Ouvi dizer há dias atrás que uma banda recém-criada (nem sei quem são) fez uma versão deste tema do Vitorino. Já conheço a canção aos anos, mas por acaso não sabia que a letra era do António Lobo Antunes.
Aqui fica ela, que quem não conhece isto não merece o ar que respira:
"Bolero Do Coronel Sensível Que Fez Amor Em Monsanto
Eu que me comovo
por tudo e por nada
deixei-te parada
na berma da estrada
usei o teu corpo
paguei o teu preço
esqueci o teu nome
limpei-me com o lenço
olhei-te a cintura
de pé no alcatrão
levantei-te as saias
deitei-te no banco
num bosque de faias
de mala na mão
nem sequer falaste
nem sequer beijaste
nem sequer gemeste
quinhentos escudos
foi o que disseste
tinhas quinze anos
dezasseis, dezassete
cheiravas a mato
à sopa dos pobres
a infância sem quarto
a suor a chiclete
saíste do carro
alisando a blusa
espiei da janela
rosto de aguarela
coxa em semifusa
soltei o travão
voltei para casa
de chaves na mão
sobrancelha em asa
disse: fiz serão
ao filho e à mulher
repeti a fruta
acabei a ceia
larguei o talher
estendi-me na cama
de ouvido à escuta
e perna cruzada
que de olhos em chama
só tinha na ideia
teu corpo parado
na berma da estrada
eu que me comovo
por tudo e por nada."
Da nova versão desta tal banda não sei nada. Mas isto cantado pelo Vitorino é do caraças. Se puderem vão ouvir. Está editado num álbum chamado "As Mais Bonitas".
5 comentários:
É doextraordinário "Eu que me comovo por tudo e por nada", um disco do Vitorino só com letras de Lobo Antunes. Se não me engano é de 1992. Muito bom.
Grande malha...
Todo o album (ouvi vzes sem conta...).
E Blimunda: não sabias que era do Lobo? Ai, ai, ai...
Não sabia. Sou uma besta ignorante, é o que é... ;-)
Também não exageres... Não te martirizes
O nova versãa desta música é dos Boitezuleika. Acho que é ainda melhor que a do Vitorino. Ouçam se puderem. O álbum chama-se "Eramos Assim" e tem uma sonoridade como há muito não se ouvia.
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