segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Privacidade vs solidariedade

Ouvi em tempos uma pessoa dizer que em termos de relacionamento humano, onde se ganha em solidariedade perde-se sempre em privacidade. Não posso estar mais de acordo, e se isto às vezes é uma coisa difícil de conciliar, meus amigos.

Senão vejamos. Aqui na minha vidinha de todos os dias, vou muitas vezes de autocarro para o trabalho. E acontece que há diversos colegas que me dão boleia com alguma frequência, já que entramos todos mais ou menos às mesmas horas e vamos todos para o mesmo lado. Tenho uma colecção de potenciais boleias muito considerável, que me permite poupar alguns trocos em transportes, o que é positivo. ;-)

Mas depois, lá está. Ganha-se solidariedade, perde-se privacidade. Ando a braços com a situação caricata de um certo colega, que me dá boleia com alguma regularidade, que de cada vez que não me encontra no local habitual à hora de sempre, acha-se no direito de me questionar, então a que horas vieste hoje, o que é que te aconteceu, trouxeste o carro, etc., etc.

Isto a mim causa-me calafrios. Desde sempre, se eu sonho que alguém me anda a controlar os horários, isso é coisa para me tirar do sério. Não gosto, não gosto mesmo nada. Inclusive, posso-me tornar mal educada se insistirem muito.

Além disso, o que é que o senhor quer? À pergunta mais frequente, a que horas vieste hoje, essa então recuso-me a responder de todo, era o que me faltava. Já me basta o relógio de ponto à entrada do serviço. Aliás, a resposta mais provável seria essa, eh pá, telefone para a secção de pessoal que por esta altura já lá está o registo. Não pode ser, o colega até é simpático, e se calhar nem tem noção de que está a ser inconveniente. E a boleia dele dá jeito. Mas há perguntas que não se fazem, bolas.

Além de que, com a vida que eu levo, nem que eu lhe passasse a minha agenda. E assim ele já sabia os dias em que não apareci porque tive uma reunião de manhã noutro lado, porque adormeci e resolvi apanhar um autocarro mais tarde, porque trouxe o carro para ir à piscina ao fim do dia, ou a uma reunião qualquer noutro lado qualquer, porque, porque, porque, porque. Não há pachorra.

Então e se me desse para responder mesmo? Também podia ser giro. Uma pergunta do género, que foi que te aconteceu hoje, a ser respondida à letra poderia ser algo parecido com isto:
- Sabe, é que eu esta noite não dormi em casa, e portanto era impossível ver-me por aquela zona de manhã...

ou então, melhor ainda:
- É que eu por estes dias andei menstruada e então, sabe como é, tive que dar mais umas voltinhas na casa de banho e atrasei-me, foi isso... Então o tempo? Este frio não há meio de abalar, hein?...

1 comentário:

Anónimo disse...

É urgente uma reflexão e consequente apresentação de relatório, também sobre a possibilidade do tal trauma comum... :-)