sexta-feira, dezembro 30, 2005

Procura-se

Tolerância de ponto. Foi vista pela última vez no passado dia 26 de Dezembro. Mostrava sinais de cansaço e náusea, derivados provavelmente dos excessos alimentares das noites anteriores.

Correm rumores de ter sido novamente avistada hoje, para os lados da Câmara Municipal de Lisboa. Pede-se a quem a encontrar que não seja garganeiro e extenda o seu âmbito ao maior número de funcionários públicos possível.

Caso seja atribuída, oferece-se jantar de fim-de-ano preparado com toda a calma, com mais garantias de sucesso, permitindo inclusive fazer as compras todas sem andar no meio da carneirada.

Aguardaremos notícias até às 12h30 de hoje. Muito obrigado. É tudo.

Primeira injustiça de 2006

Alguns funcionários públicos deste País tiveram tolerância de ponto, hoje.

Outros não.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

terça-feira, dezembro 27, 2005

Day after

Então, o Natal? Ah e tal, passou-se. O importante é estar junto da família, não é? Sim, sim, isso é o mais importante. Jantar com a família, trocar prendas com a família, almoçar no dia seguinte com a família, tentar equilibrar os diferentes jogos de forças que existem entre os vários membros da família, ouvir as lamentações e os mesmos comentários de sempre da família, manter a calma e a serenidade perante crises de infantilidade dos elementos mais velhos da família...

Se calhar é por isso que nos enchemos de comida até ao esófago, no Natal. É para tentar afogar as frustrações que sempre acompanham esta noite, tão plena de amor e de paz.

Comi demais, como sempre. Estou com uma overdose familiar.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Feliz Natal

Presépio de Lata
Carlos Tê / Rui Veloso

"Três estrelas de alumínio
A luzir num céu de querosene
Um bêbedo julgando-se césar
Faz um discurso solene

Sombras chinesas nas ruas
Esmeram-se aranhas nas teias
Impacientam-se gazuas
Corre o cavalo nas veias

Há uma luz branca na barraca
Lá dentro uma sagrada família
À porta um velho pneu com terra
Onde cresce uma buganvília

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,

Oiçam um choro de criança
Será branca negra ou mulata
Toquem as trompas da esperança
E assentem bem qual a data

A lua leva a boa nova
Aos arrabaldes mais distantes
Avisa os pastores sem tecto
Tristes reis magos errantes
E vem um sol de chapa fina
Subindo a anunciar o dia
Dois anjinhos de cartolina
Vão cantando aleluia

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,

Nasceu enfim o menino
Foi posto aqui à falsa fé
A mãe deixou-o sozinho
E o pai não se sabe quem é

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells"

Definitivamente...

Isto não presta para nada. E isto então, até mete nojo.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Exm.º Sr. Querido Pai Natal

Venho por este meio, já que pelos vistos toda a gente faz isto, e não é que eu ache que um indivíduo vestido de vermelho, com umas barbas brancas, aparentando uma idade já avançada, mais apropriada para estar em casa sossegadinho com uma manta pelos joelhos, ou quando muito para concorrer a Presidente da República, do que para andar por aí a aparecer na casa das pessoas todas numa única noite, ele sempre há gente muita bisbilhoteira, credo, e que não contente com isto, ultimamente até se pendura nas varandas a torto e a direito montes de tempo antes do Natal, dizia eu, não é que eu ache possível que V.ª Ex.ª tenha condições de me presentear com o que passo a expor, mas não vá o diabo tecê-las, também afinal pedir não custa, e vai na volta ainda resulta, solicitar estas duas singelas prendas de Natal:

Prenda n.º 1: Um comprador para a minha humilde casinha, que eu estou bem farta dela e do sítio onde ela está, e eu queria duma vez por todas vendê-la, para poder comprar outra maior e mais bonita e num sítio mais catita.

Prenda n.º 2: Um novo posto de trabalho, de preferência noutro local e numa área um bocadinho diferente do que este em que me encontro actualmente, que estou a precisar à brava de mudar de ares, e já agora, se não for pedir muito, inclusive tendo em consideração o solicitado na prenda n.º 1, a receber um ordenado mais elevado que o actual.

Era isto. Obrigadinha pela atenção. Pede deferimento,
blimunda sete luas

P.S.: Eu quero mesmo muito estas coisas. Por isso, Sr. Querido Pai Natal, estou disponível para negociar as contrapartidas que considerar necessárias, inclusive eventuais favores sexuais, isto claro no limite do razoável, ou seja, só o senhor, sem renas nem duendes à mistura, que eu sou uma rapariga séria e não quero cá badalhoquices com animais ou outras criaturas. Que eu não condeno nada dessas coisas, atenção, desde que todos queiram, o que é preciso é que as pessoas sejam felizes. Um Santo Natal para si e para os seus.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Canção de alterne

"Pára de chorar
E dizer que nunca mais vais ser feliz
Não há ninguém a conspirar
Para fazer destinos
Negros de raiz
Pára de chorar
Não ligues a quem diz
Que há nos astros o poder
De marcar alguém
Só por prazer
Por isso pára de chorar
Carrega no batom
Abusa do verniz
Põe os pontos nos Is
Nem Deus tem o dom
De escolher quem vai ser feliz

Pára de sorrir
E exibir a tua felicidade
Só por leviandade
Se pode sorrir assim
Num estado de graça
Que até ofende quem passa
Como se não haja queda
No Universo
E a vida seja moeda
Sem reverso
Por isso pára de sorrir
Não abuses dessa hora
Ela pode atrair
O ciúme e a inveja
Tu não perdes pela demora
E a seguir tudo se evapora"

Rui Veloso/Carlos Tê
A Espuma das Canções

domingo, dezembro 18, 2005

Mais duas, mais uma... Agora a outra perna!...

Tenho uma monitora de hidroginástica nova, que me dá aulas todos os Domingos, às nove da manhã.

Cheguei hoje à conclusão que a rapariga, para além do curso de monitora de hidroginástica que deve ser normal tirar-se, tirou uma especialização qualquer em "movimentos musculares subaquáticos equivalentes a processos de tortura"...

Livra!...

PS: Está mesmo tudo doido com o Natal. Vinha eu desta minha actividade física, passando de carro, e eu nem queria acreditar, mas juro que não é mentira, juro que vi isto, um tipo a fazer jogging, com um barrete de Pai Natal enfiado pela cabeça abaixo!!

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Vencedor absoluto do prémio "Já vais tarde e a más horas"

Para este senhor.

Adeus, e se quiser um queijo da serra vá comprá-lo, que o dinheiro da indemnização deve chegar e sobrar.

A minha primeira festa do croquete com gente que sai nas revistas


Fui parar ontem à tarde a uma singela cerimónia de apresentação de uma artista, e pude estar ali, a minha própria pessoa, em convivência com algumas das figuras que costumam sair nas revistas, a dizerem coisas para eu me entreter enquanto bebo o meu cafezinho e preciso de qualquer coisa para ler que me descanse o cérebro.

Enfim, agora não fiquem a pensar que era assim uma coisa com muita VIPalhada. O Castelo Branco não estava lá, a Lili Caneças também não, ou seja, era uma festa do croquete sem dúvida, mas não era uma festa do croquete a que se possa chamar de profissional. Cada macaco no seu galho, que o respeitinho é muito bonito. Quando eu digo VIP's, quero dizer que estavam para lá uns comediantes e uns apresentadores de televisão, uns radialistas muito intermitentes, umas actrizes de telenovela, enfim, malta que no ranking dos VIP's deve estar uns lugarezitos cá mais para baixo. Assim tipo, uns VIP's de baixa cotação, os melhorzinhos que se puderam arranjar para a ocasião, enfim...

Pois meus amigos, aprendi muitas coisas naquele tempo que lá passei. Altamente pedagógico. Fiquei a saber que tudo o que os tipos dizem enquanto estão a ser fotografados para as revistas é "ok, vamos lá então a rir com um ar muito natural, e fazer de conta que estamos práqui a conviver uns com os outros e a tagarelar, e que nem estamos a reparar que estamos a ser fotografados, eh eh eh". Ah! E tenho agora a prova provada que não vale a pena ler os textos das revistas. Só lá vão os fotógrafos tirar o boneco, o texto deve ser todo inventado com o cu bem assente à secretária. Jornalista, não vi nenhum. Só se estivesse camuflado de pessoa normal, tal como eu.

Mas vi outras coisas. Vi que famoso que é famoso, às vezes também fica sozinho. E também se encosta à parede com ar circunspecto a pensar "Bolas, ninguém fala comigo, ninguém me liga nenhuma... Ninguém me pergunta o que é que eu tenho! E agora?...".

Em festa de gente importante come-se de pé. A sopa vem em copos de whiskey. Não há guardanapos, porque o glamour é tanto que a malta come sem sujar as mãos. São pessoas muito talentosas que conseguem, em simultâneo, segurar o prato da comida, um copo de vinho ou outra bebida a gosto, o casaco, a mala (no caso das senhoras), e mesmo assim sorrir e ter conversas muito interessantes e divertidas. Já vos disse que esteve tudo de pé, horas a fio? E aquela gente sempre impecável, são mesmo admiráveis! Já eu, que sou uma reles criatura, a esta hora ainda me doem os pés e as costas... Por causa disto tudo é que o mundo do espectáculo não é para mim... Eu muitas horas em pé não maguento... E quando cheguei a casa tinha um buraco na meia, no dedo grande do pé, que me estava a deixar doida...

Mas não me interpretem mal. A artista é uma boa artista. E acima de tudo é uma pessoa cumadeveser. Com um modo de sorrir que não é artificial, não se põe com parvoíces, trata a malta toda da mesma forma, e por isso é que a gente depois gosta dela e coiso. Dela e dos outros VIP's que a rodeavam ontem, que pelos vistos grande parte deles também sofrem desta coisa esquisita que não é costume dar aos famosos. Essa coisa, de se acharem pessoas normais, de se apresentarem com uma humildade genuína (e não postiça), e não incharem perante o enorme talento, que por acaso efectivamente têm.

VIP's de segunda, portanto... Alguns deles até se dão ao trabalho de virem aqui a esta espelunca meter o nariz!! Corja!...

Vamos todos pensar nisto, sim?...

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Dezembro

Olhou o calendário e sorriu ao mês de Dezembro.

Com relativa surpresa, apercebeu-se que pela primeira vez, em muitos anos, a chegada deste mês não trazia consigo a sombra do que devia ser e não era.

Era simplesmente Dezembro, sem o peso de mais um ano caído em cima dos anteriores. Sem as lágrimas de ter pena de si mesma. Sem o virar da cara à alegria dos outros, visão insuportável perante o próprio vazio que se instalara dentro de si.

Lenta e dolorosa foi a jornada que providenciou o regresso à superfície, que até à infelicidade somos capazes de nos habituar e conformar. Enfim, emergiu. Inspirou. Inspirou-se.

Recebeu o mês de Dezembro com a leveza de quem não teme nem deve. Fortalecida pelas amizades sinceras. Aquecida pela troca dos afectos.

De bem com o mundo, reparou que têm estado uns dias de sol maravilhosos. Vem aí um ano novo. Finalmente. É Natal.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Últimos dias...

... de férias antes do final do ano.

Para descansar mais um bocadinho. Para as compras de Natal que ainda não estão resolvidas. Para dormir até tarde e limpar a casa cumadeveser.

Para ver se duma vez por todas acabo um texto que já ando a enrolar há tempo a mais, que eu sou a coisa mais preguiçosa para escrever que existe à face da terra (e enquanto escrevo isto sei que isto não vou ver, mas enfim...).

Isto daqui até ao final do ano é um pulo...

domingo, dezembro 04, 2005

O amor acontece

“O Amor Acontece” é um filme que já estava cá em casa há um tempo, à espera de ser visto. Foi hoje e serviu de bálsamo espiritual, num dia em que nem tudo foram rosas. Uma comédia romântica e bolo de chocolate foi a terapêutica certa que me deixou “sintonizada” para o bem, em vez do mal.

Constato que sempre existirá pobreza de espírito e mesquinhez por todo o lado. Coisas que são o que são, e valem o que valem. Encolho os ombros. Concentro-me no amor que acontece.

A quem cedeu o filme, a quem cozinhou o bolo, os meus agradecimentos. Não há acasos.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Um feriado é uma coisa maravilhosa

Fim de tarde. Chuva. Frio.
Sofá. Manta. Aquecedor.
Harry Potter.
Há dias em que o melhor que nos pode acontecer é usufruir de grandes prazeres proporcionados por coisas pequenas...

terça-feira, novembro 29, 2005

Dia do quê?!

Veio parar às minhas mãos certa publicação em forma de Agenda para 2006, onde consta tudo o que é Dia Mundial, Internacional, Europeu, ou simplesmente dia-de-qualquer-coisa. Não sei se sou eu que acordei hoje com uma certa vontade de embirrar, mas há pr’áqui coisas (e eu só seleccionei algumas, atenção!), que me parecem um bocado bizarras. Senão, vejamos:

Dia Mundial para a Protecção da Camada do Ozono – 16 de Setembro
Dia Mundial do Mar – 17 de Março
Dia Mundial da Terra – 22 de Abril
Dia Internacional do Sol – 03 de Maio
(É bonito. Há um dia para todos os elementos, ar, água, terra e fogo. Muito místico. Gosto.)

Dia Mundial da População – 16 de Julho
Dia Mundial do Habitat – 04 de Outubro
(Esperem. Expliquem-me lá isto como se eu fosse muito burra…)

Dia Mundial da Meteorologia – 23 de Março
Dia Mundial da Luta contra a Seca e o Despovoamento – 17 de Junho
(Ehr… É caso para dizer que se de um lado chove, do outro faz vento.)

Dia Mundial do Turismo – 27 de Setembro
Dia do Turista – 20 de Abril
(Então, mas, mas… Se já havia um dia do turismo, porque é que tem que haver um dia do turista? E quem é que faz turismo em Abril, pelamordedeus…)

Dia Nacional dos Avós – 26 de Julho
Dia Mundial do Idoso – 01 de Outubro
Dia Nacional da Terceira Idade – 26 de Outubro
(Isto agora já é um abuso. Então isto não se juntava tudo num dia só e ficavam despachados?...)

Dia Mundial dos Castelos – 09 de Outubro
Dia Mundial dos Centros Históricos – 28 de Março
Dia Nacional dos Moinhos – 07 de Abril
Dia Internacional dos Monumentos e dos Sítios – 19 de Abril
Dia do Relógio de Sol – 21 de Junho
(Esta malta dos museus deve ter a mania… E ainda falta o Dia Internacional dos Museus, que é a 18 de Maio. Xiça!!)

Dia Mundial dos Correios – 09 de Outubro
(Tá giro. E também devem estar para criar o dia mundial dos distribuidores de publicidade porta-a-porta não tarda mesmo nada.)

Dia Nacional da Desburocratização – 28 de Outubro
(AH! AH! AH!... Só mesmo em Portugal para se fazer um dia destes. É este e o dia nacional da fuga ao fisco!)

Dia da Qualidade de Vida – 14 de Novembro
(Eu até podia ter juntado este com o de cima, mas não vou por aí, não insistam…)

Dia Nacional da Cultura Científica – 24 de Novembro
(Tá bem. Mas é discriminatório. Então e as outras culturas, que não são científicas? Isto de certezinha que tem a ver com o choque tecnológico.)

Dia da Não Violência e da Paz nas Escolas – 30 de Janeiro
Dia Mundial das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão – 02 de Junho
Dia Internacional de Recordação da Escravatura e sua Abolição – 23 de Agosto
(Pronto, aqui as causas são umas boas causas, mas os termos em que estão ditas… Então só as crianças inocentes é que contam para aquele dia 02 de Junho? Então e a criança que perdeu a inocência? Já pode levar porrada à vontade? Muito estranho…)

Dia do Livro Português – 26 de Março
Dia do Autor Português – 22 de Maio
(Mania de se acharem mais que os outros, livra!...)

Dia Internacional da Luta contra a Droga – 02 de Abril
Dia Internacional Contra o Abuso do Uso da Droga e do Tráfico Ilícito – 26 de Junho
(Isto não é tudo o mesmo? Isto não é tudo o mesmo? Isto não é tud… Hã? Estou só a dizer a mesma cois... É para seguir em fr...? Ah, ok, prontos.)

Dia Mundial das Comunicações – 27 de Abril
Dia Internacional da Liberdade de Imprensa – 03 de Maio
Dia Mundial da Comunicação Social – 07 de Maio
(Estes jornalistas são uns exibicionistas!...)

Mas o que eu gostei mesmo, mesmo, que achei uma maravilha, uma verdadeira pérola foi esta coisa do arco da velha:

Dia Internacional dos Povos Autóctones – 09 de Agosto
(Auto quê?!! Mas será que não arranjavam uma maneira mais clara para dizer isto? Quem é que decide estas merdas?!... Oh, sinceramente…)

segunda-feira, novembro 28, 2005

Momento parvo do dia

Um pintelho num urinol não é coisa de estranhar.

Se fossem marcas de baton, aí sim, era caso para desconfiar.

Momento egoísta do dia

Fui a uma loja destas, e comprei-me o meu presente de Natal. Gastei um dinheirão. Não quero saber.

A mocinha da loja tratou-me super bem, à proporção do dinheirão que lá deixei. Deu-me um cabide. E uma capa impermeável para a roupa, porque está a chover, e o jeitão que aquilo me vai dar para arrumar coisas, depois.

Não interessa que eu ande desde o ano passado a ver se consigo ter dinheiro para isto. E que tenha que vigiar com muito cuidado as minhas despesas nos próximos tempos, e cortar-me a algumas coisas para compensar a despesa de hoje.

No fundo, no fundo, eu não passo de uma pelintra. Mas ao menos hoje, ao sair da loja de sacalhão na mão, sentia-me mesmo uma senhora!

sexta-feira, novembro 25, 2005

Os Homens do Leme

Fui a desejo, ao primeiro de todos. Um bom concerto, aliás, outra coisa não se esperava.

Enquanto lá estive, coisas muito diferentes me foram passando pela cabeça. As músicas iam-se sucedendo, e fosse da música, fosse dos cheiros esquisitos que de vez em quando se faziam sentir, dei comigo a reflectir uma vez mais no rumo que a minha vida tomou este ano, e que graças a circunstâncias muito pessoais, têm vindo afastar-me de uma fase árida, que já se arrastava há muito. Este rumo que hoje tomo vai fazendo de mim uma pessoa melhor.

Talvez por isso, mas também porque foi um momento muito bonito de ontem à noite, registam-se aqui estas sábias palavras.

"Sozinho na noite
Um barco ruma, para onde vai?
Uma luz no escuro
Brilha a direito, ofusca as demais

E mais que uma onda, mais que uma maré
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé
Mas vogando à vontade, rompendo a saudade
Vai quem já nada teme, vai o homem do leme

E uma vontade de rir
Nasce no fundo do ser
E uma vontade de ir
Correr o mundo e partir
A vida é sempre a perder

No fundo do mar
Jazem os outros, os que lá ficaram
Em dias cinzentos
Descanso eterno lá encontraram

E mais que uma onda, mais que uma maré
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé
Mas vogando à vontade, rompendo a saudade
Vai quem já nada teme, vai o homem do leme

E uma vontade de rir
Nasce no fundo do ser
E uma vontade de ir
Correr o mundo e partir
A vida é sempre a perder"

quinta-feira, novembro 24, 2005

Vieira do Mar

"No dia de Natal, muitos dos miúdos que, semanas antes, se encarrapitavam nos tais carrinhos de compras com ademanes autoritários, estão de olho fixo no ecrã da televisão, com as mãos agarradas a um comando, ocupados em passar para o nível treze do alheamento individual (que é o do estoumacagarpravocêstodos)."

É só um exemplo das coisas pertinentes e muito bem escritas, sempre, que podem ser encontradas aqui.

Pois...

Ando sem assunto

Preciso de um desbloqueador de conversa, é o que é...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Prestar provas

Ontem de manhã, enquanto assistia à realização de provas de conhecimento de um concurso para a entrada na Função Pública, pus-me a pensar que já lá vão alguns anos desde o tempo em que eu própria estive "daquele lado".

Tive muita sorte. Entrei para os quadros sem grande esforço, e até sem ter grande consciência da importância que isso poderia ter na minha vida. Tinha 20 anos, fiquei em 22.º lugar no concurso. Naquela altura as carências de pessoal eram muitas, e ninguém falava em cortar despesas.

As minhas dificuldades vieram depois, também não perderam pela demora, e foi a pulso que me afirmei profissionalmente. Tive que prestar mais provas, de conhecimento e das outras, provas de profissionalismo, provas de carácter, provas de nervos, muitas vezes. Nada de especial, no fundo fiz-me à vida. E mais uma vez tive sorte. Os obstáculos foram muitos mas também houve quem me ajudasse a ultrapassá-los. A gente precisa sempre de alguém que nos ajude.

Olhando para trás, parece que esse tempo em que estava na mesma posição daqueles concorrentes de ontem, está a 300 anos-luz de distância. Hoje em dia ocupo o meu lugar confortavelmente, e sei que podia apenas instalar-me e deixar o tempo passar, usufruir do que conquistei. Mas não dá.

Quem aos 20 anos me ensinou a trabalhar, sempre disse umas palavras sábias de "puta velha" (no bom sentido). Dizia ela, faças o que fizeres, não calces as pantufas, que é como quem diz, parar é morrer. Com apenas 13 anos de carreira, longe de mim a ideia de calçar as pantufas. Quero mais, posso mais, preciso de mais. E por causa disso, vejo-me novamente num qualquer ponto de partida, que felizmente não é já nenhum dos que já passei, mas outro.

Tenho tido sorte. Espero continuar a tê-la. E gente para me ajudar. Afinal não estou num plano assim tão diferente das pessoas que prestaram provas ontem, cá ando a fazer pela vida, que por enquanto ainda é cedo para calçar as pantufas.

PS: É muito triste, por outro lado, saber que daquele grupo de concorrentes só podemos escolher um. E saber que se viessem 2 ou 3 havia trabalho para todos. Fico a perguntar-me que mais-valias teríamos, em termos de serviço, que resultados poderíamos obter se escolhêssemos, não o melhor, mas os 3 melhores, para virem trabalhar connosco. Se pudesse ser assim em todo o lado. Será que os níveis de desenvolvimento que obtínhamos não compensariam o acréscimo da despesa pública?...

terça-feira, novembro 15, 2005

Ai, estes canais generalistas...

Na semana passada estreou "O Sexo e a Cidade" na SIC, um conjunto de episódios novos, que ainda nunca passaram na televisão cá em Portugal, e aos quais apenas se tinha acesso largando balúrdios de dinheiro na fnac, a comprar os dvd's. Estreou às 00h20.

Hoje, dois novos episódios, lá pela 01h05 da manhã. Primeiro, programas realmente interessantes, os "Malucos", a novela "América" versão de metro, que hoje casa não-sei-quem, e depois ainda mais outra da Lua não sei quê.

Eu estava desejosa de ver aqueles episódios, mas não dá, claro. Se já na semana passada não me aguentei para ver aquilo, quanto mais hoje...

Ó senhores da SIC! A malta trabalha, sabiam?! A gente levanta-se cedo!! Se não fosse pedir muito, lá de vez em quando, gostava de ver um programita do meu agrado a horas decentes! Será que é um grande incómodo pensar um bocadinho noutro target para além da carneirada??!!

Palhaços, pá...

sábado, novembro 12, 2005

As Intermitências da Morte

É um livro que confirma o que já se vem verificando nos livros anteriores de José Saramago. Do meu modestou ponto de vista, a última obra de génio do mestre, até esta data, foi O Ensaio Sobre a Cegueira.

Este livro é muitíssimo interessante. Acho inquestionável que por trás do autor que criou a obra, está um homem que, pelos anos de vida que já conta, pelo seu modo de ser pragmático e descrente noutra vida que não seja esta em que vivemos, certamente vai pensando cada vez mais na inevitável morte que o espera. É curioso que tenha acabado com ela no final do livro, redimindo-a, se assim se pode dizer, e fazendo com que mais ninguém morra. Se calhar encerra-se aí o seu desejo mais profundo, que é o de todos nós, o de que os dias vão passando, um atrás dos outros, e a morte nunca nos bata à porta, porque por mais que aceitemos as evidências da física, da biologia, da experiência empírica, olhamos para dentro e sempre pensamos que não, que a morte não é para nós. Esmagados pela lógica, muitas vezes substituímos essa negação da mortalidade com um simples "ainda é cedo". Acho que é nessa fase que se encontra o nosso Saramago, que faz 83 anos no dia 16 deste mês.

Mas por outro lado, As Intermitências da Morte é novamente uma decepção. Ficam tantas pontas soltas pelo caminho, tantas ideias que podiam ser melhor exploradas e que são abandonadas à sua sorte, tantas questões relevantes apresentadas de forma inconsistente, a precisarem de serem esmiuçadas, esgravatadas até ao seu âmago, doa a quem doer. Foi a isso que ele me habituou nos seus livros, e foi com esses livros que eu deixei de ser o que era, para passar a ser outra coisa diferente. Este livro, tal como os anteriores, deixam-me na mesma, e tenho pena.

Não sei porque é. Se calhar, é apenas o facto de nenhum génio da literatura conseguir produzir sempre obras de génio. Sendo génios da literatura, não deixam de ser também simples homens e mulheres, com tudo o que isso tem de bom e de mau. Será velhice? Será falta de paciência, falta de vontade, falta de tempo, será o quê? Se calhar nem interessa saber. O património cultural que este homem concedeu ao nosso País e ao Mundo é já por demais digno dos nossos agradecimentos. Se já não cria mais obras de génio paciência, a isso não está obrigado.

Muitos não concordarão com o que aqui deixo escrito. Muitos detestam o José Saramago e não compreendem sequer como alguém pode gostar de ler aqueles livros mal escritos, sem pontuação, intragáveis na forma e no conteúdo, quanto mais considerá-lo um génio da literatura! Para essas pessoas, o meu respeito. Há muitos escritores de excelência que eu não consigo ler.
Quanto ao Saramago, que já não é hoje o Saramago do Ensaio sobre a Cegueira, que não era o Saramago do Evangelho Segundo Jesus Cristo, que por sua vez não tem nada a ver com o Saramago do Memorial do convento, que estava já a anos-luz do Saramago do Levantado do Chão, sempre que tenha alguma coisa para dar a ler eu cá estarei, mesmo que os livros que agora me chegam às mãos já pouco tenham a ver com a Blimunda em que os seus outros livros me tornaram.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Pilha de limão??

Pronto. Gente com necessidades algo caricatas começa a vir cá parar.

Teoria da relatividade

"Bom dia, doutora", disseram-me respeitosamente no corredor, enquanto eu me dirigia apressada para a casa-de-banho, a fim de satisfazer a necessidade fisiológica número dois.

quarta-feira, novembro 09, 2005

O Natal é quando as lojas quiserem

"Ando desesperadamente à procura de uma árvore de Natal toda branca e não encontro em lado nenhum!!"

Isto disse uma senhora, à porta da loja dos trezentos*. Desesperada? Por uma árvore de Natal branca? Mas hoje são 09 de Novembro ou 09 de Dezembro? Faltam quase dois meses para o Natal e a senhora anda desesperada? E não encontra? Claro que não encontra, se esperar mais um bocadinho que as coisas cheguem às lojas talvez encontre... Não?... E quando estiver a uma semana do Natal? O mais certo é andar a tomar calmantes para os nervos, se agora já anda desesperada...

Quando se chega a esta altura fica tudo um bocado parvinho com o Natal, não fica? Se calhar é por causa disso que eu, prái há uns três anos, já nem me dou ao trabalho de fazer árvore de Natal. É muito stress, muita pressão, e eu sou muito fraquinha para estas coisas...

* Já não são trezentos, mas toda a gente ainda as chama assim. É uma loja-maravilha com coisas porreiras, algumas baratas, outras nem tanto, que nos fazem falta para a casa mas que noutras lojas custam umas barbaridades de dinheiro e a gente quer coisas giras mas não somos ricas e aquelas ficam bem à mesma e às vezes até fazem o mesmo efeito, e que também tem coisas boas para oferecer às pessoas que merecem prenda mas que não justifica estar a gastar assim tanto dinheiro com elas, porque são muitas e depois não há orçamento que aguente, que nem é por não gostarmos delas, falo das pessoas, não das coisas, e que também tem coisas boas para comprar, porque são mesmo muito baratinhas, que é para quando a gente nos apetece simplesmente comprar, não importa o quê, podemos levar dali qualquer coisita que nem sequer gastamos muito e ficamos contentes e animadas para o resto do dia, enfim, toda a gente compreende, acho, que tipo de loja é que é. Pelo menos as mulheres devem ter percebido...

terça-feira, novembro 08, 2005

Olhóóó brooooche fresquiiiiinhoooo!!!!

A recém-chegada chefe gosta muito de broches. Não há casaquinho que não traga um, ao tom do tecido, em forma de rosa ou de outras flores menores, de libelinha ou outros insectos, com brilhantes de várias cores, com pendentes, uns pequeninos, outros mais avantajados, sem broche é que não pode ser, é como um jardim sem flores.

Há uma chefe maior que aquela, que também não dispensa o seu brochezito, porém mais discreta na escolha das formas, dos materiais e das cores, naquele caso o broche apenas retoca o figurino mas não vale por si mesmo, o peito que o carrega é que faz daquele um broche digno de tanto respeitinho.

E é assim que nascem as modas, meus amigos. Desde há uns dias para cá que é ver as sub-chefes e as chefes menores, as aspirantes a chefes, as secretárias das chefes, todas com o seu belo broche orgulhosamente exibido! E nas reuniões onde todas se juntam? Aí é que é mesmo lindo de se ver, tanto broche junto, florinhas, libelinhas, lacinhos, corderosinhas, amarelinhos, azulinhos…

Há uma desgraçada que olha em volta, e no meio de tanto broche reunido, vê-se a si mesma completamente nua, sem um único broche a que possa chamar seu. Está bem lixada. Aqui na brocholândia não tem qualquer futuro…

... Quanto a mim, até sou capaz de me safar no meio disto tudo. Há já muito tempo que sou adepta do broche. Mas não sei, é um broche mais artesanal, sem lantejoulas, tosco e sem brilho. Alguns nem têm forma definida. Não, tou lixada também. Não sou digna de andar a par com os broches que por aí andam...

domingo, novembro 06, 2005

Um padre improvável (II)

E de moldes que lá fui eu, ouvir o Padre Mário falar dos livros dele. Com os livros por ponto de partida, foi um bom exercício de abertura das consciências. Muita blasfémia. Aquele homem blasfema que se farta.

Diz que o pecado original é uma coisa parva que nunca existiu realmente, e que como o pecado original é uma aldrabice, Jesus Cristo também não veio ao mundo para redimir ninguém. Diz que a Igreja tal como está organizada, não tem nada a ver com o que Jesus ensinava. Falou dos padres que recomendam em média umas dez almas por missa, se fizermos as contas a 15 € por alma, fica o padre com o dia ganho, quanto às almas, que ganharão elas com isso. Falou do sistema de recolha de dinheiro que existe em Fátima, que suga as moedinhas, uma maravilha da técnica para bem da caridade, que separa imediatamente o dinheiro graúdo do miúdo, o coloca em sacos, ao fim do dia está tudo prontinho a depositar.

Achei muita piada, que a dada altura falou de como Jesus gostava de estar à mesa, sendo este o lugar que considerava mais privilegiado para a troca de ideias. Um pouco mais tarde na conversa falou dos seus tempos de seminarista, e de como na hora da refeição era imposto o silêncio, quebrado apenas pela leitura em alta voz de um qualquer texto bendito. Diz que esta Igreja já não presta, e que a única coisa que resta fazer é acabar com ela.

Falou muito de liberdade. Daquela que só é possível quando lemos, ouvimos, conversamos, e depois pensamos pela nossa própria cabeça, que esta última parte é que é muito difícil e pouca gente está para aí virada. Uma liberdade que olha para o sistema e denuncia o que está mal. Mesmo que incomode. Mesmo pagando por isso, que o sistema não gosta de quem o põe em causa. Nunca gostou, aliás. No fundo foi por isso que Jesus foi crucificado, por causa de incomodar o sistema.

O Padre Mário nunca foi excomungado, mas segundo a própria opinião, nunca o foi para que não recaiam ainda mais atenções sobre si. Em contrapartida, o Anuário da Igreja, onde constam os nomes de todos os padres de todas as dioceses do País, não o inclui a ele. Não tem Paróquia nem consta na lista, faz de conta que não existe. Pela calada, sem dar nas vistas que a inquisição já lá vai, o coice está dado. Diz que não se rala com isso. Fora da Igreja faz melhor o que considera ser a sua missão.

Fala de um Jesus Cristo que é desconhecido de muita gente, e desgraçadamente, é desconhecido de muitos católicos. Fala de se ter a fé de Jesus, ao invés de se ter fé em Jesus.

Comprei para mim O Outro Evangelho Segundo Jesus Cristo. Trata-se de uma “tradução actualizada e anotada” do Evangelho de Jesus segundo São Marcos, um dos quatro Evangelhos Canónicos, presumivelmente o mais antigo de todos, escrito apenas 12 a 14 anos depois da morte de Jesus. Palavras do autor, “Jesus, o de Nazaré, não tem praticamente nada a ver com Jesus, o do Império Romano de Constantino, nem com Jesus, o da Cristandade Ocidental que se lhe seguiu, nem com Jesus, o da Cúria Romana dos nossos dias, nem com Jesus, o das seitas pseudocristãs milagreiras (…)”. Fui-lhe pedir para me assinar o livro e eis o que escreveu: “E agora que vamos fazer com este Jesus? Vamos ser como ele?”.

Para já, vou continuando a ler coisas sobre ele, coisa que de facto venho fazendo há anos, pese embora sem qualquer tipo de fervor religioso. Digamos que é um interesse muito grande, que no entanto não é justo classificar de apenas académico. Se calhar, é um fascínio pelo mistério, a sensação de que há mais na história de Jesus para conhecer e compreender.

O Padre Mário diz coisas com muito sentido. Vale a pena conhecer o que ele tem a dizer, acho eu. Pareceu-me um gaijo cumadeveser.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Um padre improvável (I)

Amanhã conto passar algum tempo a ouvir este senhor a falar.

Vou comprar mais uns livros para a pilha, é o que é. Este Padre é autor de livros com nomes tão sugestivos quanto "Fátima Nunca Mais", "Fátimamente", "E Deus disse: do que eu gosto é de política, não de religião", "O Outro Evangelho sobre Jesus Cristo", e o meu título preferido, "E se com o Papa enterrarmos também esta Igreja Católica Romana?".

Ainda não o conheço, mas já gosto dele.

Nota que não tem nada a ver (ou então tem): Já comecei a ler "As Intermitências da Morte". Logo no primeiro capítulo diz-se uma coisa gira. "Sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há Igreja." E o meu comentário é: ora aí está.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Está tudo bem

Eu é que ando cheia de trabalho e sem tempo, nem sequer para coçar os tomates, de moldes que é uma sorte não os ter, senão era outra coisa que ficava por fazer.

Até já.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Máscaras

Todos nós as usamos. São assim uma espécie de lente de aumentar, servem para evidenciar alguma coisa que se queira mostrar bem, de tal forma que até pareça maior do que aquilo que é. É muito útil, porque ao mesmo tempo que exaltamos o que queremos mostrar, também nos protegemos, e até escondemos aquilo que temos de menos bom.

Há pessoas que andam sempre mascaradas. Pelo sim pelo não. E assim exibem orgulhosamente a máscara que as torna pessoas de grande virtude, a máscara que evidencia a sua grande inteligência, a máscara que faz delas uma grande simpatia, a máscara que dá provas da sua grande competência, a máscara que as dota de uma grande sensibilidade e de um amor ao próximo – e a Deus – muito, mas mesmo muito grande.

Às vezes caem as máscaras. Quando isso acontece é uma tristeza, porque quase sempre, caídas elas, vamos a ver quem está por trás e a única coisa que encontramos é…

… uma pessoa pequena.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Mudar

É sempre bom, nem que seja para pior. Acredito nisto, sinceramente.

Mas só por hoje, estou com dores de cabeça.

Greve de juizes

Confesso que não tenho uma opinião inteiramente formada. Que eles têm uma vida muito melhor que a minha, e que a ideia de juízes a fazerem greve me parece tão inusitada quanto as maçãs a caírem para cima, lá isso é verdade.

Por outro lado, os meus princípios de esquerda têm como lei fundamental que todos têm direito à greve, e quando se fala em abdicar disto, seja para que classe for, começo logo a torcer o nariz.

Mas tudo isto é teoria. Quem pelos vistos anda dentro do convento tem outras histórias para contar. Continuo com dúvidas, mas fiquei a pensar nisto.

terça-feira, outubro 25, 2005

Ressaca

Reconfortou-me hoje de manhã ler isto. Na minha modesta opinião, este rapaz é um grande talento, muito para além da história do homem do bolo, e que com tão tenra idade tem sabido muito bem evitar os deslumbramentos, deixar de lado o caminho mais fácil e construir uma carreira cumadeveser.

Há uns anos atrás, também eu pude experimentar a vertigem que provoca o medo antes do espectáculo. E depois, a sensação de se estar vivo que o palco nos provoca. Veste-se um personagem que nada tem a ver connosco. Não somos nós. Mas é o nosso modo de ser mais íntimo que está ali escancarado, para os outros verem, para nós próprios descobrirmos. É isto que faz a ressaca. Acho eu.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Como se isto interessasse a alguém...

... Passei a colocar aqui ao lado a indicação dos canhenhos que for lendo.

Obrigada à amiga xana por ter permitido o copy/paste, sem o qual esta fabulosa inovação bloggística não teria sido possível.

domingo, outubro 23, 2005

A casa é bizarra como eu

Primeiro foi a prateleira da estante. Tombou de um dos lados, quase sem barulho nenhum, fez assim um "ploft", como quem diz, "ai credo, que já me custa tanto a aguentar este peso em cima". Tombou mas segurou estoicamente os livros em cima, o que foi positivo.

Ao fim de dois dias tombou outra. Grande espalhafato, livros pelo meio do chão, mas eu já tinha comprado coisas para substituir as outras coisas que se tinham partido e que servem para segurar as prateleiras nas estantes. Endireitei as prateleiras, pus os livros em cima outra vez.

Depois foram os estores da marquise. Cordão que serve para abrir e fechar, partido. Ou seja, ainda tenho que mudar esta porra toda antes de vender a casa.

Há bocado, e isto é que é muito estranho, dei com a mesma primeira prateleira outra vez tombada exactamente da mesma forma, com a coisa nova que eu lhe tinha posto, também ela partida. O interruptor da cozinha ameaça avariar-se a qualquer momento.

Não há dúvidas. A minha vontade de mudar de casa está a começar a transferir-se para os materiais que me rodeiam. A casa já sabe que eu desisti dela. Quer-me cá parecer que agora é ela que está a desistir de mim...

Agora já só rezo para que não se estrague nada de realmente sério e dispendioso de consertar, tipo, a canalização, ou a máquina de lavar...

sábado, outubro 22, 2005

Será bom sinal?...

Desde há uns meses para cá, têm sido vários os mediadores imobiliários que me entram pela casa adentro.

Hoje entrou cá um que foi direito à estante repleta com a obra (quase) completa do Saramago e confessou-se também ele um admirador do nosso Nobel. Apontou os livros de que gosta mais, e confessou aqueles que não consegue ler nem entender. Ficámos ali um bocado, a falar dos livros.

Não sei se tem jeito ou não para vender casas, mas os gostos litérários do senhor já me deixaram com uma certa sensação de bom augúrio...

sexta-feira, outubro 21, 2005

Todos os homens são maricas quando estão com gripe

É mais uma letra daquele álbum do Vitorino, com letras de António Lobo Antunes.

Inspirada pelas notícias da gripe das aves e por alguns casos da vida comum, aqui fica mais esta pérola:

"Pachos na testa
Terço na mão
Uma botija
Chá de limão
Zaragotoas
Vinho com mel
3 aspirinas
Creme na pele

Dói-me a garganta
Chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
Mede-me a febre
Olha-me a goela
Cala os miúdos
Fecha a janela

Não quero canja
Nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes
Não vales nada
Se tu sonhasses
Como me sinto
Já vejo a morte
Nunca te minto

Já vejo o inferno
Chamas diabos
Anjos estranhos
Cornos e rabos
Vejo os demónios
Nas suas danças
Tigres sem litras
Bodes de tranças

Choros de coruja
Risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
Que foi aquilo
Não é chuva
No meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes
Fica comigo

Não é o vento
A cirandar
Nem são as vozes
Que vêm do mar
Não é o pingo
De uma torneira
Põe-me a santinha
À cabeceira

Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus
No cobertor
Chama o doutor
Passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes
Nem dás por nada

Faz-me tisanas
E pão de ló
Não te levantes
Que fico só
Aqui sozinho
A apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer"

quarta-feira, outubro 19, 2005

Beijos e orgasmos

Edvard Munch, nascido na Noruega em Dezembro de 1863. Gustav Klimt, nascido na Áustria em Julho de 1862. São os respectivos autores das obras que aparecem abaixo, sob o mesmo nome:

The Kiss, 1897 The Kiss, 1907-1908

É curioso, não é? Mas não é o único exemplo, que me leva a concluir que Klimt se inspirava bastante no Expressionismo de Munch:

Madonna, 1894-5 Danae, 1907-8

Segundo as descrições, ambos os artistas encontraram estas diferentes formas para expressar o orgasmo feminino.

Muito bom. Refiro-me ao trabalho de Munch e de Klimt, não ao orgasmo feminino, hein?... Para constatar o óbvio não é preciso vir para aqui postar...

quinta-feira, outubro 13, 2005

Livrai-nos do mal

A cidade onde sempre vivi tem 30.000 habitantes*. Ora, num sítio onde vive tanta gente a coisa mais natural deste mundo é que, com regularidade, morra mais do que uma pessoa no mesmo dia, e portanto, dois ou mais núcleos familiares se juntem na casa mortuária numa mesma noite, para passar aquelas horas que são muito dolorosas e que ninguém deseja, mas que todos nós já tivemos que enfrentar, seja por conta da morte de um parente próximo, ou simplesmente para mostrar solidariedade junto dos nossos amigos.

Ora, aqui nesta cidade a casa mortuária há anos que não corresponde às necessidades. Um espaço exíguo, a cair de velho, de difícil acesso, que não oferece as mínimas condições, nem sequer de dignidade para com o morto, quanto mais para com os vivos, que naquela hora já têm bem a sua conta.

Recentemente, foi inaugurada nesta mesma cidade uma mega igreja que do meu ponto de vista é a coisa mais inútil que pode haver. Um elefante branco que é o catolicismo no exercício pleno da sua megalomania, instalado num terreno enorme que estava mesmo bem situado para a construção de um centro cultural, por exemplo, coisa que esta cidade também não tem, e que nos fazia muito mais falta.

Adiante. Inútil para mim, a não ser justamente no que respeita à casa mortuária, que pelos vistos existe nesta nova igreja, finalmente com o número de salas e espaços adequados à dimensão da cidade onde está instalada.

Tudo muito bonito, não fosse a dita igreja estar mesmo ao lado de uma escola do primeiro ciclo. Então não é que os pais desta escola desde o início se insurgiram contra a presença da casa mortuária ao lado da escola, e não querem que os filhos estejam “paredes meias” com o ir e vir de carros funerários, pessoas a chorar e vestidas de negro, enfim, receiam que as crianças fiquem traumatizadas!...

A casa mortuária está fechada por conta deste grupo de pessoas, e a cidade continua a recorrer ao tal espaço que há mais de 10 anos não tem condições para servir a população.

Eu peço imensa desculpa. Não sou mãe e já sei que quem tem filhos sente as coisas doutra maneira e tal, e que se eu tivesse um filho também não gostava e coiso. Mas digam-me lá uma coisa: a morte não faz parte da vida? Traumatizados porquê? Então não compete aos pais, educadores e professores, explicar aos meninos o que é a morte e que o que é que ela implica? Não se querem dar a esse trabalho? Quer-me cá parecer que estes miúdos até podiam ter ali alguma vantagem em relação a outros, que com o poder de encaixe que eles têm rapidamente compreenderiam o que se estava ali a passar, e seguiam em frente. Estarei enganada?...

Mas que raio de maneira de educar é esta que parte do princípio que as crianças têm que crescer cristalizadas numa bolha cor-de-rosa com cheiro a morango, onde tudo são sorrisos, facilidades, roupinhas Bennetton e chocolates Kinder? A vida não é assim. A vida cheira mal, é perigosa, está cheia de gente má, traz consigo muitos problemas e desgostos, e por causa disso, muitas vezes a vida faz-nos chorar e sentirmo-nos infelizes. E todos os dias há gente que morre. Se as crianças não são preparadas para isto tudo, em que espécie de pessoas é que se irão tornar?

Já para não falar que estão 30.000 habitantes a serem prejudicados por conta do egoísmo dos pais de 300 alunos.

Não se fique com a ideia que, para mim, os miúdos serem criados ao pontapé é que é bom. Não é nada disso. É claro para mim que a protecção está na essência de se criar um filho. Mas parece-me que hoje em dia, em resultado de (felizmente) muitas famílias poderem dispor de melhores condições de vida, há a tentação de super-hiper-proteger, dar tudo já que se pode dar tudo, e como sempre acontece, o excesso nunca é benéfico.

Resta saber se muitas vezes a hiper-protecção não serve também para descarregar as consciências, uma qualquer forma de compensação sobre outras coisas que não se dão, seja porque não se tem para dar, seja porque não há tempo para dar. Os tais afectos, a tal educação, a tal formação… Mas isto dava pano para muito mais e eu hoje até já me alonguei...

Eu estou mesmo só revoltada porque a casa mortuária devia funcionar, raios!!

* Nota da energúmena que escreve estas balelas: a minha triste cabeça loira não escorreu o suficiente para reparar que 123.000 habitantes era capaz de ser um grandessíssimo exagero, justificado apenas pelo facto de eu estar a olhar para o número de habitantes do Concelho, e não da freguesia em questão. De moldes que o número correcto é aquele que agora está ali em cima, com as minhas sinceras desculpas à meia-dúzia de pessoas estranhas que se dá ao trabalho de vir aqui ler estas coisas.

terça-feira, outubro 11, 2005

Uma desgraça nunca vem só

Se houvesse justiça no mundo, uma mulher constipada jamais estaria, ao mesmo tempo, menstruada!

... Mas este mundo não é justo.

sexta-feira, outubro 07, 2005

BEMVINDO SR. PRESIDENTE

"Soubera eu que o senhor vinha
e com certeza não me tinha
apanhado na cozinha

ovos mexidos com salsichas
batata frita de pacote
e o que sobrou de um happy-meal
três embalagens de ketchup

Soubera eu que no rastreio
eu tinha sido o escolhido
um caso típico do meio

teria pedido ao serviço
que à parte de me ter dispensado
que atribuísse qualquer verba
p`ra eu tratar do convidado

Não é casa que se mostre
não é casa que se mostre
a um visitante tão ilustre

Mas
Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente
Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?
Ah! Assessores…

Soubera eu do seu programa
e teria pelo menos
recolhido o sofá-cama

foi lá que ressonei pesado
sonhei vinganças de ex-marido
e nem senti que a mãe e o puto
p`la manhã tinham fugido

mas isso agora não interessa
mas isso agora não interessa
fotos, poses, peça, peça

Mas
Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente

Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?

Ah! Assessores…

Soubera eu desta visita
e não me tinha agora aqui
a queixar-me da desdita
do futuro um parasita
eu que quis vida bonita

a sua agenda é apertada
e a sua vida correria
posso já ficar sózinho
ou quer ainda que sorria?

o certo é que o senhor merece
o certo é que o senhor merece
esquecer o que me acontece

Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente
Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?
Ah! Assessores…
"

Sérgio Godinho, in "Lupa", 2000
Vamos lá então votar...

quinta-feira, outubro 06, 2005

- Dói-me tudo!...

... E tenho isto tudo apanhado. Ai, ai, ai, estou a sofrer tanto, eu nem devia estar aqui!...

- Realmente, o senhor está com um ar muito doente. Devia estar era em casa, metido na cama... Não é melhor sentar-se?...

- Não, não, menina, que eu só consigo estar de pé, nem sentado me aguento, veja bem a minha desgraça! Estou de baixa, não consigo trabalhar... Até a respirar me dói, estou todo esfolado... (tosse, tosse, mostra as feridas), AI!, AI!, ai, ai, ai...

- Então, mas, mas... O que é se passa consigo? Caiu dumas escadas abaixo,teve um acidente em serviço, está tuberculoso, tem um cancro em fase terminal, é o quê?...

- Nada disso. Estive nas esperas de toiros e fui colhido. Ai, ai, ai, coitado de mim, que podia ter morrido, sou um desgraçado, ai que dores, ai, ai...

terça-feira, outubro 04, 2005

Ganhei!

Nadei 1.024 metros em 50 minutos. Andava há que tempos a projectar ultrapassar a barreira psicológica do quilómetro mas não havia meio, e ficava-me sempre pelos 960. Foi hoje. Sou a maior.

É o quê?... Levar quase uma hora para nadar 1.000 metros não é nada?... Acham fraquinho?...

Tenham juízo. Isto é um feito histórico, que a única competição legítima é connosco próprios!!!

segunda-feira, outubro 03, 2005

É com cada chouriço!!


Esta, e outras preciosidades, podem ser encontradas aqui. Uma pequena amostra (havia tantos outros para acrescentar) das maravilhas que se têm feito nesta campanha eleitoral.

Se isto é assim na campanha, o que nos reservará o dia 09? Eu, enquanto cidadoa, estou cheia de expectativa...

sexta-feira, setembro 30, 2005

Isto sim, é um homem!

Nada como uma boa barracada para a gente se rir.

Mas tenho que deixar aqui assinalada uma coisa: é que a minha irmã tinha uma ideia genial para este programa.

Na opinião dela, "o vencedor deveria ser aquele a quem aparecesse primeiro a menstruação".

E eu, tudo bem.

A vida é bela



No outro dia regressei a casa de autocarro com a minha sobrinha, de 16 anos, e uma amiga dela. Voltavam da escola, encontrámo-nos por acaso. Vinham às gargalhadas por causa de uma coisa qualquer. Porque o não sei quem veio-me falar, e riam-se, porque a professora de coiso e tal é uma ganda maluca, sabes que ela hoje, e riam-se, porque não sei como estou a perceber aquela matéria, e eu não estou a perceber nada, e riam-se.

Amanhã faço anos, vamos jantar, é de noite, tens que vir, para a semana há a Feira, temos que ir, não sei porquê os meus colegas só falam em sexo, as conversas todas, todas, dão sempre em sexo. E riam-se.

Elas e os outros todos, era ensurdecedor o chinfrim naquele autocarro. Ficam vermelhas, falam aos atropelos, riem até lhes faltar o ar. Andam ébrias com tanto deslumbramento pela vida. Estão imparáveis. São tão lindas!...

quinta-feira, setembro 29, 2005

Já tenho o dia estragado

Não é possível. Eu não percebo nada de carros. Mas um carro que muda o óleo em Fevereiro (o que já fora estranho, que a mudança anterior tinha sido em Junho do ano anterior), chega ao dia de hoje em acusa falta de óleo outra vez?... Sete meses?...

Isto não é normal... Não é não... Tou lixada...

Quando, mas quando é que eu comprarei um carro que não me dê chatices?... Mais valia ter comprado outro Renault Clio, chatices por chatices tinha empatado menos dinheiro. Merda!...

(crise existencial)

quarta-feira, setembro 28, 2005

Era o vinho que eu mais adorava

Reguengo de Melgaço 2004, Vinho Verde Alvarinho

Quinta do Crasto 2001 Douro Reserva

Quinta do Ventozelo 2000 Douro

Taylor Fladgate 2000 Porto Quinta de Vargellas Vinha Velha

Por acaso, nunca provei nenhum... Mas gostava. Faço ideia os preços! Em qualquer dos casos, parabéns aos premiados!

segunda-feira, setembro 26, 2005

Tá mal!!...

Leva-me contigo, sem ti não sou ninguém...

Quer-se dizer. Os meus colegas da Informática são uns chatos. Receio que tenha de falar com eles muito a sério sobre os seus critérios para bloquear o acesso a uns sites e a outros não.

Ora, se do computador do meu serviço eu consigo entrar aqui (sempre às horas de almoço, claro!), que raio de puritanismo cretino é que bloqueia o acesso a este aqui, que ainda por cima a ligação a carvão que tenho em casa não me deixa abrir...

Das duas uma: ou os colegas da informática não gostam de cuecas e soutiens, ou então não estão atentos a algumas marcas de roupa feminina de grande qualidade. Tá mal, pois claro que tá mal...

PS: Este post era para ter uma linda foto de um casaco bem giro. Só que hoje o blogger recusa-se a colaborar. Também deve estar armado em puritano...

PS2: Como sou uma gaja muita teimosa, lá consegui mostrar o lindo casaco, que por sinal custa 250,00 €, cinquenta contos, portantos.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Não, eu não tenho nada a dizer sobre o caso Fátima Felgueiras

... porque nem para dar a minha opinião me apetece pensar que isto está a acontecer.

Para me esquecer disto, vou trauteando a linda canção do Pedro Abrunhosa:

"E eu estou aqui,
Eu estou aqui,
Eu estou aqui,
Eu estou aqui

E eu estou aqui
Eu estou aqui..."

Acho que agora era a altura dos restantes Portugueses estarem noutro lado qualquer... Tipo, no Brasil, bute todos para lá! Também temos direito, não?...

Ai! Bolas, que afinal sempre disse qualquer coisa! Raios!...

quarta-feira, setembro 21, 2005

Ah! Fazer exercício era tão positivo!...

Se, de todas as vezes que levo o saco da natação a passear de carro, conseguisse depois chegar à piscina ao fim do dia, quem sabe, talvez estivesse já livre destes quatro quilos a mais, tanto que eu gostava de um dia os ver partir...

(suspiro de frustração)

terça-feira, setembro 20, 2005

Demasiadas coisas nas mãos

Casaco. Pasta A4 com documentos. Porta-moedas. Garrafa de água. Telemóvel. Bilhete do comboio. Bilhete do comboio?... Onde é que está o bilhete do comboio?!...

Só mesmo eu para entrar no comboio em Entrecampos, descobrir no Areeiro que estou a viajar sem bilhete, andar a fugir ao pica para ver se ao menos consigo chegar ao Oriente, sair, comprar outro bilhete, e esperar meia-hora pelo próximo comboio!

Eu palavra de honra, às vezes não tenho pachorra para me aturar!...

sábado, setembro 17, 2005

Bolero do coronel sensível que fez amor em monsanto

Ouvi dizer há dias atrás que uma banda recém-criada (nem sei quem são) fez uma versão deste tema do Vitorino. Já conheço a canção aos anos, mas por acaso não sabia que a letra era do António Lobo Antunes.

Aqui fica ela, que quem não conhece isto não merece o ar que respira:

"Bolero Do Coronel Sensível Que Fez Amor Em Monsanto

Eu que me comovo
por tudo e por nada
deixei-te parada
na berma da estrada
usei o teu corpo
paguei o teu preço
esqueci o teu nome
limpei-me com o lenço

olhei-te a cintura
de pé no alcatrão
levantei-te as saias
deitei-te no banco
num bosque de faias
de mala na mão
nem sequer falaste
nem sequer beijaste
nem sequer gemeste
quinhentos escudos
foi o que disseste
tinhas quinze anos
dezasseis, dezassete
cheiravas a mato
à sopa dos pobres
a infância sem quarto
a suor a chiclete
saíste do carro
alisando a blusa
espiei da janela
rosto de aguarela
coxa em semifusa
soltei o travão

voltei para casa
de chaves na mão
sobrancelha em asa
disse: fiz serão
ao filho e à mulher
repeti a fruta
acabei a ceia
larguei o talher

estendi-me na cama
de ouvido à escuta
e perna cruzada
que de olhos em chama
só tinha na ideia
teu corpo parado
na berma da estrada
eu que me comovo
por tudo e por nada."


Da nova versão desta tal banda não sei nada. Mas isto cantado pelo Vitorino é do caraças. Se puderem vão ouvir. Está editado num álbum chamado "As Mais Bonitas".

sexta-feira, setembro 16, 2005

É impossível...

... trabalhar hoje. Vou só ficar aqui sentadinha, à espera para atender o próximo telefone.

Ops!, lá está! Aqui vou eu...

PS: O que é giro é que 90% dos telefonemas são a perguntar por coisas que só não estão feitas porque está tudo ocupado a... atender telefones!

quarta-feira, setembro 14, 2005

Emancipação

Quando casou ia virgem.

Hoje em dia mantém apenas uma união sem factos, e um dia-a-dia feito a pensar nos outros. Vive num lugar que entende a infelicidade e a abnegação como coisa natural e própria da condição feminina. Aos olhos dos que a rodeiam tem um bom marido. Tem trabalhado toda a vida pela família e vem sempre dormir a casa.

Não interessa que regresse sempre bêbado. Não interessa que não a acompanhe em nada. Que a envergonhe. Não interessa.

E a bem da verdade, também já nada disso lhe interessa, essa ferida há muito tempo que secou. Muito gostava ela de o ver pelas costas. Mas ele ali está, estendido no sofá da sala da casa que o pai e a mãe lhe deram. Na casa que é dela, mas que ele não deixa, se calhar porque não tem para onde ir.

As filhas estão criadas, bem casadas, deseja-lhes melhor sorte que a sua. Em momentos de desespero chegou a dizer que, no dia em que visse as duas fora de casa, sairia ela de seguida. Mas a casa é dela. A mãe ainda lá mora. E ela ainda não teve coragem de bater com a porta.

Está apaixonada. Um amor duplamente pecaminoso, que os compadres são o mesmo que família. Com mais de quarenta anos de idade, descobriu-se em prazeres que o marido nunca lhe soube proporcionar, na pressa de alcançar o seu próprio. Descobriu o afecto. O encanto. O cuidado. Este homem está disposto a tudo por ela, tudo. Excepto esperar para sempre.

A vida não pára. Não decidir é uma decisão também, e não há decisões sem consequências. Ela sabe. Sabe que se sair por aquela porta terá todo o seu mundo a apontar-lhe o dedo, começando pela mãe, com quem provavelmente não trocará mais nenhuma palavra até ao fim da vida. E também sabe que se ficar onde está, um dia destes não há ninguém à sua espera do lado de fora.

O cão veio cheirá-la, estranhando vê-la imóvel por tanto tempo. Levantou-se, são horas de fazer o jantar. Ouviu o vento lá fora a soprar.

Com a força do vento, o portão da rua não parava de bater.

terça-feira, setembro 13, 2005

Rentrée

É preciso telefonar.
É preciso retomar aquilo que ficou parado à minha espera.
É preciso ir à reunião amanhã.
É preciso atender os telefones que tocam todos ao mesmo tempo.
É preciso concentração e motivação, que as férias já lá vão.

... Era preciso que eu tivesse dormido melhor esta noite...

sábado, setembro 10, 2005

De volta

Acabaram as férias, que foram bem boas. A lanzeira foi tão grande, mas tão grande, que pasmem as almas, venho com vontade de cozinhar! Muito estranho.

E estou com um bronzeado bem jeitoso. Não há dúvida, uns dias à beira-mar fazem mesmo bem à pele...

sexta-feira, setembro 02, 2005

Improbabilidades de 2005

No início deste ano, quem haveria de dizer...

Que o PS conseguia finalmente a maioria absoluta que tanto desejava?
Que chegávamos a Setembro e continuava sem chover?
Que afinal ainda havia floresta em Portugal com fartura para arder durante o Verão?
Que nas próximas eleições autárquias iríamos ter tanta bailarina a dançar à nossa volta?
Que uma coisa chamada Katrina iria deixar New Orleans parecida com a Ásia, depois do Tsunami?
Que o Mário Soares, qual pilha duracell, se iria candidatar outra vez à Presidência da República?
Que eu estaria hoje de malas aviadas, pronta para ir de férias já amanhã?...

Para o melhor e para o pior, não restam dúvidas: este ano de 2005 tem sido assim uma coisa... não sei, improvável...

domingo, agosto 28, 2005

Melhor yogurte: a decisão

Após ponderada reflexão e atenta prova de todos os nomeados, foi decidido ser esta a melhor altura para atribuir os há tanto tempo aguardados vencedores do óscar para melhor yogurte.

E na categoria de yogurte sólido, o óscar vai para:
Bio Activia da Danone - Cremosos (porque são docinhos e fazem bem à barriga)

E na categoria de yogurte líquido, o óscar vai para:
Dan'Up morango/banana (porque são magros e nunca enjoam, mesmo bebendo disto todos os dias)

PS: isto da melhor altura é sobretudo porque é Verão, estou de férias, e basicamente não tenho mais assunto nenhum de jeito para pôr aqui!

quinta-feira, agosto 25, 2005

40 anos de casa, 65 anos de idade

Ora então, dizem hoje as notícias que o Conselho de Ministros aprovou o diploma que alarga para 65 anos a idade da reforma, e para 40 o número de anos em que é suposto a malta andar a “descontar”.

Isto não é coisa que me preocupe por aí além. Prejudicados a sério devem ficar os colegas que iriam atingir agora, ou nos próximos anos, a idade da reforma de acordo com a anterior legislação. Para esses é que isto é tramado, que já estavam a contar com uma coisa e de repente têm que “amargar” com mais não sei quantos anos…

Agora, euzinha, que ando em funções públicas (não sei porquê isto soa–me algo esquisito…) desde 1993, duvido muito que quando chegar à minha altura este diploma ainda esteja a valer. Aposto que daqui a uns anos, para reduzir o número de desempregados, dão a volta ao disco e desatam a antecipar reformas. Com um bocado de sorte, ainda me mandam para casa mais cedo com indemnização e tudo!

Por outro lado, é algo divertido imaginar-me a poucos anos de me reformar. Ora deixa cá ver: 40 anos de casa. Só vou ter isso em 2033, contarei então a provecta idade de 61 anos. Ou seja, ainda me faltarão mais quatro anos para os 65, que só chegarão em 2037. Por mim, tudo bem. Eu tenho é pena das pessoas que vão estar à minha volta a gramar-me, coitaditas.

Vão sofrer tanto. Vou ser tão impossível de aturar. Se isto já hoje em dia é o que é, quanto mais enrezinada pela idade… Pobres das crianças com o seus 25 anitos de idade que nessa altura estejam sob as minhas ordens. Essas recém-chegadas à Função Pública, que estão hoje em dia a saltar de testículo para testículo, à espera que chegue 2008 para nascerem. E pobres dos jovens trintões dessa altura, ansiosos por uma boa oportunidade profissional, que estarão a salivar pela ocupação do meu posto. Raios partam a puta da velha, é o que dirão os meninos e meninas nascidos em 2000, que hoje em dia vestem bibe e frequentam o Jardim de Infância. Enquanto esta Tiranossaurus Rex não se puser a andar, nunca mais vejo este serviço andar cumadeveser!...

terça-feira, agosto 23, 2005

Que gandas broncos!

Já não basta o País estar a arder como está. Andarmos há não sei quantos dias a levar com telejornais inteiros só a mostrar os incêndios todos.

Nota: e eu não sou das que pensam que as televisões devem omitir as imagens dos incêndios, atenção. Acho que as televisões têm que estar lá, e mostrar, e falar do assunto até à exaustão, porque se eles não mostram então é que isto tudo passa mesmo como se não fosse nada. Agora, já estou um bocado farta daquela pornografia jornalística de constantemente se mostrarem pessoas em total desespero porque em minutos perderam tudo o que possuem, e vir uma abécula qualquer de micro na mão perguntar "como é que se sente, e agora o que vai fazer?". É criminoso, a meu ver, e devia ser punido.

Continuando. Já não basta chegarmos à conclusão que, sejam eles cor-de-laranja, cor-de-rosa, azul e amarelo ou cor-de-burro-quando-foge, a incapacidade dos governantes pegarem nos problemas a sério e resolvê-los, é, para mal de todos nós, o denominador comum.

Já não basta isto tudo. E hoje, para comprovar que os Portugueses são uns tristes, a SIC, a propósito dos incêndios, considerou como notícia interessante para incluir no Jornal da Noite, a colaboração que prestaram à Sky News, e mostraram imagens do directo (!) que um jornalista da SIC fez, a falar Inglês (que lindo, ahhh....) para a dita estação televisiva... Tipo, vejam como somos bons, entrámos em directo para a Sky News...

Dir-me-ão, com tantos problemas sérios neste âmbito, este assunto é um fait divers (sim, eu também sou muito culta e evoluída, sei falar Francês, e Inglês também). Com certeza. Mas isto dá conta, a meu ver, da pequenez de espírito que continua a caracterizar os Portugueses. Torna evidente como somos totalmente incapazes de cuidar do que é nosso. E como perdemos tempo precioso da nossa vida a espreitar por cima do ombro, a ver como os outros são bons, a invejá-los, e a ficarmos muito preocupadinhos com o que pensam a nosso respeito.

Não temos o mínimo apreço por aquilo que somos, quanto mais por aquilo que temos. À nossa volta está tudo a arder, mas ao menos somos uma notícia de relevo internacional. Esta canção do Sérgio Godinho vem bem a propósito disto... Que gandas broncos!...

domingo, agosto 21, 2005

O que eu gosto do campo...

É uma maravilha, a sério. Tirando o calor. E o pó. E as moscas.

Mas de tudo de tudo, aquilo que eu mais gosto do campo, é do banho de imersão que acontece assim que me apanho em casa. Eh pá, essa parte do campo é que eu curto!!

sexta-feira, agosto 19, 2005

Só mais dois dias úteis

E fico de férias. Vem a carneirada toda trabalhar e lá vou eu. Só mais dois dias, que o de hoje já não conta. Já nem dá para pensar noutra coisa.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Silly Season 2

Minhas senhoras e meus senhores, neste que é provavelmente o assunto mais importante alguma vez tratado neste mísero blog, iremos em breve atribuir o ÓSCAR PARA O MELHOR YOGURTE.

E na categoria de yogurte sólido, os nomeados são:
Bio Activia da Danone - Cereais
Bio Activia da Danone - Cremosos (morango, pêra, maçã reineta, manga, todos)
Magro da Yoplait Fruta e Fibras - ananás, maçã e cenoura
Sveltesse - Pedaços de maçã e kiwi
Yogurte batido com pedaços de morango do Pingo Doce

Na categoria de yogurte líquido, os nomeados são:
Dan'Up morango/framboesa
Mimosa Frutos & Cerais - maçã, laranja, alperce e cereais
Dan'Up morango/banana
Cremoso da Adagio com pedacinhos de morango
Corpos Danone - Aloe Vera

O júri vai agora analisar e brevemente serão atribuídos os óscares!...

quarta-feira, agosto 17, 2005

Haja paciência!...

Estes pseudo-artistas, mais as exigências do raio que os parta, têm a excentricidade das manias inversamente proporcionais ao talento, digo eu, que ninguém me perguntou nada...

E depois ainda há aqueles que precisavam mesmo era de estarem internados. Uma criatura que se entretém a destruir comida da forma como é descrito, isso sim deixa-me chocada. E eu nem sei o que é pior... Se é tal pessoa fazer aquelas coisas, se é os outros à volta aceitarem tanta demência sem se revoltarem nem fazerem nada. Tipo, abaná-lo e dar-lhe um estalo, ou arranjar-lhe uma mãe que lhe dê amor, ou simplesmente alguém para se rir a bom rir daquele boneco ridículo. Agora, dar-lhe comida para ele se entreter a pisar, tenham paciência!...

"Quem é mais louco? O louco ou aquele que o segue?..."

terça-feira, agosto 16, 2005

Mas quem é que me manda a mim...

... Ir comer porcarias?...

Eu já sei que não posso. Que me faz mal. Mas lá uma vez em cada dois anos cometo o erro crasso de entrar num MacDonalds. Ah e tal, que eles agora têm isto e aquilo, que já não é bem o mesmo...

Pois, pois. Quando saí de lá pensei que só tinha apanhado uma barrigada de fome. Mas antes estivesse já com fome. Estou aqui com uma náusea de tal ordem que se passar hoje o dia sem me vomitar toda já estou eu com sorte.

É bem feita. Um dia destes, pode ser que aprenda. Ah, e fica o aviso: os PitMac têm um molho duvidoso tipo "bomba", que deixa o estômago às voltas. Meu rico dinheiro.

sábado, agosto 13, 2005

Somos todos cegos que vêem

Ontem fui ver “Ensaio sobre a Cegueira”, uma adaptação para teatro do romance do Saramago, com o mesmo nome. Este valente desafio foi agarrado pelo Teatro O Bando, e está em cena no Teatro da Trindade até 18 de Setembro.

Para os poucos incautos que ainda não tenham percebido, aqui a dona deste estabelecimento é uma grande admiradora de (leia-se: tem uma grande panca por) José Saramago. No caso concreto deste romance, Ensaio sobre a Cegueira (que apenas tive coragem para ler duas vezes), considero ser um dos textos mais geniais do nosso Nobel. Genial sim, mas também um dos mais inquietantes, mais angustiantes, mais complexos, e diria eu, mais impossíveis de adaptar para Teatro.

Fui então ver a peça, munida do meu pessimismo céptico, ou em alternativa, do meu cepticismo pessimista. E estive para não ir. Pensava eu, se aquilo tentar ser fiel ao texto vai ser uma porcaria, se aquilo não for fiel ao texto vai ser uma banhada sem jeito nenhum. Ainda por cima, tinha visto há pouco tempo em DVD a decepcionante adaptação para cinema de A Jangada de Pedra, de moldes que já tinha os pés todos atrás que tinha para ter…

… E fiquei tão esmagada pela peça quanto fiquei já pelo livro. Que enorme coragem teve aquele grupo de pessoas para montar um espectáculo assim! Conseguiram reproduzir toda a história na íntegra, com momentos tão brutais quantos os do próprio livro em si. Quem sabe se até mais brutais ainda, porque ali estamos perante todo o espectáculo da miséria humana ao vivo e a cores, com imagens, sons e cheiros. E o espaço cénico, meus amigos, é extraordinário!

Da parte de mais esta cega que vê, aqui fica a minha humilde vénia para todos os elementos d’“O Bando”, que para além de terem concebido e montado o espectáculo, ainda lhes sobra força anímica para o levar à cena todos os dias. Olhem que é preciso terem uns tomates muito rijos e muito pretos.

Ah! Escusado será dizer que o meu pessimismo e cepticismo saíram do Teatro ontem com o rabo entre as pernas, mudos e quietos, e ainda hoje não abriram a boca. Estão pr’áli enfiados no canto mais escuro da casa, com uma grande crise de amuo. Tadinhos.

sexta-feira, agosto 12, 2005

É deprimente

O maior dá hoje destaque a este artigo. Mesmo correndo o risco de ser redundante, aqui fica ele destacado também neste humilde barraco.

Li isto e fiquei deprimida. Não só pelo tema em si, que já dá motivo de sobra para esse efeito. Também por causa deste malvado modo de ser português (e contra mim falo), que se dá ao luxo de saber sempre tudo o que está mal, conhecer os esquemas todos, e por sistema encolher os ombros e optar pela inércia.

Ao menos que se vá denunciando. Sempre se pode optar por ser incómodo e maçador, qual moscardo zumbindo aos ouvidos do gigante adormecido...

quinta-feira, agosto 11, 2005

Duas mulheres e um carro sem gasóleo

- Xô Dona Blimunda, preciso que vá comigo a Lisboa...

(fazendo vénia até ao chão):
- Com certeza, xô Dona Doutora Assessora, Excelentíssima e coiso! Vou imediatamente buscar uma viatura que nos carregue a ambas as duas por estes caminhos fora até ao destino!

(raios partam esta m..., era só o que me faltava, já não bastava o calor, agora ainda tenho que aturar isto, ainda por cima não gosto nada de conduzir em Lisboa, que sou uma valente azelha sem o menor sentido de orientação...)

(Viatura na mão, aqui vamos nós. Viatura sem gasóleo, logo, paragem na bomba mais próxima para meter. Gasóleo.)

- Ó xô Dona Blimunda, então estamos há vinte minutos paradas na bomba porquê? Assim nunca mais chegamos a Lisboa, e eu sou uma mulher ocupadíssima, não posso estar aqui assim!

- Pois... A xô Dona Doutora e etecetera vai-me desculpar a minha incompetência e incapacidade de corresponder às suas expectativas, mas eu para meter gasóleo tenho que abrir a portinhola lá de fora que permite enfiar a coisa no coiso, e eu até sei que aqui por dentro deve haver um botão que faz isso, só que como sou muito burra não estou a dar com ele, por acaso a xô Dona Doutora na sua incomensurável sabedoria não saberá onde é que está o botãozinho?... Também não?... Pois, realmente, é uma chatice, mas olhe que o botão deve estar mesmo aqui por perto, de certeza...

(mas onde é que se meteu o &%?!$# do botão, que &%?!$#! Estou capaz de "#$%& esta ?/&%$# toda, o meu carro tem o botão mesmo aqui... MAS PORQUE É QUE NÃO FAZEM OS CARROS TODOS IGUAIS? MAS PORQUE É QUE O COLEGA QUE COSTUMA ABASTECER OS CARROS DE SERVIÇO E FAZER AS VEZES DE MOTORISTA FOI DE FÉRIAS? ONDE É QUE ESTÁ O C&%$#"& DO BOTÃO?)

- Ah! Achei o botão! Estava mesmo aqui, do lado oposto àquele onde eu estava a procurar...

(cinco minutos depois da meia hora que demorou a encontrar o botão que abriu o depósito do gasóleo)

- Já podemos ir, xô Dona Doutora. Eu vou é com um ligeiro pivete a gasóleo, que o manípulo quando eu peguei nele, foi com um bocadito de força a mais, eh eh eh, já estava um bocadito enervada e tal com isto do botão, e o coiso de meter gasóleo tinha um bocadito de combustível residual que saiu disparado, eu ainda me desviei, mas um braço e as mãos, foi inevitável, mas não se preocupe, está tudo controlado, agora vai correr tudo bem, na pior das hipóteses quando for a hora de regressar apanhamos uma operação stop...

... o que veio a verificar-se. Ele há dias...

quarta-feira, agosto 10, 2005

segunda-feira, agosto 08, 2005

Corta Mato

- Boa tarde. É para fazer depilação, por favor…
- Com certeza, minha senhora...

(dois erros numa única frase: não sou dela, e também não sou uma senhora. Mas adiante.)

- ... vem para fazer meia-perna, perna inteira?...

(mais outro disparate pegado. As pernas, sejam inteiras ou às metades, são minhas e já estão feitas, que diabo!...)

- Ó fáxavor, deixemo-nos de mariquices. É para arrancar pêlo, começando nos tornozelos e terminando junto ao umbigo, sim? Pode ser já?... Óptimo, vamos lá a isto, então...

sexta-feira, agosto 05, 2005

Mais um poema existencialista

Álvaro de Campos:

"Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo -
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ... "

40 graus. Nimed. Zyrtec. Unisedil: sou eu, à espera de melhores dias...

quinta-feira, agosto 04, 2005

40 Graus!

Hoje dão 40 graus de máxima para Lisboa. E amanhã outros 40. Ora, isto é coisa para me derreter os já poucos neurónios que ainda teimam em habitar o meu cérebro tresloucado.

Detesto estes calores disparatados. Fico capaz de emigrar para qualquer sítio do mundo, desde que por lá esteja frio. Quantos dias é que teremos que aturar isto desta vez? Hein?...

quarta-feira, agosto 03, 2005

Cântico Negro

"«Vem por aqui» --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí."

José Régio, Poemas de Deus e do Diabo

segunda-feira, agosto 01, 2005

sábado, julho 30, 2005

A fénix

A mim sempre me pareceu que há algumas semelhanças entre a fénix que eternamente renasce das próprias cinzas e o dogma católico da ressurreição, a meu ver erradamente considerado como acontecimento histórico, quando deveria talvez ser interpretado pelo seu valor simbólico.

Seja como for, exemplos de renascimentos e ressurreições estão sempre a acontecer por este mundo fora, e nas vidas de cada um de nós também. É graças a esse tanto de fénix que todos temos que podemos ver esta maravilha transformar-se nesta outra, e serem ambas verdadeiras, e ambas expressarem aquilo que é.

sexta-feira, julho 29, 2005

8.428.517 punhetas a grilos depois...

... e na perspectiva desta semana não chegar para as bater todas, tenho apenas a dizer que:

SÓ ME APETECE SUBIR AOS POSTES E APALPAR O CU ÀS LÂMPADAS!

Arre!...

quinta-feira, julho 28, 2005

Silly Season

Ele há dias, tal como hoje, em que o meu trabalho não tem outra forma de ser caracterizado: tenho aqui que bater uma série de punhetas a grilos...

Quando terminar estarei capaz de me sentar em frente à televisão durante horas, com um prato bem grande de bifes com batatas fritas à frente, comendo compulsivamente enquanto vejo telenovelas mexicanas...

Enfim, vidas...

terça-feira, julho 26, 2005

Um dia de chuva

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é."
Alberto Caeiro

segunda-feira, julho 25, 2005

Jesus!

Hoje trouxe para casa um autêntico tesouro. Estou rica, mesmo sem euro milhões.

Comprei os dois primeiros volumes de um conjunto de três, que estes senhores fizeram o favor de traduzir do castelhano, num trabalho que assim à primeira vista me parece ser de bastante qualidade. Finalmente, finalmente!, uma tradução para português de jeito dos Evangelhos Gnósticos! Tenho nas minhas mãos, com o papel a cheirar a novo, O Livro Secreto de João e outros Textos Gnósticos, e também Evangelhos Gnósticos. Autênticas preciosidades como o “Evangelho de Tomé”, “O Evangelho de Maria (Madalena)” e o “Evangelho de Filipe”, entre outros. Eu nem estou em mim de tanta felicidade! Falta-me agora ter acesso ao terceiro volume, A Revelação de Pedro e Outros Textos Gnósticos.

Estes textos nunca integraram o Novo Testamento e desde sempre foram rejeitados pelas correntes ortodoxas do cristianismo. É nos Evangelhos Gnósticos, ou apócrifos, que podemos encontrar histórias desde sempre incómodas para os católicos, tais como esta, retirada do Evangelho de Filipe: “E a companheira do [Salvador é] Maria Madalena. O [Salvador] amava-a mais do que a todos os discípulos e beijava-a frequentemente na [boca].”

Isto contado desta maneira pode parecer um bocado estúpido, mas confesso que quando vi estes livros na prateleira do Jumbo o meu coração deu um salto, exclamei um “ah!” de alegria que se ouviu uns bons metros à volta (algumas pessoas chegaram a olhar-me de maneira esquisita, mas estou-me a borrifar para elas), e a verdade é que, algumas horas passadas, ainda não consegui aquietar-me completamente.

Neste momento, a única coisa que ocupa o meu espírito, para além da urgência de ler isto tudo é: QUERO COMPRAR O TERCEIRO VOLUME JÁ! PORQUE É QUE NÃO ESTAVA AO PÉ DOS OUTROS?! HEIN? ONDE É QUE ESTÁ… O TERCEIRO VOL… PRECISO DO TERC… VOL… URGENT… É UM CASO DE VIDA OU MORT…

… Estas coisas põem-me louca.

sábado, julho 23, 2005

Delícias da vida doméstica

Ora deixa cá ver...

Mexer em carne crua, que cheira, obviamente a carne crua. Tirar peles e gorduras nojentas. Por conta do cheio e do resto, fazer grande esforço de abstracção mental, essencial para impedir os espasmos do estômago, perigosamente indiciadores do vómito.

A seguir, ficar com os olhos a arder enquanto se pica a cebola, para logo depois as mãos ficarem a tresandar com o cheiro a alho.

Passar pelo menos hora e meia de volta de um tacho a ferver, transpirar, transpirar e ver cada vez mais longe a frescura do banho acabado de tomar.

Eis aquilo que está para além da minha capacidade de compreensão: há pessoas que, mesmo passando por isto tudo, continuam... continuam a gostar... gostam de cozinhar! Tss, tss, tss...