Terminou ontem. Desde há oito anos para cá que sou responsável por esta iniciativa, que é uma espécie de Fórum Estudante à escala municipal, e que está dirigida a jovens a partir dos 15 anos. O objectivo é dar informação a estes garotos sobre o que poderão vir a fazer das suas vidas no futuro, seja pela via do prosseguimento de estudos, ou pelo ingresso directo na vida profissional. Paralelamente, estes mesmos jovens têm oportunidade de actuar num palco “à séria”, e durante estes quatro dias foram actores, cantores, bailarinos e modelos de passerelle.
A maior dificuldade tem sido sempre a falta de meios. Este ano então, a única coisa de que nos pudemos gabar de continuar a ter com fartura, foi a nossa própria boa vontade. De resto, tivemos paus e pedras para trabalhar. Mas hoje, depois de tudo ter corrido pelo melhor, e recuperadas que estão as horas de sono perdidas, não consigo pensar muito nas dificuldades diárias, nem nas frustrações e aborrecimentos. Isso fica para amanhã.
Só consigo pensar num dos miúdos que desfilaram ontem, na passagem de modelos que encerrou o evento. Conheci-o em 2002, quando ele tinha talvez uns 12 ou 13 anos. Juntamente com outro irmão, estava no grupo de teatro da Escola Básica que frequentava na altura, e eram bem patentes as carências económicas que a família dele deveria enfrentar. Mas ali estava ele, pronto para fazer teatro, e para nos ajudar no que fosse preciso para erguer esta outra iniciativa que também promovemos anualmente, e que consiste em juntar os grupos de teatro das Escolas Básicas e Secundárias do Concelho, apresentando os seus espectáculos a toda a comunidade.
O caso dele não é diferente de tantos outros, apenas sei dele um pouco mais do que sei dos outros. E apenas posso imaginar quantas coisas ele gostaria de ter e não pode, que esforços serão necessários à família para o manter na Escola, assim como aos outros irmãos, que são uma data deles, e como aquele dia-a-dia deve ser difícil.
Quase todos os anos o tenho visto em cima dos palcos que nós lhe proporcionamos. Ontem então, quando o vi aparecer já tão crescido (deve andar pelo 11.º Ano), maquilhado e penteado, desfilando formoso e seguro por aquela passerelle fora, senti outra vez aquela satisfação do dever cumprido, e formulei novamente um pensamento que sempre me acompanha nestas ocasiões. Haverá quem beneficie do nosso esforço sem o merecer. Mas estes miúdos merecem tudo o que a gente possa fazer por eles. Ali, em cima daquele palco, estive ontem a ver desfilar o verdadeiro pagamento que eu recebo pelo meu trabalho.
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