Eva Nascente, depoimento
A verdade é uma coisa que não se sabe em que mundo habita, sabe-se apenas que ninguém é dono dela. Também eu não a possuo. A música que criámos foi o resultado de nós dois e feita com todo o amor que tínhamos um pelo outro. Na essência dessas músicas podemos encontrá-lo a ele com o seu imenso talento, e encontro-me eu com a minha magia. A essência de qualquer um de nós manifesta-se sempre, não há como evitá-lo, eu não sou excepção. Mas a nossa história é de excepção, e assim se tornou também a música que criámos. Como poderíamos saber, ele ou eu, o que viria depois? Quando começámos a compor juntos surgiu a música que nunca antes se tinha feito. É sempre assim com aquilo que decidimos fazer ou ser em cada momento, é impossível prever que mundo novo vai surgir. Criámos uma nova realidade que trouxe as suas consequências. O que aconteceu nos concertos é na verdade muito simples de explicar. A música soltou a magia que está na minha essência, que voou sobre as cabeças, inundou os espíritos. Era um encantamento, sim, mas não o será toda a música, independentemente de quem a faça nascer? E não podemos esquecer o amor que nos unia. Estávamos de tal modo encantados um pelo outro que cada actuação em palco era o equivalente ao sexo que marcava os nossos momentos de intimidade. A nossa música reflectiu também aquilo em que nos tornámos quando nos perdermos de amor um pelo outro. Dir-se-ia então que um encantamento como este só poderia despertar o bem, nunca o mal, e no entanto vimos pessoas a reagirem de formas muito más… Pois bem, assim como se diz que cada cabeça a sua sentença, eu passei a acreditar que também é assim com a magia. O mesmo encantamento não resulta igual em duas pessoas. Depende do que encontra quando lá chega, o encantamento, à pessoa. Não há bons ou maus encantamentos, magia branca ou magia negra. A magia que chegou a cada um fez o efeito conforme a essência dos corações. Para uns despertou a alegria, para outros a amizade, o amor, a libido, e para outros ainda, o ódio, a violência, a inveja, a tristeza. O que faz a diferença não é a magia, é a essência de cada um. Não fosse eu a Eva que sou, não fosse ele o homem que é, esta história não teria existido, mas outra.
Próxima publicação: 3 de Maio