curiosidades e quinquilharias de um modo geral, em alguns casos mais do que uma vez, eventualmente até tomando a decisão de comprar alguma coisa, sem aquela pressão de olharmos para o lado e vermos o nosso companheiro de mãos nos bolsos a olhar o vazio e com uma cara de desespero que nos diz Estou a sofrerrrrrrrrrrrr!.................

- Lê-se muito. As saudades que eu tinha de ler um livro do princípio ao fim! Recomendado aqui, li isto com muita, muita satisfação e acabou por ser a melhor companhia possível nas manhãs e tardes que passei estendida ao sol.

Porém, ir de férias sozinha é mau porque:

- Chega-se a hora de sair para almoçar e jantar, e há qualquer coisa de melancólico em entrar num restaurante e dizer que é só uma pessoa e uma mala grande para sentar, se faz favor. Eu vivo sozinha, comer sozinha é o pão nosso de cada dia (olha que coisa tão apropriada, está giro), mas estar de férias e ter a cadeira à nossa frente vazia, sem ninguém com quem conversar, devo dizer, é uma bela merda.

- Numa zona tão pródiga em praias escondidas, cada uma com as suas belezas peculiares, esqueçam. Praias isoladas perdem todo o seu encanto quando se está sozinha. Eu fui lá, atenção. Mas chegando lá, começaram a surgir pensamentos do tipo, então e se agora me aparece aqui alguém mal intencionado? Então e se eu entrar no mar e me engasgar ou torcer um pé, quem é que me vale e quem é que sabe que estou aqui? A vaca que está lá em cima a pastar e me viu estacionar o carro não me pareceu ser muito dada a intrigas. Comecei a lembrar-me da Bridget Jones e do seu receio em que a encontrassem um mês depois de morta, meio comida por lobos da alsácia, agarrei nos trapinhos e voltei para as praias vigiadas, repletas de gente barriguda e crianças barulhentas. Estava-se melhor.

- Não há sexo. Quer dizer, isto é claro decorre de uma opção individual, se eu quisesse sexo tinha-o arranjado, já para não falar do próprio onanismo, que está no fundo dentro do espírito socrático e, como tal, na minha opinião devia ter mais reconhecimento pelo valor que tem. Mas partindo do princípio que ir para outro lado não significa ser outra pessoa, o facto é que não há sexo. E não haver sexo, especialmente quando se está de férias, fisica e psicologicamente disponível é, também, uma grande merda.

- Não há ninguém que nos chame à razão e trave as idas demasiado frequentes à gelataria, não há ninguém que nos espalhe creme nas costas, não há ninguém que chame a atenção para as coisas em que não reparámos mas que teríamos gostado de ver, se as víssemos.

- Não há partilha. E quando damos por isso, instalou-se uma saudadezinha irritante das coisas que diariamente nos irritam e nos dão vontade de estarmos sozinhos. Ou seja, estar sozinha de férias fez-me ter saudades de andar irritada. Sinceramente, essa parte foi uma coisa que me irritou um bocado.

Seguir-se-ão nos próximos dias alguns posts mais breves (ficai descansados) sobre pequenos episódios que me foram acontecendo. Mas no essencial é isto.

Em circunstâncias semelhantes, voltarei de certeza a ir de férias sozinha.

Irei já com o conhecimento de causa, de que a experiência é bastante melhor do que se espera, não sendo tão boa quanto se imagina.

2 comentários:

André disse...

Conclusão: os contras em muito batem os prós.

blimunda sete luas disse...

Se a alternativa for ficar em casa, são preferíveis estes contras. Mas estou como dizem os outros, não é de facto a mesma coisa.