Eva Nascente, depoimento
Os humanos falam às vezes da Fénix, a ave mitológica que nasce das próprias cinzas e que, é claro, não existe. Será assim tão difícil aos homens entenderem que todos eles, em cada dia, a cada momento, nascem de novo, que não há apenas uma vida ou uma morte na vida mas várias, que sobre as cinzas de um fim se está constantemente nascendo de novo? Que a Fénix existe em cada um de nós? Foi isso que se passou comigo, afinal. Vi os meus planos caírem por terra e o meu amor ser desprezado. Vi desabar o mundo que criei. Vi esgotarem-se a curiosidade, a euforia, o deslumbramento, a paixão, a esperança, a teimosia, a ilusão. Fui até onde podia ir, até que fiquei sem forças. E nessa altura precisei de recuperar a minha essência, aquela de que julguei não precisar mais. Abandonar o mundo dos homens foi a melhor coisa, a única coisa a fazer. A esse gesto os homens chamaram de morte, eu insisto em chamar-lhe renascimento. Precisei de regressar ao que sempre fui e serei, para novamente me afirmar Eva Nascente. Não sou de facto a mesma que se juntou a um grupo de músicos, por amor à aventura, por amor. Sou outra, porque noutra me tornei em resultado de todas as vivências e sentimentos. Outra, recomeçada sobre as cinzas de mim, porém a mesma, porém outra. As diferenças são fáceis de encontrar. Olho mas o meu modo de olhar é diferente, acredito, mas já não acredito no mesmo, ignoro muita coisa, mas já não posso ignorar de novo aquilo que passei a saber. No fundo, acho que é a isto que os homens chamam de “pecado original”.
E no entanto, algumas coisas parecem teimar
Próxima (e última) publicação: 25 de Maio
Sem comentários:
Enviar um comentário