Eva Nascente, depoimento
A minha maior ilusão foi acreditar na existência de um lugar, um tempo, em que pudéssemos estar juntos. Por isso me mantive ao seu lado, esperando que todo aquele ressentimento e preconceito cedessem, mais tarde ou mais cedo, ao amor que ainda existia. Quem disse que não há magia no mundo dos humanos? Querem maior encantamento do que a esperança? Deixei-me dominar por esse encantamento, e ingenuamente comecei a tentar convencê-lo a partir comigo. Afinal, se eu me tornara um pouco mais humana, porque não poderia ele ser um pouco mais… mágico? Como desejei então ter todo o poder que os homens atribuem às fadas! Conseguir mudar, por força da magia e para o bem dos dois, o seu modo de pensar, agir, sentir. Mas depressa me desiludi. A todas as minhas propostas de começarmos do zero algures onde nós próprios fôssemos mais importantes do que as nossas diferenças, ele respondia-me com palavras amargas, cheias de escuridão. Ou então fazia pior, não me olhava de frente, oferecia-me o mais frio dos desprezos, gelava-me por dentro. Entendi que mais uma vez procurava sucesso numa missão impossível. Afinal, se ao longo de todo este caminho eu nunca pude modificar a minha própria essência, como poderia ser capaz de modificar a dele? Ele optou por duvidar da minha existência. A mim só me restou duvidar do seu amor. E dando esse amor por inexistente, já nada mais havia para mim no mundo dos homens. Tudo o que restou fui eu própria, ainda que perdida no meio de muitas ilusões. O cansaço tomou conta de mim e apenas uma ideia começou a orientar-me: regressar a casa.
Próxima publicação: 17 de Maio
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