terça-feira, novembro 29, 2005

Dia do quê?!

Veio parar às minhas mãos certa publicação em forma de Agenda para 2006, onde consta tudo o que é Dia Mundial, Internacional, Europeu, ou simplesmente dia-de-qualquer-coisa. Não sei se sou eu que acordei hoje com uma certa vontade de embirrar, mas há pr’áqui coisas (e eu só seleccionei algumas, atenção!), que me parecem um bocado bizarras. Senão, vejamos:

Dia Mundial para a Protecção da Camada do Ozono – 16 de Setembro
Dia Mundial do Mar – 17 de Março
Dia Mundial da Terra – 22 de Abril
Dia Internacional do Sol – 03 de Maio
(É bonito. Há um dia para todos os elementos, ar, água, terra e fogo. Muito místico. Gosto.)

Dia Mundial da População – 16 de Julho
Dia Mundial do Habitat – 04 de Outubro
(Esperem. Expliquem-me lá isto como se eu fosse muito burra…)

Dia Mundial da Meteorologia – 23 de Março
Dia Mundial da Luta contra a Seca e o Despovoamento – 17 de Junho
(Ehr… É caso para dizer que se de um lado chove, do outro faz vento.)

Dia Mundial do Turismo – 27 de Setembro
Dia do Turista – 20 de Abril
(Então, mas, mas… Se já havia um dia do turismo, porque é que tem que haver um dia do turista? E quem é que faz turismo em Abril, pelamordedeus…)

Dia Nacional dos Avós – 26 de Julho
Dia Mundial do Idoso – 01 de Outubro
Dia Nacional da Terceira Idade – 26 de Outubro
(Isto agora já é um abuso. Então isto não se juntava tudo num dia só e ficavam despachados?...)

Dia Mundial dos Castelos – 09 de Outubro
Dia Mundial dos Centros Históricos – 28 de Março
Dia Nacional dos Moinhos – 07 de Abril
Dia Internacional dos Monumentos e dos Sítios – 19 de Abril
Dia do Relógio de Sol – 21 de Junho
(Esta malta dos museus deve ter a mania… E ainda falta o Dia Internacional dos Museus, que é a 18 de Maio. Xiça!!)

Dia Mundial dos Correios – 09 de Outubro
(Tá giro. E também devem estar para criar o dia mundial dos distribuidores de publicidade porta-a-porta não tarda mesmo nada.)

Dia Nacional da Desburocratização – 28 de Outubro
(AH! AH! AH!... Só mesmo em Portugal para se fazer um dia destes. É este e o dia nacional da fuga ao fisco!)

Dia da Qualidade de Vida – 14 de Novembro
(Eu até podia ter juntado este com o de cima, mas não vou por aí, não insistam…)

Dia Nacional da Cultura Científica – 24 de Novembro
(Tá bem. Mas é discriminatório. Então e as outras culturas, que não são científicas? Isto de certezinha que tem a ver com o choque tecnológico.)

Dia da Não Violência e da Paz nas Escolas – 30 de Janeiro
Dia Mundial das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão – 02 de Junho
Dia Internacional de Recordação da Escravatura e sua Abolição – 23 de Agosto
(Pronto, aqui as causas são umas boas causas, mas os termos em que estão ditas… Então só as crianças inocentes é que contam para aquele dia 02 de Junho? Então e a criança que perdeu a inocência? Já pode levar porrada à vontade? Muito estranho…)

Dia do Livro Português – 26 de Março
Dia do Autor Português – 22 de Maio
(Mania de se acharem mais que os outros, livra!...)

Dia Internacional da Luta contra a Droga – 02 de Abril
Dia Internacional Contra o Abuso do Uso da Droga e do Tráfico Ilícito – 26 de Junho
(Isto não é tudo o mesmo? Isto não é tudo o mesmo? Isto não é tud… Hã? Estou só a dizer a mesma cois... É para seguir em fr...? Ah, ok, prontos.)

Dia Mundial das Comunicações – 27 de Abril
Dia Internacional da Liberdade de Imprensa – 03 de Maio
Dia Mundial da Comunicação Social – 07 de Maio
(Estes jornalistas são uns exibicionistas!...)

Mas o que eu gostei mesmo, mesmo, que achei uma maravilha, uma verdadeira pérola foi esta coisa do arco da velha:

Dia Internacional dos Povos Autóctones – 09 de Agosto
(Auto quê?!! Mas será que não arranjavam uma maneira mais clara para dizer isto? Quem é que decide estas merdas?!... Oh, sinceramente…)

segunda-feira, novembro 28, 2005

Momento parvo do dia

Um pintelho num urinol não é coisa de estranhar.

Se fossem marcas de baton, aí sim, era caso para desconfiar.

Momento egoísta do dia

Fui a uma loja destas, e comprei-me o meu presente de Natal. Gastei um dinheirão. Não quero saber.

A mocinha da loja tratou-me super bem, à proporção do dinheirão que lá deixei. Deu-me um cabide. E uma capa impermeável para a roupa, porque está a chover, e o jeitão que aquilo me vai dar para arrumar coisas, depois.

Não interessa que eu ande desde o ano passado a ver se consigo ter dinheiro para isto. E que tenha que vigiar com muito cuidado as minhas despesas nos próximos tempos, e cortar-me a algumas coisas para compensar a despesa de hoje.

No fundo, no fundo, eu não passo de uma pelintra. Mas ao menos hoje, ao sair da loja de sacalhão na mão, sentia-me mesmo uma senhora!

sexta-feira, novembro 25, 2005

Os Homens do Leme

Fui a desejo, ao primeiro de todos. Um bom concerto, aliás, outra coisa não se esperava.

Enquanto lá estive, coisas muito diferentes me foram passando pela cabeça. As músicas iam-se sucedendo, e fosse da música, fosse dos cheiros esquisitos que de vez em quando se faziam sentir, dei comigo a reflectir uma vez mais no rumo que a minha vida tomou este ano, e que graças a circunstâncias muito pessoais, têm vindo afastar-me de uma fase árida, que já se arrastava há muito. Este rumo que hoje tomo vai fazendo de mim uma pessoa melhor.

Talvez por isso, mas também porque foi um momento muito bonito de ontem à noite, registam-se aqui estas sábias palavras.

"Sozinho na noite
Um barco ruma, para onde vai?
Uma luz no escuro
Brilha a direito, ofusca as demais

E mais que uma onda, mais que uma maré
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé
Mas vogando à vontade, rompendo a saudade
Vai quem já nada teme, vai o homem do leme

E uma vontade de rir
Nasce no fundo do ser
E uma vontade de ir
Correr o mundo e partir
A vida é sempre a perder

No fundo do mar
Jazem os outros, os que lá ficaram
Em dias cinzentos
Descanso eterno lá encontraram

E mais que uma onda, mais que uma maré
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé
Mas vogando à vontade, rompendo a saudade
Vai quem já nada teme, vai o homem do leme

E uma vontade de rir
Nasce no fundo do ser
E uma vontade de ir
Correr o mundo e partir
A vida é sempre a perder"

quinta-feira, novembro 24, 2005

Vieira do Mar

"No dia de Natal, muitos dos miúdos que, semanas antes, se encarrapitavam nos tais carrinhos de compras com ademanes autoritários, estão de olho fixo no ecrã da televisão, com as mãos agarradas a um comando, ocupados em passar para o nível treze do alheamento individual (que é o do estoumacagarpravocêstodos)."

É só um exemplo das coisas pertinentes e muito bem escritas, sempre, que podem ser encontradas aqui.

Pois...

Ando sem assunto

Preciso de um desbloqueador de conversa, é o que é...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Prestar provas

Ontem de manhã, enquanto assistia à realização de provas de conhecimento de um concurso para a entrada na Função Pública, pus-me a pensar que já lá vão alguns anos desde o tempo em que eu própria estive "daquele lado".

Tive muita sorte. Entrei para os quadros sem grande esforço, e até sem ter grande consciência da importância que isso poderia ter na minha vida. Tinha 20 anos, fiquei em 22.º lugar no concurso. Naquela altura as carências de pessoal eram muitas, e ninguém falava em cortar despesas.

As minhas dificuldades vieram depois, também não perderam pela demora, e foi a pulso que me afirmei profissionalmente. Tive que prestar mais provas, de conhecimento e das outras, provas de profissionalismo, provas de carácter, provas de nervos, muitas vezes. Nada de especial, no fundo fiz-me à vida. E mais uma vez tive sorte. Os obstáculos foram muitos mas também houve quem me ajudasse a ultrapassá-los. A gente precisa sempre de alguém que nos ajude.

Olhando para trás, parece que esse tempo em que estava na mesma posição daqueles concorrentes de ontem, está a 300 anos-luz de distância. Hoje em dia ocupo o meu lugar confortavelmente, e sei que podia apenas instalar-me e deixar o tempo passar, usufruir do que conquistei. Mas não dá.

Quem aos 20 anos me ensinou a trabalhar, sempre disse umas palavras sábias de "puta velha" (no bom sentido). Dizia ela, faças o que fizeres, não calces as pantufas, que é como quem diz, parar é morrer. Com apenas 13 anos de carreira, longe de mim a ideia de calçar as pantufas. Quero mais, posso mais, preciso de mais. E por causa disso, vejo-me novamente num qualquer ponto de partida, que felizmente não é já nenhum dos que já passei, mas outro.

Tenho tido sorte. Espero continuar a tê-la. E gente para me ajudar. Afinal não estou num plano assim tão diferente das pessoas que prestaram provas ontem, cá ando a fazer pela vida, que por enquanto ainda é cedo para calçar as pantufas.

PS: É muito triste, por outro lado, saber que daquele grupo de concorrentes só podemos escolher um. E saber que se viessem 2 ou 3 havia trabalho para todos. Fico a perguntar-me que mais-valias teríamos, em termos de serviço, que resultados poderíamos obter se escolhêssemos, não o melhor, mas os 3 melhores, para virem trabalhar connosco. Se pudesse ser assim em todo o lado. Será que os níveis de desenvolvimento que obtínhamos não compensariam o acréscimo da despesa pública?...

terça-feira, novembro 15, 2005

Ai, estes canais generalistas...

Na semana passada estreou "O Sexo e a Cidade" na SIC, um conjunto de episódios novos, que ainda nunca passaram na televisão cá em Portugal, e aos quais apenas se tinha acesso largando balúrdios de dinheiro na fnac, a comprar os dvd's. Estreou às 00h20.

Hoje, dois novos episódios, lá pela 01h05 da manhã. Primeiro, programas realmente interessantes, os "Malucos", a novela "América" versão de metro, que hoje casa não-sei-quem, e depois ainda mais outra da Lua não sei quê.

Eu estava desejosa de ver aqueles episódios, mas não dá, claro. Se já na semana passada não me aguentei para ver aquilo, quanto mais hoje...

Ó senhores da SIC! A malta trabalha, sabiam?! A gente levanta-se cedo!! Se não fosse pedir muito, lá de vez em quando, gostava de ver um programita do meu agrado a horas decentes! Será que é um grande incómodo pensar um bocadinho noutro target para além da carneirada??!!

Palhaços, pá...

sábado, novembro 12, 2005

As Intermitências da Morte

É um livro que confirma o que já se vem verificando nos livros anteriores de José Saramago. Do meu modestou ponto de vista, a última obra de génio do mestre, até esta data, foi O Ensaio Sobre a Cegueira.

Este livro é muitíssimo interessante. Acho inquestionável que por trás do autor que criou a obra, está um homem que, pelos anos de vida que já conta, pelo seu modo de ser pragmático e descrente noutra vida que não seja esta em que vivemos, certamente vai pensando cada vez mais na inevitável morte que o espera. É curioso que tenha acabado com ela no final do livro, redimindo-a, se assim se pode dizer, e fazendo com que mais ninguém morra. Se calhar encerra-se aí o seu desejo mais profundo, que é o de todos nós, o de que os dias vão passando, um atrás dos outros, e a morte nunca nos bata à porta, porque por mais que aceitemos as evidências da física, da biologia, da experiência empírica, olhamos para dentro e sempre pensamos que não, que a morte não é para nós. Esmagados pela lógica, muitas vezes substituímos essa negação da mortalidade com um simples "ainda é cedo". Acho que é nessa fase que se encontra o nosso Saramago, que faz 83 anos no dia 16 deste mês.

Mas por outro lado, As Intermitências da Morte é novamente uma decepção. Ficam tantas pontas soltas pelo caminho, tantas ideias que podiam ser melhor exploradas e que são abandonadas à sua sorte, tantas questões relevantes apresentadas de forma inconsistente, a precisarem de serem esmiuçadas, esgravatadas até ao seu âmago, doa a quem doer. Foi a isso que ele me habituou nos seus livros, e foi com esses livros que eu deixei de ser o que era, para passar a ser outra coisa diferente. Este livro, tal como os anteriores, deixam-me na mesma, e tenho pena.

Não sei porque é. Se calhar, é apenas o facto de nenhum génio da literatura conseguir produzir sempre obras de génio. Sendo génios da literatura, não deixam de ser também simples homens e mulheres, com tudo o que isso tem de bom e de mau. Será velhice? Será falta de paciência, falta de vontade, falta de tempo, será o quê? Se calhar nem interessa saber. O património cultural que este homem concedeu ao nosso País e ao Mundo é já por demais digno dos nossos agradecimentos. Se já não cria mais obras de génio paciência, a isso não está obrigado.

Muitos não concordarão com o que aqui deixo escrito. Muitos detestam o José Saramago e não compreendem sequer como alguém pode gostar de ler aqueles livros mal escritos, sem pontuação, intragáveis na forma e no conteúdo, quanto mais considerá-lo um génio da literatura! Para essas pessoas, o meu respeito. Há muitos escritores de excelência que eu não consigo ler.
Quanto ao Saramago, que já não é hoje o Saramago do Ensaio sobre a Cegueira, que não era o Saramago do Evangelho Segundo Jesus Cristo, que por sua vez não tem nada a ver com o Saramago do Memorial do convento, que estava já a anos-luz do Saramago do Levantado do Chão, sempre que tenha alguma coisa para dar a ler eu cá estarei, mesmo que os livros que agora me chegam às mãos já pouco tenham a ver com a Blimunda em que os seus outros livros me tornaram.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Pilha de limão??

Pronto. Gente com necessidades algo caricatas começa a vir cá parar.

Teoria da relatividade

"Bom dia, doutora", disseram-me respeitosamente no corredor, enquanto eu me dirigia apressada para a casa-de-banho, a fim de satisfazer a necessidade fisiológica número dois.

quarta-feira, novembro 09, 2005

O Natal é quando as lojas quiserem

"Ando desesperadamente à procura de uma árvore de Natal toda branca e não encontro em lado nenhum!!"

Isto disse uma senhora, à porta da loja dos trezentos*. Desesperada? Por uma árvore de Natal branca? Mas hoje são 09 de Novembro ou 09 de Dezembro? Faltam quase dois meses para o Natal e a senhora anda desesperada? E não encontra? Claro que não encontra, se esperar mais um bocadinho que as coisas cheguem às lojas talvez encontre... Não?... E quando estiver a uma semana do Natal? O mais certo é andar a tomar calmantes para os nervos, se agora já anda desesperada...

Quando se chega a esta altura fica tudo um bocado parvinho com o Natal, não fica? Se calhar é por causa disso que eu, prái há uns três anos, já nem me dou ao trabalho de fazer árvore de Natal. É muito stress, muita pressão, e eu sou muito fraquinha para estas coisas...

* Já não são trezentos, mas toda a gente ainda as chama assim. É uma loja-maravilha com coisas porreiras, algumas baratas, outras nem tanto, que nos fazem falta para a casa mas que noutras lojas custam umas barbaridades de dinheiro e a gente quer coisas giras mas não somos ricas e aquelas ficam bem à mesma e às vezes até fazem o mesmo efeito, e que também tem coisas boas para oferecer às pessoas que merecem prenda mas que não justifica estar a gastar assim tanto dinheiro com elas, porque são muitas e depois não há orçamento que aguente, que nem é por não gostarmos delas, falo das pessoas, não das coisas, e que também tem coisas boas para comprar, porque são mesmo muito baratinhas, que é para quando a gente nos apetece simplesmente comprar, não importa o quê, podemos levar dali qualquer coisita que nem sequer gastamos muito e ficamos contentes e animadas para o resto do dia, enfim, toda a gente compreende, acho, que tipo de loja é que é. Pelo menos as mulheres devem ter percebido...

terça-feira, novembro 08, 2005

Olhóóó brooooche fresquiiiiinhoooo!!!!

A recém-chegada chefe gosta muito de broches. Não há casaquinho que não traga um, ao tom do tecido, em forma de rosa ou de outras flores menores, de libelinha ou outros insectos, com brilhantes de várias cores, com pendentes, uns pequeninos, outros mais avantajados, sem broche é que não pode ser, é como um jardim sem flores.

Há uma chefe maior que aquela, que também não dispensa o seu brochezito, porém mais discreta na escolha das formas, dos materiais e das cores, naquele caso o broche apenas retoca o figurino mas não vale por si mesmo, o peito que o carrega é que faz daquele um broche digno de tanto respeitinho.

E é assim que nascem as modas, meus amigos. Desde há uns dias para cá que é ver as sub-chefes e as chefes menores, as aspirantes a chefes, as secretárias das chefes, todas com o seu belo broche orgulhosamente exibido! E nas reuniões onde todas se juntam? Aí é que é mesmo lindo de se ver, tanto broche junto, florinhas, libelinhas, lacinhos, corderosinhas, amarelinhos, azulinhos…

Há uma desgraçada que olha em volta, e no meio de tanto broche reunido, vê-se a si mesma completamente nua, sem um único broche a que possa chamar seu. Está bem lixada. Aqui na brocholândia não tem qualquer futuro…

... Quanto a mim, até sou capaz de me safar no meio disto tudo. Há já muito tempo que sou adepta do broche. Mas não sei, é um broche mais artesanal, sem lantejoulas, tosco e sem brilho. Alguns nem têm forma definida. Não, tou lixada também. Não sou digna de andar a par com os broches que por aí andam...

domingo, novembro 06, 2005

Um padre improvável (II)

E de moldes que lá fui eu, ouvir o Padre Mário falar dos livros dele. Com os livros por ponto de partida, foi um bom exercício de abertura das consciências. Muita blasfémia. Aquele homem blasfema que se farta.

Diz que o pecado original é uma coisa parva que nunca existiu realmente, e que como o pecado original é uma aldrabice, Jesus Cristo também não veio ao mundo para redimir ninguém. Diz que a Igreja tal como está organizada, não tem nada a ver com o que Jesus ensinava. Falou dos padres que recomendam em média umas dez almas por missa, se fizermos as contas a 15 € por alma, fica o padre com o dia ganho, quanto às almas, que ganharão elas com isso. Falou do sistema de recolha de dinheiro que existe em Fátima, que suga as moedinhas, uma maravilha da técnica para bem da caridade, que separa imediatamente o dinheiro graúdo do miúdo, o coloca em sacos, ao fim do dia está tudo prontinho a depositar.

Achei muita piada, que a dada altura falou de como Jesus gostava de estar à mesa, sendo este o lugar que considerava mais privilegiado para a troca de ideias. Um pouco mais tarde na conversa falou dos seus tempos de seminarista, e de como na hora da refeição era imposto o silêncio, quebrado apenas pela leitura em alta voz de um qualquer texto bendito. Diz que esta Igreja já não presta, e que a única coisa que resta fazer é acabar com ela.

Falou muito de liberdade. Daquela que só é possível quando lemos, ouvimos, conversamos, e depois pensamos pela nossa própria cabeça, que esta última parte é que é muito difícil e pouca gente está para aí virada. Uma liberdade que olha para o sistema e denuncia o que está mal. Mesmo que incomode. Mesmo pagando por isso, que o sistema não gosta de quem o põe em causa. Nunca gostou, aliás. No fundo foi por isso que Jesus foi crucificado, por causa de incomodar o sistema.

O Padre Mário nunca foi excomungado, mas segundo a própria opinião, nunca o foi para que não recaiam ainda mais atenções sobre si. Em contrapartida, o Anuário da Igreja, onde constam os nomes de todos os padres de todas as dioceses do País, não o inclui a ele. Não tem Paróquia nem consta na lista, faz de conta que não existe. Pela calada, sem dar nas vistas que a inquisição já lá vai, o coice está dado. Diz que não se rala com isso. Fora da Igreja faz melhor o que considera ser a sua missão.

Fala de um Jesus Cristo que é desconhecido de muita gente, e desgraçadamente, é desconhecido de muitos católicos. Fala de se ter a fé de Jesus, ao invés de se ter fé em Jesus.

Comprei para mim O Outro Evangelho Segundo Jesus Cristo. Trata-se de uma “tradução actualizada e anotada” do Evangelho de Jesus segundo São Marcos, um dos quatro Evangelhos Canónicos, presumivelmente o mais antigo de todos, escrito apenas 12 a 14 anos depois da morte de Jesus. Palavras do autor, “Jesus, o de Nazaré, não tem praticamente nada a ver com Jesus, o do Império Romano de Constantino, nem com Jesus, o da Cristandade Ocidental que se lhe seguiu, nem com Jesus, o da Cúria Romana dos nossos dias, nem com Jesus, o das seitas pseudocristãs milagreiras (…)”. Fui-lhe pedir para me assinar o livro e eis o que escreveu: “E agora que vamos fazer com este Jesus? Vamos ser como ele?”.

Para já, vou continuando a ler coisas sobre ele, coisa que de facto venho fazendo há anos, pese embora sem qualquer tipo de fervor religioso. Digamos que é um interesse muito grande, que no entanto não é justo classificar de apenas académico. Se calhar, é um fascínio pelo mistério, a sensação de que há mais na história de Jesus para conhecer e compreender.

O Padre Mário diz coisas com muito sentido. Vale a pena conhecer o que ele tem a dizer, acho eu. Pareceu-me um gaijo cumadeveser.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Um padre improvável (I)

Amanhã conto passar algum tempo a ouvir este senhor a falar.

Vou comprar mais uns livros para a pilha, é o que é. Este Padre é autor de livros com nomes tão sugestivos quanto "Fátima Nunca Mais", "Fátimamente", "E Deus disse: do que eu gosto é de política, não de religião", "O Outro Evangelho sobre Jesus Cristo", e o meu título preferido, "E se com o Papa enterrarmos também esta Igreja Católica Romana?".

Ainda não o conheço, mas já gosto dele.

Nota que não tem nada a ver (ou então tem): Já comecei a ler "As Intermitências da Morte". Logo no primeiro capítulo diz-se uma coisa gira. "Sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há Igreja." E o meu comentário é: ora aí está.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Está tudo bem

Eu é que ando cheia de trabalho e sem tempo, nem sequer para coçar os tomates, de moldes que é uma sorte não os ter, senão era outra coisa que ficava por fazer.

Até já.