Já se passaram quase cinco anos sobre
este post. Na altura, escrevia com o peso de um problema que parecia não ter solução à vista, quando tudo o que queria era poder descrever de que maneira ele tinha ficado resolvido. A conversa com um amigo fez-me hoje reflectir que ainda nunca escrevi este epílogo, e sobretudo numa fase em que os epílogos parecem avolumar-se na minha vida, aqui fica registado mais um, na forma de um resumo do que passei durante mais de um ano em que vivi com uma inflamação vaginal por candida albicans.
Devo dizer, aliás, que este blog acabou por se tornar (sem que fizesse mais por isso do que o conjunto de posts relativos ao assunto) num ponto de referência, ponto de encontro, muro de lamentações, eu sei lá, para muitas centenas de mulheres desesperadas e angustiadas com um problema de saúde que é de facto desesperante e angustiante, e que estranhamente parece continuar a ser pouco valorizado. Essas mulheres que aqui vêm também já mereciam este post, até porque muitas delas têm-me contactado por email ou através dos comentários no blogue, pedindo ajuda, informações, ou apenas alguma forma de apoio moral. A muitas tenho respondido, à medida do que também me vai sendo possível. No conjunto de posts sob o marcador "candida albicans" registo, à data de hoje, 1095 comentários. Mil-e-noventa-e-cinco.
A minha infecção por candida albicans surgiu em Janeiro de 2006 e durou até Março de 2007. Hoje em dia está ultrapassada, mas infelizmente a medicina convencional não chegou para resolver o problema. Costumo dizer que passei das drogas leves (gino-canesten, gino-pevaryl) às drogas duras
(fluconazol) no que aos tratamentos possíveis para a candida dizem respeito e, ao fim de um tempo, tinha a sensação de que quanto mais medicamento tomava ou aplicava, pior me sentia.
Na verdade, tudo começou por ser uma infecção mista (bactéria e fungo), o que só piorou as coisas. Piorou porque para se tratar uma coisa foi inevitável piorar a outra. Ou seja, para matar a bactéria com antibióticos tive que enfraquecer (ainda mais) o sistema imunitário, o que fortaleceu a candida. A candida é um fungo, não é tratável com antibióticos. Ela habita no nosso organismo naturalmente. Se o nosso sistema imunitário estiver a funcionar bem, mantém a cândida a níveis controlados. Se o sistema imunitário enfraquecer (e isso sucede muitas vezes com a toma de antibióticos), é natural que a cândida tenha terreno para se esticar. Foi o que me aconteceu.
Informação importante que acho que qualquer mulher deve conhecer sobre este problema e, de resto, sobre a nossa flora vaginal, é que o princípio de combate à candida é na verdade muito básico: a nossa flora vaginal é naturalmente ácida, porque a acidez destrói as bactérias. É um sistema de defesa natural do nosso organismo, que tem uma "porta aberta para o mundo". Mas os fungos florescem em ambiente ácido. Logo, para combater um fungo, é necessário aumentar o ph da flora vaginal. Ou de todo o organismo, se o fungo estiver a generalizar-se pelo corpo, através do intestino.
E agora, aquilo que realmente interessa: como é que me livrei da candida? A resposta é, com a homeopatia. Os tratamentos têm o grande contra de serem muito caros, mas no meu caso foi a única alternativa. Consultei também um alergologista, fiz uma vacina contra o fungo durante quatro anos. Só tive alta recentemente. Fiz análises de tudo e mais alguma coisa e a candida está desaparecida. O alergologista despediu-se de mim, ao fim deste tempo todo dizendo, durante muito tempo, espero que esteja imunizada. Se a coisa voltar, sabe onde me encontrar... Portanto, isto é sempre uma coisa da qual não se está propriamente
curada... Mas estou agora há vários anos sem qualquer crise, o que me deixa muito satisfeita e, por outro lado, mais confiante, porque ao mínimo sinal de alarme já saberei agora melhor o que devo fazer.
Quanto à
homeopatia, para quem queira seguir esse caminho, a única coisa que aconselho é que procurem profissionais que vos dêem algumas garantias de fidedignidade. O que eu receio nestas medicinas alternativas é a proliferação de pessoas a praticá-las sem que possamos comprovar se prestam para alguma coisa ou não... no meu caso consultei um homeopata em Lisboa, que dá consultas na Ervanária Científica Garcia da Orta, em Alcântara. O nome é Dr. Amândio Marques e a lista para marcação de consultas costuma ser longa. O que ele fez comigo foi muito simples. Deu-me antiácidos, para eliminar a acidez dos próprios alimentos que eu comia. Alguns antifúngicos naturais. E suplementos alimentares para fortalecer a imunidade. Ao fim de pouco tempo comecei a melhorar e até hoje. Quanto ao custo dos medicamentos, pensai cada uma de vós quanto dinheiro já enterrou em medicamentos que não vos trataram, e é uma questão de verem qual o caminho a seguir.
Em relação à
alergologia, consultei um médico na Clínica de Santo António, em Sacavém, o nome é Dr. Marques Ferreira. Para mim a surpresa a este nível foi perceber que muitos ginecologistas desconhecem totalmente que existe uma vacina contra a candida albicans... Acho estranho. Mas pelos vistos a medicina também tem as suas quintas, o que nos deixa a nós, doentes, com a obrigação de nos documentarmos e promover a interdisciplinariedade...
Outras dicas importantes. Começo por
produtos que não são medicamentos, mas podem ajudar. O
Alkagin tornou-se num amigo para a vida. Uso a solução íntima na minha lavagem diária. Quanto ao gel, pode ser um grande alívio para quem se sinta muito "seca", por vezes alguns tratamentos locais podem deixar essa sensação.
Há ainda outro produto excelente, e que me foi aconselhado a dada altura num comentário aqui mesmo no blogue, por um ginecologista, chamado
Geliofil. Há nas farmácias convencionais, se não tiverem peçam para encomendarem. É óptimo para limpar logo a seguir ao período e também não tem contra-indicações. Outra curiosidade: na altura em que recebi esta "dica", eu andava em consultas de ginecologia na Maternidade Alfredo da costa. Quando lá cheguei e falei deste medicamento, desconheciam que ele existisse... É verdade que era algo muito recente, mas de novo estranhei que, no sítio que supostamente está na vanguarda, precisasse de uma utente para lhes levar a boa nova...
Isto para dizer que, infelizmente, há muitos ginecologistas que continuam a achar que a candidíase é um problema menor, facilmente tratável, e que não representa nada de especialmente grave. Relativizam o sofrimento por que se passa quando se sucedem os tratamentos sem que hajam melhoras, insinuam que estamos a imaginar coisas (aconteceu-me, mais um bocadinho e dizia que eu
era maluca), e desvalorizam o mal que isto faz à nossa auto-estima quando percebemos que não conseguimos ter uma vida sexual normal. Ignoram que isto nos pode levar à depressão, como chegou a acontecer comigo.
Que conselhos mais vos posso dar? Se o vosso ginecologista desvaloriza o problema, mandem-no passear. Arranjem outro, e outro, e outro, até acertarem. Explorem outras especialidades médicas, especialmente a alergologia, se virem que associados a estes problemas estão outros, tais como pele atópica, intolerância alimentar, alergias. Não me entendam mal, eu nunca desprezei os médicos. Agarrei-me a eles como lapa, faço os exames todos, vou a consultas regulares. E nada do que aqui digo ou sugiro substitui o acompanhamento médico. Absolutamente nada. Mas nenhum médico pode substituir-nos no nosso empenho de zelarmos pelo melhor acompanhamento possível.
Mas não é menos verdade que há coisas muito importantes que só dependem de nós, desde logo os hábitos alimentares. Água, muita água. Chá, bebi litros e litros de chá. A camomila é um anti-inflamatório natural, e eu também gosto muito duma erva chamada tomilho-limão, faz um chá super agradável e o tomilho é anti-fúngico. Há alimentos que é imperativo evitar durante as crises: cogumelos, coisas com amido ou fermento (pão, bolos), álcool, açúcares. Alimentos ácidos, tais como alguns frutos, laranja, limão, ananás. O leite e o café também devem ser evitados.
E finalmente, o mais difícil de tudo: Não nos deixarmos deprimir, porque a depressão também enfraquece a imunidade e é claro, só dá ainda mais força à candida. Se for preciso tomar
anti-depressivos, pois que seja. Tudo o que for preciso para dar cabo dela.
Isto de certa forma resume tudo o que aprendi e vai ao encontro das muitas perguntas que tantas de vós me têm feito sobre este assunto. Espero que o meu testemunho sirva para vos ajudar a encontrar um caminho para um tratamento que resulte convosco, e que não será necessariamente igual ao meu. O meu epílogo está feito. Desejo a todas as que chegaram a este último prágrafo (e só o farão aquelas a quem isto realmente interessa, de certeza), que o vosso epílogo possa ser escrito o mais brevemente possível.